sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

“Chasing the Flame”

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“Chasing the Flame” é o livro de Samantha Power sobre a vida e o trabalho de Sérgio Vieira de Mello; uma biografia exaustiva e trabalhada sobre a admirável trajectória do diplomata brasileiro, os cargos que ocupou, a sua envolvente politica, humana e familiar, os seus ideais, as suas preocupações e motivações, as relações humanas, sua mais valia, a sua capacidade negocial e a sedução como arma de combate.

Sérgio Vieira de Mello encarna alguns dos melhores valores que inspiraram a fundação da ONU: alguém que dedicou toda a sua vida a uma causa e a um ideal. Em todas as zonas de conflito em que actuou ao longo dos seus 34 anos de carreira na ONU - Bangladesh, Sudão, Moçambique, Líbano, Ruanda, Kosovo, Timor Leste e Iraque –, Vieira de Mello mostrou a mesma preocupação com a dignidade das vítimas da guerra, do desterro e da fome. Um homem corajoso e lutador que viveu também o dilema da incapacidade e das limitações da ONU e que nos revela a relativa impotência da organização diante das grandes catástrofes humanas da história recente.

Sem autonomia de combate, as forças de paz da ONU são muitas vezes chamadas para missões paliativas, nas quais se limitam a "monitorar" massacres em curso. As determinações do Conselho de Segurança revelam-se frequentemente vagas, porque os países-membros não se querem comprometer com linhas de acção claras. Um exemplo rico de informação sobre esta temática é a sua missão de 1982, ao lado das forças de paz no Líbano – a invasão do país por Israel em desacordo com as resoluções da ONU, constituiu uma dura decepção.

“Chasing the Flame” é um livro fascinante que nos ajuda a perceber melhor alguns dos mais relevantes conflitos internacionais, os bastidores da politica mundial, o jogo de poderes das Nações Unidos e, mais do que isso, a hipocrisia e o cinismo que regem as relações entre os países e entre os povos; ao fim e ao cabo a verdadeira natureza das relações humanas.


Vieira de Mello é também um produto do Maio de 68 (participou nos protestos estudantis e foi gravemente ferido), um rebelde idealista com uma sólida formação de esquerda e com uma matriz claramente francófona, o lado europeu da ONU por oposição ao lado anglosaxónico. Vieira de Mello era um pensador dos tempos modernos, um verdadeiro Indiana Jones da diplomacia, com uma sólida formação filosófica. Tinha um Mestrado e um Doutoramento em Filosofia pela Sorbonne (Doctorat d’état) com o título - “Civitas Maxima: Origins, Foundations, and Philosophical and Practical Significance of the Supranationality”. Nele apresenta-nos a sua própria versão de uma sociedade utópica igualitária e introduz uma teoria afirmativa do universalismo baseado no respeito mútuo entre países.

Samantha Power descreve-nos de forma meticulosa o diplomata e o homem, o filósofo e o operacional, o romântico e o solidário, o utópico e o pragmático, o idealista e o lutador.

Curiosamente, esta americana de origem irlandesa é uma das principais ideólogas da politica externa preconizada pelo actual presidente Obama. Doutorada em Havard, professora de relações internacionais na Kennedy School of Government, directora do Carr Centre for Human Rights Policy, já foi correspondente de guerra e vencedora do Pulitzer com o seu livro - "A Problem from Hell: America and the Age of Genocide" (fala-nos sobre a forma como a América lidou com o genocídio ao longo do século XX, incluindo os massacres do Ruanda, Bósnia e Darfur). Power simboliza a nova forma de abordar a diplomacia americana, representa um certo regresso a um tipo de diplomacia Clinton, que foi tão bem descrita por Hillary como “smart power”.

Enquanto concluía o livro sobre Sérgio, fechada em casa, só interrompia o trabalho quando duas pessoas lhe ligavam: a mãe e Obama ("It"s Obama. Call me"). Em 2004, ficou tão impressionada com ele, que decidiu suspender as suas actividades académicas para ir ajudá-lo no Congresso. Regressou para ajudá-lo na campanha até à infeliz entrevista a um jornal escocês em que se referiu a Hillary Clinton como a “monstra”. Foi expulsa da campanha presidencial, pediu desculpa e ausentou-se durante uns tempos. A opinião unânime era de que Obama não passaria sem a sua ajuda e assim aconteceu. Samantha Power voltou, sorrateiramente, para integrar a equipa de transição de Obama.

Hoje dia 30 de Janeiro, foi nomeada “Senior Director of Multi-lateral Affairs at the National Security Council” ou seja, terá um papel decisivo na formulação da política externa americana nas Nações Unidas, no G-8 e noutros fóruns globais.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

“Ivy Crises”

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A crise financeira que devasta fortunas, desfaz empresas, arruina instituições financeiras, arrasta milhões para o desemprego, leva gestores ao suicídio, famílias ao desespero chegou também às universidades mais prestigiadas do mundo.
:: A Ivy League representa a nata do ensino universitário americano e constitui uma referência de excelência académica, de selectividade, de elitismo e de sucesso. Neste grupo estão oito universidades privadas do nordeste americano, universidades coloniais, universidades ancestrais que constituem a matriz da cultura anglo-saxónica que forma os Estados Unidos da América. A Universidade de Brown, em Providence; a Universidade de Columbia, em Nova Iorque; a Universidade de Cornell, em Ithaca, Nova Iorque; o Dartmouth College, em Hanover, New Hampshire; a Universidade de Harvard, em Cambridge, Massachusetts; a Universidade da Pensilvânia, em Filadélfia; a Universidade de Princeton, em Princeton, New Jersey e a Universidade de Yale, em New Haven, Connecticut.

O termo Ivy League aparece ligado ao desporto e torna-se oficial em 1954, com a criação da NCAA Division, período em que a atenção estava muito focalizada na competição desportiva entre universidades. Segundo o History Dictionary, o nome Ivy League deriva das heras verdes que revestem os prédios históricos dessas instituições, num claro sinal da sua ancestralidade. As universidades da Ivy League são também chamadas "Ancient Eight" ("as oito antigas") ou simplesmente Ivies.

Esta liga de ouro possui e gere legados (endowments) avaliados em biliões de dólares. Harvard está à cabeça e possui, ou melhor possuía o maior legado do mundo, avaliado em $37 biliões de dólares, no início de 2008.

É uma honra e um orgulho poder ostentar no curriculum o nome de Harvard. A possibilidade de aprender com os melhores dos melhores, a oportunidade de conhecer a vanguarda do conhecimento, lidar de perto com alguns dos melhores professores do mundo, trabalhar com alguns dos mais brilhantes estudantes constituem uma oportunidade única acessível a muito poucos.

(Franklin Roosevelt na fotografia)

Harvard, a mais antiga e a mais rica, foi pioneira na criação de um modelo de diversificação de investimentos mais tarde copiado por outras universidades. Enquanto muitos investiam em acções e obrigações, os executivos da Harvard Management C. aplicavam o legado bilionário em florestas, private equity, start-ups e capital de risco. Se, durante vários anos, os níveis de rentabilidade compensaram - 13,8% de rentabilidade anual, ou seja, duas ou três vezes mais do que o mercado de acções; a questão agora é a de saber se este modelo amorteceu ou potenciou os efeitos da crise dos mercados.

Segundo as últimas evidências e os cálculos da Moody's Investors Service (cerca de 30% de perda nos legados de colégios e universidades) isto significaria uma perda de $11 biliões de dólares para Harvard.

Estes dados não são confirmados pela universidade, mas os factos e as práticas apontam para perdas avultadas. O recente email da presidente para professores, alunos, alumni e staff refere explicitamente "unprecedented endowment losses" e revela que a escola procura outras formas de reduzir custos "We have to think not just about what more we might wish to do, but what we might do at a different pace or do without"

Curiosamente, e apesar da necessidade de reduzir custos, mais uma vez num momento de dificuldade regista-se a intenção expressa da universidade em intensificar os programas de ajuda que permitem que as famílias com rendimentos anuais inferiores a $60,000 dólares não paguem nada para enviar os seus filhos para Harvard, se o mérito o justificar.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

“Tears of Joy”

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É com enorme emoção e imensa saudade que acompanho as festividades da cerimónia de inauguração e a tomada de posse do novo presidente. Reconheço os lugares, identifico-me com os ideais, sinto as pessoas, vibro com as imagens. Washington está no meu coração e os Estados Unidos são indiscutivelmente a minha pátria de eleição.

Hoje mais do que nunca, sinto-me americano, partilho a esperança e a emoção que se fazem sentir, comungo da mesma matriz democrática e comovo-me com a mais pura das manifestações de democracia.

O frio gélido que se faz sentir não impediu que mais de dois milhões de pessoas invadissem a cidade para participar nesta magnífica cerimónia, repleta de simbolismo e de personalidade, que envergonha as democracias seculares do velho continente.

Esta é a verdadeira encarnação do espírito dos “Founding Fathers”, esta é a verdadeira encarnação do “american dream” e mostra-nos que no país mais desenvolvido do mundo existe igualdade de direitos e de oportunidades, mostra-nos que a maior democracia funciona e que o direito à liberdade e a recompensa pela mérito e pelo esforço do trabalho são uma realidade. Só assim foi possível, como disse Obama, a um filho de emigrante negro, que há sessenta anos atrás poderia não ser sequer servido num restaurante, ser hoje empossado no cargo de Presidente dos Estados Unidos da América.

Um discurso de transformação e não de transição, um discurso de força e de convicção e não de conforto, um discurso de ambição e não de acomodação. Este “Inaugural Adress” representa o inicio de uma nova era, a chegada ao poder de uma nova geração. Deixo-vos algumas das mais marcantes passagens deste discurso:

“The words have been spoken during rising tides of prosperity and the still waters of peace. Yet, every so often the oath is taken amidst gathering clouds and raging storms. At these moments, America has carried on not simply because of the skill or vision of those in high office, but because We the People have remained faithful to the ideals of our forbearers, and true to our founding documents.”

“Today I say to you that the challenges we face are real, they are serious and they are many. They will not be met easily or in a short span of time. But know this America: They will be met.”

“In reaffirming the greatness of our nation, we understand that greatness is never a given. It must be earned. Our journey has never been one of shortcuts or settling for less.”

“Now, there are some who question the scale of our ambitions, who suggest that our system cannot tolerate too many big plans. Their memories are short, for they have forgotten what this country has already done, what free men and women can achieve when imagination is joined to common purpose and necessity to courage.”

“Nor is the question before us whether the market is a force for good or ill. Its power to generate wealth and expand freedom is unmatched.”

“This is the meaning of our liberty and our creed, why men and women and children of every race and every faith can join in celebration across this magnificent mall. And why a man whose father less than 60 years ago might not have been served at a local restaurant can now stand before you to take a most sacred oath.”

“America, in the face of our common dangers, in this winter of our hardship, let us remember these timeless words; with hope and virtue, let us brave once more the icy currents, and endure what storms may come; let it be said by our children's children that when we were tested we refused to let this journey end, that we did not turn back nor did we falter; and with eyes fixed on the horizon and God's grace upon us, we carried forth that great gift of freedom and delivered it safely to future generations.”