sábado, 13 de junho de 2009

As Janelas de Central Park

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O escritor e jornalista norte americano E.B. White escreveu um dia que “existem três 'Nova Yorkes'. A primeira é a do homem ou mulher que nasceu aqui, que não lhe dá o valor que ela merece, e que aceita o seu tamanho e a sua turbulência como algo natural e inevitável. A segunda é a de quem vem aqui diariamente para trabalhar - a cidade que é devorada por gafanhotos a cada dia e cuspida a cada noite. A terceira é a das pessoas que nasceram em algum outro lugar e vieram para cá em busca de algo. Destas três vibrantes cidades, a última é a melhor - a cidade do destino final, a cidade como objectivo".
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Não me incluo, por força do destino, em nenhum dos grupos anteriores, mas esta certeza não me impede de pertencer ao grupo dos que se apaixonaram pela cidade e que a visitam com regularidade. Neste grupo se incluem todos os que, mesmo longe, vibram com ela e com as suas mutações. Os fascinados pela diversidade, os curiosos compulsivos, os viciados em desafios, os que sonham pertencer-lhe e os apaixonados pela novidade. Cidade de viajantes e aventureiros, de comerciantes e vendedores, de polícias e de bandidos, de bombeiros e de terroristas, de italianos e de chineses, de escroques e de malfeitores, cidade de chulos e de executivos.

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Escrever sobre Nova York é como redigir uma carta de amor, escreveu a jornalista brasileira Tania Menai, e como quem ama potencia os valores positivos e menoriza os defeitos e as imperfeições, aqui também seduz a escrita para o que hipnotiza e incendeia.

Central Park, o maior parque urbano do mundo. Os seus 843 hectares de arvoredos, relvados e jardins estendem-se ao longo de Manhatan e transformam-se no centro gravitacional desta maravilhosa cidade. Central Park é o pulmão ecológico desta metrópole poluidora, vem oferecer um pedaço de natureza ao nova iorquino urbano e sedentário. Ajuda a transformar um espaço incaracterístico e uniforme, mais ou menos, encaixotado, mais ou menos cimentado numa míriade de cores e de sons; rios, lagos, pássaros e flores, todos em frutuosa harmonia, em particular os poucos que têm o privilégio de habitar nas suas redondezas.

Este foi o primeiro parque público a ser construído nos Estados Unidos no ano de 1853. Tinha por objectivo embelezar a cidade e criar condições de conforto e de bem estar, em particular, aos mais abastados, habituados que estavam aos passeios de charrete e ao convívio com a natureza, tão característicos dos espaços públicos das principais capitais europeias. Mandado construir numa zona pobre e mal tratada da cidade, habitada por criadores de porcos irlandeses e campónios alemães veio a transformar-se numa das zonas habitacionais mais requintadas e sofisticados do mundo.

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As janelas de Central Park escondem um mundo à parte, uma realidade única de riqueza, poder e opulência, muito para além do que o simples mortal possa imaginar. As janelas esplendorosas em estilo vitoriano ou renascentista, imponentes e sóbrias, altivas e distantes são a face visível da conformidade de gostos requintados, de luxos escondidos, de prazeres incomparáveis.

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Conforme escreveu, em 2000, Joyce Cohen, no New York Times sobre a família Blechman “depois de mais de três décadas a observar o Central Park do quinto andar - leaf level - Moisha Blechman observou a mudança do horizonte. “Começamos bem acima da copa das árvores, mas as árvores cresceram. O aspecto inteiro do parque mudou. Conforme as árvores apagaram o horizonte original, também os arranha-céus subiram bem acima delas criando um novo horizonte muito para além do que elas seriam capazes de alcançar".
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quinta-feira, 11 de junho de 2009

Portugal e a Urgência da Mudança

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Depois de passar os últimos dois dias com o Professor Marty Linsky e a sua equipa directa. Depois de conviver, partilhar conhecimentos e experiências com um conjunto extremamente heterogéneo de pessoas das mais variadas proveniências e com as mais diversas formações, sinto como é cada vez maior a nossa urgência enquanto país e povo numa liderança adaptativa por oposição à liderança técnica a que estamos habituados.

Marty Linsky é seguramente uma das maiores autoridades mundiais, em termos de organização e liderança e o seu último livro com Alexander Grashow e Ronald Heifetz é disso um bom exemplo. “The Practice of Adaptive Leadership” representa a aplicação prática e a operacionalização do conceito, das metodologias e ferramentas por eles desenvolvidas, de liderança adaptativa versus liderança técnica. A utilização de casos reais e realidades concretas é extremamente útil para a compreensão destes conceitos em termos sociais, empresariais e políticos. Marty Linsky através do seu blog Linsky on Leadership, procura aplicar à realidade presente, em particular à situação política, uma análise de liderança e de comportamento e a partir daí tira conclusões interessantes e que nos fazem pensar.

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A crise que se instalou e teima em continuar arrasta-nos para uma situação com contornos absolutamente imprevisíveis e tendencialmente catastróficos. Mas, infelizmente, enquanto a economia americana vive momentos de asfixia, a nossa economia esboroa-se por entre as portas de São Bento. Enquanto a economia americana passa por uma fase de “reset”, a economia nacional prepara-se para entrar em “shutdown”. Enquanto aqui se encerra, despede, renova, contrata e reabre, em Portugal adia-se, subsidia-se, encerra-se, liquida-se e aguarda-se.


Nova York vive dias muito difíceis, são inúmeras as lojas encerradas ou a encerrar, as ruas têm menos turistas, as “grifes” têm menos compradores, os armazéns saldam todos os produtos. Jantei ontem no Oyster Bar, em plena sétima avenida, no coração de Manhatan – Times Square, jantei numa sala vazia, era o único cliente.
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Nova York estremece, a amálgama de raças, cores e credos que aqui habita questiona-se, interroga-se sobre o “american dream”, sobre o crescimento e a opulência a que estavam habituados. Mas toda esta gente acredita no futuro e na recuperação, acredita na capacidade do modelo americano e na força da mudança. Falei com Helly Nahmad, proprietário de uma galeria de arte na quinta avenida, de origem afegã, vive em Nova York há 30 anos e não se recorda de um período tão mau e difícil. Referiu-me convictamente que acredita no novo presidente e na força de renascer que este país encerra. Falei com Amy Hogue, juíza num tribunal superior de Los Angels que me referiu que a comunidade de juízes da California decidiu, por iniciativa própria, reduzir o seu salário em 5% e fechar os tribunais um dia por mês. A situação é de urgência mas as respostas reflectem esta preocupação.
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Portugal, pelo contrário, tem urgência em mudar de comportamentos, em mudar de hábitos, em mudar de práticas, tem urgência em mudar de políticas e de políticos, tem urgência em mudar de postura, em mudar de decisores e de dirigentes. É necessário tomar decisões difíceis, controversas e corajosas, é fundamental exercer uma liderança “provocatória” e consequente, que cause desequilíbrios e desconfortos.
É necessário por exemplo: suspender os investimentos vultuosos em estradas, comboios e aeroportos, demitir o governador do Banco de Portugal, prender uns quantos banqueiros que estão escondidos por trás da lentidão e da ineficiência da justiça, suspender e demitir juízes incompetentes e perigosamente irresponsáveis.

Portugal tem urgência em mudar para que o verso de Sophia - “Este país te mata lentamente” se transforme numa longínqua recordação, na memória de um povo que mudou e que venceu.

domingo, 7 de junho de 2009

Albert Arroyo - 'Mayor of Central Park'

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Albert Arroyo é um porto riquenho de 90 anos, chegado a New York nos anos 30. Naquela altura Alberto era um jovem boxeur que cultivava a boa forma física e para a obter, dedicava boa parte do seu tempo e da sua energia. Segundo afirma, foi o primeiro a fazer “jogging” no Central Park e foi a sua iniciativa original que despoletou a prática da modalidade que hoje atrai tantos milhares.

Alberto deixou de correr há cerca de 10 anos, mas este facto não o impede de passear diariamente no parque. Durante 40 anos percorreu os trilhos deste santuário de beleza natural incrustado no coração de Manhatan. Ficou conhecido, foi agraciado e homenageado, conviveu com muitos habitantes desportistas da cidade, como Jacqueline Kennedy Onassis, com quem corria muitas vezes e que deu o nome ao maior e mais belo lago de Central Park.


Hoje pelas oito da manhã, pude testemunhar como a sua iniciativa teve eco junto dos habitantes de Nova York. Milhares de pessoas corriam dentro e fora do parque, os trilhos e os passeios estavam apinhados, o sol iluminava uma paisagem ainda sonolenta que agora se descobria por debaixo do manto difuso de betão. As ruas em redor do parque encontravam-se fechadas ao trânsito e o aparato policial, normal nesta cidade, era hoje excessivo. Apesar deste ser um dia especial que atraiu corredores e maratonistas a uma corrida de solidariedade para com pessoas portadoras de incapacidade, correr em Central Park constitui um hábito já profundamente enraizado.

Por mais vezes que visite esta cidade, nunca deixo de me impressionar e de me sensibilizar com a sua grandeza. Nova York não pertence aos padrões da normalidade, não se enquadra em nenhuma outra qualificação de cidade, reúne todas as características das grandes metrópoles mas vai mais além, tem o número de habitantes de uma grande urbe mas ultrapassa em cosmopolitismo qualquer outra cidade, agrega muitas facções, grupos e cores, à semelhança das maiores capitais europeias, mas excede largamente em diversidade.


A frescura da manhã atrai os desportistas que se cruzam com as centenas de cães que vivem no “Upper West Side”. Os donos madrugadores, aproveitam a tolerância das 7h às 9h para poderem passear os animais sem trela. É vê-los hilariantes em alegre convívio. Até os cães em Nova York têm uma postura civilizada e graças a eles, donos e cães partilham experiências e convivem alegremente.
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Para além dos cães, seres privilegiados que habitam “duplexs” ostensivos em edifícios monumentais como o Dakota Building ou a Trump Tower, todos com vistas esplendorosas sobre Central Park. Os porteiros são também figuras à parte. Pela manhã circulam junto às entradas majestáticas em busca dos primeiros raios de sol, ajudam os proprietários madrugadores na procura dos “yellow cabs” e entregam os cães solícitos, aos passeadores de cães do costume. Eles parecem ser dos poucos folgados, nestes dias de carestia que aqui se fazem sentir de forma bastante acutilante.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Tiananmen – Nunca Mais

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Completaram-se ontem vinte anos sobre a tragédia histórica de Tiananmen. A Praça da Paz Celestial foi palco de um dos mais violentos ataques contra a liberdade de expressão, a livre opinião e a democracia. Ainda hoje, não é exacto o número de mortos e os valores variam entre 241, número oficial, ou 2600 a 3000, segundo outras estimativas. Os dados e a documentação histórica são reduzidos e os acontecimentos minimizados e quase ignorados.
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Estudantes por um lado, governo e aparelho político por outro confrontaram-se de forma violenta e devastadora. O aparelho comunista e a filosofia social chinesa foram postos em causa por estudantes sonhadores e corajosos. A ortodoxia e a repressão levaram a melhor e as autoridades chinesas puseram fim a um sonho de abertura e de democratização acalentado por uma classe de estudantes, intelectuais e jovens de mentes abertas e espíritos livres.

Movimento nascido no seio da comunidade estudantil, conviveu durante algum tempo com o regime que o aceitou, ou não percebeu a sua verdadeira dimensão e impacto. Nos primeiros tempos de existência, foi inclusive noticiado sem grandes restrições nos meios de informação oficial e o primeiro-ministro Li Peng, um conservador profundo chegou mesmo a receber os representantes dos estudantes. O encontro sucedeu em Pequim, no Grande Palácio do Povo, no dia 18 de Maio.

A partir daí, os acontecimentos sucedem-se e o estado de sítio é declarado dois dias mais tarde; os estudantes radicalizam declarações e atitudes, manifestam-se fervorosamente e em alguns casos com manifesto exagero. Na noite de 3 para 4 Junho, os militares ocupam as avenidas circundantes e a Praça de Tiananmen e dão início a uma chacina sem precedentes.

Procede-se a um bloqueio total de informação e de imagens, os jornalistas são banidos, os acontecimentos silenciados e as atrocidades rasuradas das memórias de todos os que viveram tão atrozes acontecimentos.


A China de hoje poderá não ser muito diferente da China de então. A preocupação de controlar, a necessidade de reprimir, a urgência de esconder, de vedar, de fechar mantém-se. Continua a não existir liberdade de expressão, nem livre opinião. As populações têm todos os seus movimentos controlados e verificados. Mas, curiosamente, o conceito de liberdade é muito flexível e adapta-se com facilidade às diferentes realidades.

Passados vinte anos, a China é hoje uma grande potência económica e uma economia florescente. Adoptou os desígnios mercantilistas e integrou-se nas economias de mercado. Percebeu que esta postura era essencial para sua sobrevivência e conseguiu de forma surpreendente enveredar por um processo de abertura condicionada em que convivem, lado a lado, práticas de mercado livre e uma sociedade fechada, controlada e com liberdade limitada.

Cairo – “A New Beginning”

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O Presidente Obama iniciou Quarta-feira uma viagem de quatro dias pelo Médio Oriente, num esforço inédito de diálogo e de cooperação com o mundo árabe. Foi recebido pelo Rei Abdullah e discursou ontem no Cairo, desceu à cidade e falou na Universidade do Cairo para uma assistência de 3000 pessoas mas com o mundo inteiro a seus pés. Um discurso muito aguardado e cheio de esperança, no início de uma nova era de relacionamento com os Estados Unidos.
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Obama possui uma capacidade inigualável para fazer história e as suas iniciativas, sobretudo em termos de política externa, desde que foi eleito, têm contribuído mais para a melhoria da imagem dos Estados Unidos no mundo, do que qualquer outro presidente até aqui.:

Um discurso extremamente rico, inteligente, dialogante, repleto de menções históricas e apelos à cooperação e à paz. Cativante na oratória, Obama é um sedutor e um hipnotizador de multidões, utiliza com mestria a sua persuasão e transpira boa vontade e seriedade. Actualmente, não são só os Americanos e os ocidentais que depositam uma confiança imensa nas suas iniciativas, é o mundo inteiro a acreditar que é possível mudar, que é possível funcionar de maneira diferente, que é possível começar de novo. Mais do que, tudo Obama veio trazer-nos esta esperança e esta capacidade de voltar a sonhar.



Durante 55 minutos, Obama promoveu a democracia, alertou Israel contra a construção de novos colonatos e admitiu que os Estados Unidos falharam, em particular com a guerra do Iraque. Apelou a um "New Beginning" nas relações entre a América e o mundo islâmico, numa tentativa para romper com uma era de "desconfiança e de discórdia". "Enquanto as nossas relações forem determinadas pelas nossas diferenças, daremos poder aos que espalham o ódio em vez da paz", afirmou Obama.

Obama foi claro e intransigente na questão delicada do conflito israelo-palestiniano. Defendeu a coexistência de dois Estados. Apesar de recordar os laços que unem a América ao Estado Hebraico, Obama não deixou de exigir o fim da construção de novos colonatos. Aos palestinianos pediu para abandonarem a violência e optarem pela união e pela paz.

É curioso ouvir durante o discurso, gritos de "I love you". Algo absolutamente impensável ainda há alguns meses e completamente inesperado face ao espírito de revolta e de ódio que é tão frequente na relação com os Estados Unidos.

As expectativas são incomensuráveis, os receios são imensos e o cepticismo é também mais do que muito. Conforme referia David Axelrod, ainda na Arábia Saudita, não será um só discurso que fará mudar um sentimento tão empedernido e enraizado. Mas devo acrescentar que este discurso constitui um marco decisivo para as relações entre os mundos ocidental e árabe, e a expectativa é que se traduza em acções concretas e a curto prazo, por parte dos Estados Unidos e, mais do que tudo, se traduza numa clara mudança de atitude e de práticas por parte de muçulmanos e de israelitas para que tirem partido de uma oportunidade única de mudança.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Novo Começo para a General Motors

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A administração americana tomou, finalmente, a decisão acertada relativamente à General Motors. A declaração de falência e a invocação do chamado “chapter eleven”.
Desde Outubro do ano passado que a GM agonizava em dívidas, custos e descida acentuada de receitas. Um processo asfixiante que trazia ao de cima responsabilidades antigas, decisões erradas, estratégias erróneas, agora agravadas por uma recessão sem precedentes.
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Na altura, em plena crise do sistema financeiro, quando o Secretário Paulson se desdobrava a apagar fogos, a GM ardia lentamente e a discussão pública de ajuda ou não ajuda levou democratas e republicanos a confrontarem-se, no Congresso, relativamente ao primeiro pacote de ajuda financeira à GM. Os democratas liderados por Obama opuseram-se à declaração de falência temendo as consequências sociais e políticas de mais um desmoronamento. Os republicanos, pelo contrário, eram apologistas de uma decisão radical e opunham-se a mais um pacote de ajudas.

O processo arrastou-se até à nomeação de Obama, e as ajudas acabaram por ser concedidas num acto de desespero para salvar uma empresa já cadáver. Na altura escrevi neste blog, em 18 de Novembro de 2008, que a declaração de falência, apesar dos riscos elevadíssimos que comportava, podia constituir uma solução radical para corrigir uma situação de clara ineficiência de mercado. O tempo veio dar razão aos defensores do “chapter 11”, entre os quais os republicanos, esta constitui portanto, mais uma vitória republicana na era Obama.

A General Motors foi a maior empresa industrial de sempre com activos avaliados em 82,9 mil milhões de dólares e durante 77 anos ocupou o primeiro lugar enquanto maior fabricante automóvel mundial.

A situação insustentável a que se chegou, nos últimos meses, obrigou a esta difícil decisão, com efeitos imprevisíveis. O governo americano deverá ficar com 60% do capital, depois de converter a maioria dos 50 mil milhões de dólares de empréstimos, o Canadá com 12%, um fundo na área da saúde com 17,5% e os actuais obrigacionistas da empresa com 10%. Iniciar-se-á um profundo e há muito necessário, processo de reestruturação que implicará o fecho de 11 fábricas, a inactivação de mais três e um sem número de desempregados, ao mesmo tempo que a nova empresa se vai empenhar no fabrico de um novo modelo de carro mais pequeno, mais eficiente e mais competitivo. Um dos objectivos é criar uma GM mais pequena e com menos marcas, capaz de competir com empresas como a Toyota.

A intervenção do governo americano na GM constitui a terceira maior da história dos Estados Unidos e a maior de sempre num processo de falência de uma empresa, depois da Lehman Brothers e da WorldCom. Este representa também o segundo maior pacote de ajuda, depois do apoio à AIG.

Curiosamente, a administração americana prevê que o processo judicial para criar a nova empresa dure entre 60 a 90 dias. Simplesmente extraordinário. Um processo de falência de uma empresa com esta dimensão, a criação de uma nova empresa com este impacto e esta importância, em Portugal, com a justiça que temos e a burocracia que cultivamos, nem num período de 10 anos seria possível.

iSketches - Nova York na Ponta dos Dedos

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Há cerca de um mês atrás, Inês Pedrosa, na sua crónica semanal no Semanário Expresso que aqui transcrevi, com o título “Cultura Americana”, falou de passagem sobre Jorge Colombo. “O que eu mais gosto de fazer em Nova Iorque é andar a pé. O meu amigo Jorge Colombo, que mora nela há muitos anos, habituou-me a passear pela cidade como por um imenso e mutante museu.


As ruas de Nova Iorque são um mostruário do mundo e um caudal de inspiração. Acresce que ao lado do Jorge é impossível deixar escapar um qualquer pormenor deste particular universo urbano. Depois dos dailies (retratos de nova-iorquinos sortidos), Colombo faz agora iSketches, desenhos da cidade no iPhone, a pinceladas fortes, com a ponta dos dedos - a inovação foi saudada na comunicação social americana e inglesa e eis que, no auge da crise, Colombo se viu convidado para expor e vender estes trabalhos numa galeria de arte virtual”.
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Português de nascimento, emigrante por vontade, Colombo é mais um daqueles portugueses que alcançam o estrelato depois de deixarem o país.


Pouco tempo depois desta crónica, a sua capacidade artística e o seu poder de inovação vinham à ribalta com o convite da famosa revista “New Yorker”, com quem colabora desde 1994, para desenhar a capa da próxima edição. Para tal utilizou uma técnica inovadora, em que se tornou especialista, uma aplicação do telemóvel em que o visor se transforma numa tela e o pincel é o dedo do utilizador. O resultado são imagens digitais que se assemelham por vezes a uma pintura impressionista. Para a capa da "New Yorker", desenhou uma paisagem urbana enquanto esperava para entrar no museu Madame Tussaud, em Times Square.


Nascido em Lisboa em 1963, Jorge Colombo vive há vinte anos nos Estados Unidos, desde 1998 em Nova Iorque e a cidade tem sido o cenário eleito para dezenas de fotografias e desenhos em aguarela, centrados em cidadãos anónimos, transeuntes, com quem se cruza naquela cidade.

Foi ainda co-autor do romance fotográfico "Do grande e do pequeno amor" precisamente com Inês Pedrosa. Romance fotográfico, metade texto e metade fotografia, conta a história de um casal que se separa de vez, para voltar a reunir-se, a separar-se, a reunir-se ...

Deixo a seguinte passagem “Ninguém precisa de ninguém para o exercício do sexo - do que todos precisamos é do amor dos outros. O amor pequeno, parcelar, da ternura e da vaidade; e o amor grande, que se nos entranha como um órgão imaterial e nos faz respirar por toda a vida.”