Ninguém melhor do que Torga para retratar o Outono. O poeta das serras transmontanas, aquele que vê o que os outros não alcançam, o poeta do mundo rural, das forças telúricas, ancestrais, o apanhador de café, o vaqueiro, o caçador de cobras. Torga conhece a natureza como ninguém, fala com os “Bichos” veste-lhes a pele, estende a mão e toca o céu, numa simbiose de paixão e poesia, imaginação e genialidade.
"OUTONO"
Por não sei que pintor.
Nunca vi tanta cor
Tão colorida!
Se é de morte ou de vida,
Não é comigo.
Eu, simplesmente, digo
Que há tanta fantasia
Neste dia,
Que o mundo me parece
Vestido por ciganas adivinhas,
E que gosto de o ver, e me apetece
Ter folhas, como as vinhas.
"FOLHINHA"
Murchou a flor aberta ao sol do tempo.
Assim tinha que ser, neste renovo
Quotidiano.
Outro ano,
Outra flor,
Outro perfume.
O gume
Do cansaço
Vai ceifando,
E o braço
Doutro sonho
Semeando.
É essa a eternidade:
A permanente rendição da vida.
Outro ano,
Outra flor,
Outro perfume,
E o lume
De não sei que ilusão a arder no cume
De não sei que expressão nunca atingida.
Os Deuses pintaram a cidade de amarelo torrado, amarelo escuro, amarelo claro, castanho, bege, vermelho escuro. O Outono chegou com a sua paleta de cores pastel, trouxe os dias mais pequenos, o sol fugidio e prepara-nos para o Inverno.
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As folhas começam a cair e cobrem o chão dos parques e das ruas em tapetes coloridos. Os carvalhos que aqui abundam pintam-se de vermelho, a clorofila desaparece e os pigmentos vermelhos ocupam o seu lugar. O céu perdeu aquele azul alaranjado e vestiu-se de cinzento trazendo a neblina baça da manhã.
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A vida continua nesta cidade que não para. Aqui todos começam cedo, pelas seis da manhã já as ruas se agigantam, as estradas fervilham de “commuters”, o metro abre as suas portas a secretárias, executivos, funcionários públicos, canalizadores e operários. Todos se precipitam civilizadamente para mais um dia de oito horas. Muitos percorrem dezenas de quilómetros pela noite escura, viajam horas em “car pool” na ânsia de terminar um dia que ainda não começou para poderem regressar às suas casas nos arredores, onde encontram a qualidade de vida, o sossego, a privacidade que não têm na cidade. Washington é uma metrópole de passagem, vive durante o dia e mirra durante a noite. Multiplicam-se os escritórios vazios e os imponentes departamentos de estado, os museus e os monumentos fantasma.
O centro histórico da cidade encontra-se preservado e transmite uma atmosfera dos primórdios da nação. A Captain’s Row, por exemplo, preserva intacta o macadame que separa as casas históricas, muitas delas pertença de capitães de navios do século XVIII.
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A rua principal, King Street, estende-se desde o monumento maçonico que homenageia George Washington, até ao porto e fervilha de comércio e cultura, museus, teatros e um sem número de galerias.
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A antiga Torpedo Factory é hoje um magnifico centro de arte numa manifestação de promoção de artistas, de divulgação da cultura e de gosto pelas artes. Esta fabrica começou a ser construída a 12 de Novembro de 1918, ironicamente o Dia do Armistício. Viria a tornar-se na U.S. Naval Torpedo Station e nela foram construídos os torpedos Mark XIV, para submarinos e o torpedo de aeronave Mark III que muito participaram na II Guerra Mundial.
Em 1969, a Cidade de Alexandria comprou o complexo de edifícios ao Governo Federal e só em 1974 o trabalho começou, graças ao projecto para criar um espaço para artistas, proposto por Marian Van Landingham que era Presidente da Art League. Hoje o Centro de Arte alberga mais de 160 profissionais que trabalham, expõem e vendem as suas obras. Em conjunto com mais de 1000 membros e 2000 estudantes a Torpedo Factory Art Center reune artistas de todo o mundo.
Impressionou-me a abundância de pintores e a proximidade da criação, os ateliers estão abertos e qualquer um pode assistir ao nascimento de uma obra. Público e artistas, leigos e especialistas num convívio pelo amor à arte.
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