segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O Dilema do Eleitor Americano

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(Deixo aqui o meu artigo publicado hoje no Diário Económico)
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O sistema politico dos Estados Unidos pregou uma partida a uma grande maioria dos tradicionais eleitores americanos, inclusivamente, aos mais liberais.

Neste momento, é um dado aquirido que o próximo presidente da nação mais poderosa e influente do mundo poderá ser um negro ou a próxima vice-presidente poderá ser uma mulher. Os americanos foram, portanto, conduzidos de forma deliberada, ou não, para uma situação em que têm, necessariamente, de decidir entre duas minorias, até aqui bastante mal tratadas.

Ainda há cerca de 30 anos, em muitos estados americanos o racismo assumia proporções assassinas, com as perseguições do Ku Klux Klan. Em 1948, Margaret Chase Smith era a primeira mulher republicana a ser eleita para o Senado, e actualmente temos apenas dezasseis senadoras em cem. Hoje, podemos ter uma mulher na vice-presidência ou um negro na presidência e isto representa, sem dúvida, uma evolução democrática relevante. Receio, infelizmente, que possa representar, também, uma deriva populista e eleitoralista destinada a perpetuar o poder dos republicanos ou a recuperá-lo pelos democratas.

Barack Obama representa, indiscutivelmente, um fenómeno de popularidade, um hipnotizador de multidões, quase um prestigitador de sermões solenes, empenhado na pesca de homens. Enquanto tal, torna o impossível possível nos seus discursos, que, à partida, impressionam frequentemente o ouvinte, mas que, após uma análise mais aturada, revelam alguma plasticidade, por vezes inconsistência e até inconsequência.
A sua formação liberal da escola de Chicago, a sua passagem por Harvard, ajudam, de forma significativa, à sua roupagem de compentência, à sua imagem de rigor e de eficiência, e em conjunto com a sua reconhecida capacidade de decisão tornam-no quase imbatível. Na realidade Abner Mikva, antigo juiz federal e seu mentor, refere que “He doesn't come to you for advice - what should I do? He comes to you with an idea and asks you to critique it”.

No lado republicano, Sara Palin, uma mulher bonita, determinada, dona de casa e mãe de familia, sem experiência relevante, sem curriculum consistente ou conhecido, presidente de câmara, politica local, arredada dos areópagos de decisão de Washington, das elites intelectuais republicanas, profudamente desconhecida e desconhecedora da política internacional, representa uma surpresa, nesta fase, mais negativa do que positiva. Para todos os efeitos, ela poderá ser a presidente dos Estados Unidos, uma vez que McCain, se for eleito, será o mais velho presidente. Estou convencido que a sua escolha vai ser determinante para a decisão final.

O seu primeiro discurso, no congresso republicano, foi eficaz, bem construido, determinado, cativante e conseguiu empolgar os congressistas, mas foi vazio de contéudo, não aflorou os temas relevantes para os americanos e para o mundo; quais as politicas de saúde e de educação, qual a posição em termos de relações internacionais, qual a politica de segurança e em que medida ela difere da seguida até aqui por George w. Bush.
Infelizmente, temos a sensação de que a qualidade, a preparação, o conhecimento, a experiência e a competência foram secundados pelo eleitoralismo e pelo populismo. A necessidade de captar votos é de tal forma arrebatadora, que se sobrepõe a tudo o resto.

A avaliar pelo espírito que se sente e vive aqui em Washington, ao deambular pelas ruas, ao falar com as pessoas, ao ler os jornais, nas lojas, no metro, a vitória democrata está garantida. E, possivelmente, seria a melhor solução para a Europa e para o mundo e até talvez para a America. Pena é que, apesar de ser a capital, Washington não tenha voto na matéria.

No final, o dilema dos eleitores americanos será a escolha entre um negro suportado por um “pittbull” ou um republicano, da ala mais conservadora, suportado por uma “hockey mum”. É tudo uma questão de cor e de “lipstick”.
Washington DC, 5 de Setembro de 2008

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