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(Deixo aqui o meu artigo sobre liderança que foi publicado hoje no Diário Económico)
Vivemos hoje um ambiente de profunda incerteza e de grande turbulência, quer ao nível das empresas, quer ao nível das famílias. Deparamos com importantes desafios, cuja resolução ou esclarecimento são fundamentais para que nos possamos manter na nossa zona de conforto.
Estas exigências potenciam a necessidade de uma liderança forte, competente e criativa, mas não só, obrigam a uma adaptação, à necessidade de gerir mudanças constantes e profundas, à alteração de valores e de hábitos, ao desenvolvimento de novas estratégias e à aprendizagem de novas formas de operar.
O Professor Marty Linsky, da Universidade de Harvard, autoridade em questões de liderança, esteve recentemente em Portugal para leccionar o primeiro curso de “Leadership for the 21st Century”. Segundo ele, “adaptive leadership” ou liderança adaptativa constitui um conjunto de estratégias e de práticas que podem ajudar as organizações e as pessoas que as integram a ultrapassar congestionamentos, a implementar mudanças profundas e dolorosas, a desenvolver a capacidade de adaptação aos desafios e à concorrência. Acima de tudo, liderança adaptativa não é um termo familiar, habituados que estamos aos aspectos positivos da liderança; constitui ao invés o lado negro da mesma, trata da perda, realça os perigos e as dificuldades da liderança.
Estes problemas não podem ser resolvidos por especialistas, uma vez que a solução está nas pessoas que têm de abdicar de vícios instalados e regalias adquiridas aprendendo outras formas de trabalho. Neste sentido, o processo de mudança é fracturante, provoca desequilíbrios, desconfortos e uma profunda agitação nas organizações. São estes, aliás, os chamados desafios adaptativos; indistintos, vagos e difíceis de identificar.
Um dos aspectos relevantes desta forma de liderança é a sua capacidade para distinguir desafios adaptativos e problemas técnicos. Na realidade, a assumpção de um conceito por outro, ou a sua pura indistinção, constitui uma falácia muito frequente e facilita àqueles que têm autoridade aplicar o que melhor sabem indo ao encontro das expectativas dos seus superiores, atenuando os seus temores e permitindo que a organização sossegue debaixo da ilusão de que os problemas desaparecerão.
O episódio recente que opôs governo e camionistas, e a forma como foi resolvido, constitui um excelente exemplo da falácia adaptativa. Estamos a falar de um sector profundamente disperso, onde 70% das empresas trabalham com menos de cinco camiões, que padece de importantes problemas de escala, concorrência feroz, peso excessivo dos combustíveis e margens esmagadas; o que perfaz um cenário negro que vai obrigar a mudanças radicais e dolorosas.
Medidas como as de subsidiar portagens, reduzir o IRC destas empresas e congelar o ISP constituem formas de tratar o problema sob um ponto de vista técnico, paliativos que adiam uma situação de ruptura inevitável. Pelo contrário, medidas como as de subsidiar o abate de camiões e incentivar a encontrar novas áreas para trabalhar são positivas mas escassas. Uma abordagem adaptativa obrigaria a enfrentar problemas como a necessidade de encerrar muitas empresas, encontrar outras ocupações para as pessoas, promover a associação de empresas obrigando muitos proprietários a deixarem de o ser, lançar programas de formação e incentivar o empreendorismo noutros sectores, avaliar a introdução de barreiras à entrada, em resumo, promover uma profunda reestruturação.
É frequente as organizações e os governos caírem neste erro, é mais fácil, é mais confortável e funciona como analgésico e não como antibiótico para os problemas que se vão colocando. Lidar com desafios adaptativos, enfrentar dificuldades de forma a acelerar o ritmo da mudança, utilizar o conflito como catalisador da mesma (utilizar o conflito é fundamental à mudança) são em resumo, as tarefas de uma liderança adaptativa.
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