É para mim um privilégio estar em Washington DC durante umas eleições para a Presidência. A juntar a isto, estar nos Estados Unidos durante a pior crise económica desde a grande depressão de 1929 é, sem dúvida, uma coincidência feliz. Efectivamente, para melhor compreender a realidade e o efeito de tão chocantes e devastadores acontecimentos, como os que se passaram nos últimos dias, nada como estar e vivê-los no local.
A situação económica americana é muito delicada e isto sente-se no dia a dia, nas empresas e sobretudo falando com as pessoas. O aumento da instabilidade, a falta de tranquilidade e a insegurança nas empresas deixam todos muito apreensivos. É notória a situação no mercado imobiliário onde se regista um nível de oferta bastante superior ao da procura. A actividade económica tem abrandado de forma significativa, o consumo tem caído, e apesar da desvalorização continuada do dólar a economia não consegue descolar.
Os acontecimentos mais recentes parecem vir a dar razão às teorias Keynesianas e decretam, pelo menos por enquanto, o coma do neoliberalismo da Escola de Chicago. Esta crise actual pode bem resultar no ressurgimento do New Deal de Roosevelt, quando no rescaldo da crise de 1929 o estado teve de intervir para tentar reverter a depressão e a crise social.
Em 1936 Keynes pu
blicou a sua obra magna "The General Theory of Employment, Interest and Money" que veio a dar o suporte teórico a esse tipo de intervenção governamental na economia, a qual já vinha sendo adoptada, intuitivamente, uns poucos anos antes da publicação do livro de Keynes.O tema dominante nos jornais de hoje é precisamente a articulação entre politica e economia e a forma como as decisões mais recentes têm suscitado enorme controvérsia. O secretário Paulson e o responsável pelo FED, Bernanke tomaram a liderança dos acontecimentos, à revelia do Congresso e do próprio Presidente Bush, o que também não é difícil. A questão pertinente é precisamente a injecção de dinheiro por parte do FED, iniciada em Março passado com a ajuda à Bear Stearns e agora o balão de oxigénio para a AIG e a Fannie Mae e Freddie Mac.
O Capitólio aguarda explicações que justifiquem a intervenção relevante do estado na economia e sobretudo a assombrosa injecção de dinheiro, dos contribuintes, para salvar empresas privadas que seriam incapazes de fazer o mesmo por eles.
São várias as vozes que se opõem a estas medidas, “Just how long can the poor beleaguered taxpayer be expected to bear all the losses and bear all the risk?” referia ontem o republicano Jeb Hensarling. O clima politico tem-se vindo a agitar perante tais acontecimentos, a ausência propositada do Presidente é um sintoma disto.
A polémica está iniciada, ainda para mais numa fase crucial do período eleitoral, situação que poderá vir a beneficiar Barack Obama.
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