quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Regresso a Portugal

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Deixei Washington DC no passado dia 1 de Dezembro num voo transatlântico com passagem por Paris. Fica assim para trás, na saudade da memória, um dos mais felizes e preenchidos períodos da minha vida. Fica assim para trás uma das mais interessantes e educativas cidades do mundo, um povo lutador, optimista e positivo. Irei guardar para sempre junto das minhas melhores recordações o muito que aprendi, as amizades que criei, os hábitos que desenvolvi e as imagens que observei.

Ficarei para sempre ligado a esta cidade. Tal como uma vez escreveu Marjorie Williams - “the truth is that many newcomers stay forever, secretly at home in the city everyone loves to hate”.

Deixo-vos algumas das últimas fotografias que consegui. Uma noite fria e vazia numa cidade rica e cativante.

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Estar longe de Portugal um mês, três meses, doze meses ou dezoito meses é um tanto ao quanto irrelevante. Recordo uma vez mais e sempre o nosso Eça, aquele que melhor soube compreender e transmitir a imagem do nosso país –“o velho e rotineiro Portugal”.

Nos Maias, a sua obra prima, Eça conta-nos como Carlos da Maia, ao regressar a Portugal depois de alguns anos no estrangeiro, tem esta conversa sublime com o seu amigo Ega.


“ - Pois tudo somado, menino – observou Ega – esta nossa vidinha de Lisboa, simples, pacata, corredia, é infinitamente preferível.

Estavam no Loreto; e Carlos parara, olhando, reentrando na intimidade daquele velho coração da capital. Nada mudara. A mesma sentinela sonolenta rondava em torno à estátua triste de Camões. Os mesmos reposteiros vermelhos, com brasões eclesiásticos, pendiam nas portas das suas igrejas. O Hotel Aliança conservava o mesmo ar mudo e deserto. Um lindo sol dourava o lajedo; batedores de chapéu à faia fustigavam as pilecas; três varinas, de canastra à cabeça, meneavam os quadris, fortes e ágeis na plena luz. A uma esquina, vadios em farrapos fumavam; e na esquina defronte, na Havanesa, fumavam também outros vadios, de sobrecasaca, politicando.
- Isto é horrível, quando se vem de fora! – exclamou Carlos.
- Não é a cidade, é a gente. Uma gente feiíssima, encardida, molenga, reles, amarelada, acabrunhada!...”

Como são tristemente actuais as palavras de Carlos da Maia, como é horrorosamente semelhante a imagem do país, a descrição das gentes, a imagem dos locais. Portugal não muda e quando o faz imita toscamente e refina em mesquinhez, pequenez, intriga e inveja.

O país está cinzento e chuvoso, sem sabor, sem opinião, acomodado e sobretudo desmotivado e sem esperança. Os temas dominantes continuam os mesmos, não se alteraram, os protagonistas mantêm-se mas o país este, está mais pobre. A crise económica é generalizada e vai piorar, a letargia politica e o unanimismo consolidaram-se; ricos e pobres estão agora cada vez mais maneatados num colete de forças que sufoca a democracia e castra a criatividade e o empreendorismo.
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