quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Happy Thanksgiving!

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Os Estados Unidos celebram hoje, quarta 5ª Feira do mês de Novembro, o “Thansksgiving Day”. Uma tradição secular que se transformou num feriado nacional em 1941. Historicamente surgiu como uma cerimónia religiosa para dar graças e agradecer a Deus pelas colheitas, pela comida, pela protecção em termos gerais.
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São várias as versões sobre a sua verdadeira origem e sobre a data e o local da primeira celebração. A mais utilizada aponta para a “Plymouth Plantation” em 1621, aquela que haveria de se tornar uma das 13 colónias que deram lugar aos Estados Unidos da América. Esta primeira cerimónia durou cerca de três dias e teve como propósito agradecer a Deus a ajuda que concedeu aos “pilgrims” (primeiros habitantes), permitindo-lhes sobreviver a um Inverno rigoroso e difícil.
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A partir de 1863 transformou-se num tradição anual e gradualmente foi deixando a sua componente religiosa, sem dúvida a sua matriz de origem, passando a uma celebração da família cada vez mais mundana.
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O “Thanksgiving Day” é actualmente um dia de festa e de celebração, um dia da família e de convívio que se enraizou no espírito americano e que é vivido de forma intensa e dedicada por todas as classes, por todas as raças e credos, assumindo até um papel mais relevante do que o próprio Natal, uma verdadeira celebração do “melting pot” americano.
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Este ano o discurso do Presidente faz referência às dificuldades da economia, ao drama do desemprego e aos americanos que se encontram um pouco por todo o mundo, em especial os que se encontram em teatros de guerra. Partilha algumas das medidas que está a preparar no sentido de combater o desemprego, em particular uma baixa de impostos para revitalizar a economia, e a reforma da saúde que gradualmente tem vindo a tomar forma. É quase inevitável não ser contagiado pelo discurso credível, genuíno e empenhado deste Presidente. Estamos todos esperançados em melhorias significativas para o próximo “Thanksgiving”, como refere também Obama.
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Este dia, à semelhança do “Thanksgiving” de 1939 ocorre num tempo difícil, vive-se uma recessão que apesar de diferente nos aproxima da Grande Depressão de então. Naquela altura, e pela primeira vez, o Presidente Roosevelt resolveu quebrar a tradição e antecipar a data das festividades com o propósito de alargar o período de compras antes do Natal, aumentando assim a possibilidade de receitas para o comércio e revitalizando a economia. A grandeza de Roosevelt é aliás indiscutível e reconhecida por todos, muito lhe devem os americanos, a sua capacidade de liderança, a sua inteligência e a sua coragem foram decisivas para a recuperação americana. Muito lhe deve o mundo e em especial nós europeus pela entrada dos americanos na II Guerra Mundial e pela sua ajuda inestimável na defesa da liberdade.
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Há um ano atrás passei este dia com uma típica família americana, numa Washington DC fria e chuvosa, a despedir-se das cores do Outono e a receber, de braços abertos, o Inverno de sempre. Fui acolhido por pessoas que não conhecia e nunca tinha visto, através do Program Fulbright a que pertencia. Foi uma das mais interessantes experiências da minha estadia e permitiu-me viver de perto esta celebração e comprovar a hospitalidade e a simpatia deste povo. Tivemos uma refeição típica com o tradicional peru, assisti ao ritual da sua preparação, o recheio (stuffing), e “mashed potatoes with gravy, sweet potatoes, cranberry sauce, sweet corn”, e o “pumpkin pie”. Deste dia fica-me a imensa capacidade para partilhar, o respeito pela diferença e a genuína vontade de conhecer e de aprender.
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Este ano participei no “Thanksgiving Dinner” organizado pela Comissão Fulbright que reuniu estudantes americanos que estão em Portugal, estudantes portugueses que se preparam para a sua aventura académica nos Estados Unidos e representantes de várias entidades, em particular a “Counselor for Public Affairs” da Embaixada Americana em Lisboa, a Dra. Abigail L. Dressel que partilhou uma mensagem do Presidente. É gratificante sentir que os Estados Unidos continuam interessados em partilhar a sua cultura, os seus conhecimentos e o acesso privilegiado ao saber, espero que assim nós os aproveitemos e consigamos aplicá-los a bem do nosso país.
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terça-feira, 24 de novembro de 2009

“Capitalism: A Love Story”


Participei ontem na ante-estreia do último filme de Michael Moore, “Capitalism: A Love Story”. Tratou-se de uma iniciativa inédita mas muito interessante da Universidade Católica, que convidou o Professor João César das Neves e o jornalista do Expresso, Nicolau Santos para um debate relativo ao filme em questão.
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Sala cheia, muitos estudantes e professores, antigos alunos e alguns “outsiders”, todos preparados para assistir a mais uma catarse mental deste contestatário militante. Efectivamente tratou-se de mais um dos filmes a que já nos habituou Moore, neste caso o seu quinto filme com algum relevo. Michael Moore especializou-se na contestação ao modelo de desenvolvimento americano dos últimos vinte anos e para isso leva a demagogia ao extremo, dramatiza, utiliza meias verdades, ilude, exagera e sobretudo aproveita-se de situações pessoais delicadas e sensíveis para veicular uma mensagem errónea e imperfeita.
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Em “Capitalism: A Love Story” a receita é a mesma de sempre, só que desta vez o focus é a crise financeira global de 2007/2009, a transição do governo de George W. Bush para Barack Obama e o pacote de estímulo à economia, sancionado pelo último.
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O propósito é destruir o conceito de capitalismo e culpá-lo por todos os males e por todas as desgraças que têm acontecido nos últimos anos. A crise do desemprego, os vorazes mercados financeiros, as selváticas companhias de seguros, a ausência de redistribuição da riqueza ou a insensibilidade do capital.
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Recorrem-se a exemplos chocantes de situações mal contadas ou direccionadas num determinado sentido e com um objectivo claro. Por exemplo, o caso das multinacionais que faziam seguros de vida para os seus funcionários e o relato de algumas situações em que funcionários, relativamente jovens, faleceram tendo as empresas recebido o valor clausulado no seguro. Efectivamente, pode parecer chocante mas a realidade é que foram as empresas que pagaram os seguros e durante este período o empregado podia morrer ou não, o risco era sempre da empresa e, além disso, a morte destas pessoas foi perfeitamente natural e não causada pela empresa empregadora.
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Como este, existem vários outros casos que uma análise mais isenta e objectiva desmonta com facilidade, foi o que aconteceu no debate que se seguiu.
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O debate pós-filme foi interessante e educativo. O Professor César das Neves possui uma capacidade única de tornar claro e acessível qualquer conceito mais elaborado, aliando a isto uma boa disposição e simpatia contagiantes. Como seria de esperar, criticou de forma demolidora a obra de Moore, em particular a forma demagógica e exagerada com este que apresenta situações verdadeiras mas descontextualizadas, aproveitou também para nos alertar para as vantagens que vieram com o capitalismo; o acesso ao crédito, impossível até há poucos anos, e a melhoria das condições de vida das populações.
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Acima de tudo, a questão está numa análise equilibrada da realidade. È natural que o capitalismo tenha falhas e ineficiências mas o fundamental é que se trata do pior sistema com excepção de todos os outros, conforme referiu Nicolau Santos. O ponto crucial para todos está no facto de que Moore critica mas não apresenta alternativas verosímeis, Moore descredibiliza ao mesmo tempo que revela desconhecimento dos assuntos (“too complex”) no que toca a derivados, por exemplo.
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Um filme interessante, por vezes chocante mas infelizmente com pouca credibilidade e muita demagogia. Não vale o custo de um bilhete de cinema! Seria talvez interessante pedir a Moore para realizar um filme sobre Portugal utilizando a mesma ironia e recorrendo aos nossos muitos casos mediáticos. Seria hilariante!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A "New Yorker" fala Português

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A prestigiada revista americana “New Yorker” converteu-se definitivamente a Portugal. Primeiro e mais recentemente com Jorge Colombo e os seus desenhos sobre New York, no iPhone. As duas capas que conseguiu na revista e toda a mediatização que alcançou, falando sobre as suas origens e sobre o seu país.
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Mas Colombo continua a surpreender-nos com a sua influência na “New Yorker” e a grande procura dos seus desenhos. Ainda agora na edição on-line da revista, vários desenhos com a mesma técnica e idênticos resultados finais.

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A outra surpresa data de Maio passado e recai sobre uma reportagem extensa de Peter Conrad dedicada a António Lobo Antunes, intitulada “Doctor and Patient”.
Peter Conrad nasceu na Tasmânia e está radicado nos Estados Unidos há alguns anos. Colaborador regular de várias prestigiadas publicações, Conrad já escreveu anteriormente sobre Portugal na sua crónica sobre José Mourinho intitulada “O Grande Ditador”, no “The Observer”.

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Conrad caracteriza-o à luz do seu passado: “The Portuguese novelist António Lobo Antunes discovered his literary vocation while delivering babies, performing amputations, and carving up corpses. Lobo Antunes trained as a doctor, and in the early nineteen-seventies, during military service, he was dispatched to Angola, near the end of a futile war in which the faltering Portuguese empire grappled to retain its African colony. In a makeshift infirmary, he lopped off limbs while a queasy quartermaster—disqualified from operating because the sight of blood made him sick—turned away and recited instructions from a textbook. Lobo Antunes also assisted a witch doctor who presided over births”.
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A temática inevitável relativa à rivalidade Saramago vs. Lobo Antunes, é também tratada com grande atenção: “Internationally, Lobo Antunes is overshadowed by his older colleague José Saramago, who won the Nobel Prize in 1998. At home, the two writers, like rival political parties or sports teams, have noisy partisans, and those who cheer for Lobo Antunes claim that the wrong man won the Nobel. Lobo Antunes himself apparently agrees: when the Times called for a comment on Saramago’s victory he grumbled that the phone was out of order and abruptly hung up. Their cramped country may not be big enough for both men, but from a distance the internecine feud hardly matters. Good novelists are unique, which makes them incomparable”.
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Lobo Antunes é classificado como alguém que "permanece obsessivamente local, preocupado com as dores herdadas da história portuguesa e as debilidades culturais do país". O contrário de Saramago, sugere Conrad, cujas "parábolas seculares, geralmente localizadas em países imaginários, zarpam facilmente para a universalidade".
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Curiosa é também a abordagem, por nós já conhecida, da sua obsessão com o Prémio Nobel: “Brooding over the Nobel Prize, Lobo Antunes once said, “My medical career would terminate the moment I cash that check.” But his day job has been the making of him, and it isn’t easy to dissociate his artistry from his clinical skills. During his medical training, he attended what he calls “the lesson at the morgue,” and what he learned there shaped his methods as a writer”.
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Deixo uma última transcrição deste excelente artigo de Peter Conrad. A alusão ao passado grandioso de Portugal e a pergunta dolorosa mas realista, no final: “Lobo Antunes’s implosion of Portuguese history works so well because revenants from the country’s grandiose past can be seen all over Lisbon, stiff with rigor mortis. Statues of navigators, of the kings who prompted their expeditions, and of the bards who obsequiously sang their praises scan the horizon from the pedestals. Camões has a monumental column of his own; the nineteenth-century novelist Eça de Queirós embraces a lissome marble muse in a garden; and a bronze effigy of the modernist poet Fernando Pessoa sits at a table outside a café that he once frequented, looking as if he had metallized while waiting for a refill. (As yet, there is no statue of Lobo Antunes, but a street has been named after him in the northern town of Nelas.) The Portuguese are proud of these venerable ancestors, but they can’t help feeling belittled by them. How did a country that once counted Brazil, Angola, Mozambique, Goa, and Macao as outlying provinces forfeit its empire and retract to the cramped edge of the Iberian Peninsula?”

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Preocupante e Desolador

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Serão estas previsões suficientes para que os portugueses tomem consciência da situação actual e das perspectivas futuras? Serão as estimativas da OCDE suficientemente reveladoras da nossa incompetência e da nossa incapacidade? Face a um cenário arrepiante como este o que podemos nós fazer? Estaremos nós condenados à mediocridade e à degradação inevitável da nossa qualidade de vida?
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Confesso que me preocupa sobremaneira o estado actual do país e estou muito pessimista relativamente ao futuro. Parece-me que piorámos a todos os níveis, nos últimos anos, e a ideia ténue, de final dos anos oitenta, de que éramos o bom aluno da Europa desvaneceu-se por completo.
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Agora estamos piores em vários indicadores internacionais: “O sistema de saúde português está entre os piores da Europa. Tempos de espera elevados e falta de acesso rápido ao médico de família atiram Portugal para o 25.º lugar entre 33 países europeus. O mais recente índice europeu do consumidor e dos cuidados de saúde elaborado pelo "Health Consumer Powerhouse", com o apoio da Comissão Europeia, mostra que Portugal não foi além dos 574 pontos em mil possíveis, o que o coloca na 25.ª posição, atrás de países como a Macedónia, a Croácia ou a Espanha”.
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“Descemos novamente no ranking anual sobre a percepção da corrupção, segundo um relatório divulgado pela organização não-governamental “Transparency International”. O país obteve 5,8 pontos, numa escala de zero (altamente corrupto) a dez (altamente limpo), contra 6,1 pontos no ano passado, caindo da 32ª para a 35ª posição, entre 180 países avaliados”.
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“Dos 19 ministros das Finanças europeus avaliados pelo Financial Times (FT), Teixeira dos Santos surge em 15º, uma posição que o coloca perto do fundo da tabela”.
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Apenas alguns exemplos recentes da nossa brilhante actuação e a preocupação genuína com o futuro e com deterioração da nossa qualidade de vida. Tudo isso deve fazer-nos pensar, e muito!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Liberdade de Informação

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A recente visita do Presidente Obama à China teve vários pontos altos, embora, e aparentemente, em termos globais, não se tenha traduzido em avanços significativos, em termos de política e estratégia internacional. Permitiu estreitar as relações entre as duas potências e, acima de tudo, constituiu uma declaração de propósitos e de intenções muito positiva em termos de ambiente, em termos de liberdade de movimentos e em termos de eixo político-militar chino-americano.
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Podia-se ter ido mais longe e acredito que fosse essa a intenção do Presidente Americano. Questões importantes como as tensões comerciais entre os dois países, as discórdias sobre a questão do Tibete ou o problema cada vez mais premente da moeda chinesa foram quase relegadas para segundo plano, face à discussão sobre a pronúncia em mandarim do nome do Presidente, "President Aobama" ou "President Oubama.

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De qualquer forma, registo o “town all meeting” do Presidente com um grupo de estudantes universitários, seleccionados, no “Museum of Science and Technology” de Xangai. Obama respondeu a questões de mais de 400 estudantes sobre temas variados, embora relativamente pacíficos. Curiosamente a pergunta mais pertinente veio do Embaixador Americano para a China, Jon Huntsman, "In a country with 350 million Internet users and 60 million bloggers, do you know of the firewall? And second, should we be able to use Twitter freely?”
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A China, apesar da crescente abertura e da progressiva aproximação a hábitos e posturas ocidentais, mantém um controlo apertado, em termos de liberdade de expressão e circulação da informação. O partido Comunista e os seus sequazes censores impedem o livre acesso a muitos sites, incluindo as redes sociais como o Facebook e o Twitter e sobretudo aos sites de informação ocidentais.
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O Presidente Obama aproveitou a questão para falar sobre liberdade de opinião e a importância do livre circulação de informação. Segundo referiu: “I have never used Twitter. My thumbs are too clumsy to type in things on the phone. But I am a big believer in technology and I'm a big believer in openness when it comes to the flow of information. I think that the more freely information flows, the stronger the society becomes, because then citizens of countries around the world can hold their own governments accountable. They can begin to think for themselves. That generates new ideas. It encourages creativity. I have always been a strong supporter of open Internet use. I'm a big supporter of non-censorship. This is part of the tradition of the United States that I discussed before, and I recognize that different countries have different traditions. I can tell you that in the United States, the fact that we have unrestricted Internet access is a source of strength, and I think it should be encouraged."

Obama acrescentou ainda um ponto relevante e que nos deve ajudar a reflectir: “I think people naturally, when they're in positions of power sometimes think, Oh, how could that person say that about me, or 'That's irresponsible.'…But the truth is that because in the United States information is free, and I have a lot of critics in the United States who can say all kinds of things about me, I actually think that that makes our democracy stronger and it makes me a better leader because it forces me to hear opinions that I don't want to hear. It forces me to examine what I'm doing on a day-to-day basis to see, am I really doing the very best that I could be doing for the people of the United States”.

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Esta resposta é tão mais interessante e pertinente, quanto vivemos actualmente, em Portugal, uma preocupação com as liberdades de expressão e de imprensa, traduzida numa necessidade de o governo controlar a informação e gerir a agenda mediática até á exaustão. Curiosamente, o Presidente Obama teve recentemente uma postura, no mínimo, questionável no caso do Fox Channel, assumindo a sua discordância com a linha informativa deste canal. Surpreendente para um homem com a estatura intelectual do Presidente Obama, mas inofensivo e inconsequente num país onde a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa e dos media em geral, constituem uma realidade claramente cimentada e enraizada na sociedade.
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Questões Essenciais

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Transcrevo aqui partes de dois textos escritos esta semana por Vasco Graça Moura, no Diário de Notícias, e Henrique Raposo, no Semanário Expresso. A relevância da temática tratada e a crueza com que são analisados temas importantes para o país e para a sociedade impeliram-me a reproduzi-los. Julgo que nos devem fazer pensar e era bom que constituíssem um contributo para a clarificação do estado actual da nossa vida política e dos nossos princípios enquanto povo.
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“É favor besuntarem-se” - Vasco Graça Moura
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“ (...) O mais deprimente é a sensação generalizada com que se fica de que Portugal está a caminho de se transformar numa república em que as bananas crescem num lodaçal. É nesses lugares que os valores se evaporam, as leis são impunemente violadas, tudo se degrada, todos os responsáveis são cúmplices e nada nem ninguém consegue evitar isso.
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Mas é muitíssimo bem feito. Elegeram essa gente? Pois têm o que merecem… Assoem-se lá a esse guardanapo. Besuntem- -se com o resultado. Amanhã ainda vai ser pior... “

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“A era Sócrates” - Henrique Raposo
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“ (...) Meus amigos, esta dúvida marcial precisa de uma resposta clara: Portugal é uma democracia ou é uma sociedade onde bancos e jornais são controlados pelo partido do poder? Eu, sinceramente, até gostava que o 'Face Oculta' fosse mais uma peça da campanha negra que forças ocultas lançaram sobre Sócrates. Mas, não vá o diabo tecê-las, o MP tem de tirar isso a limpo. E, enquanto espero (sentado) pelo MP, tenho a dizer que irei festejar o dia em que Sócrates cair do poder. Festejarei esse dia com uma alegria límpida e incontida. Nesse dia, a nossa democracia respirará melhor, apesar do deserto institucional que teremos pela frente. Esse deserto, meus amigos, será o ponto de partida da necessária refundação. Os casos acumulam-se. É a licenciatura domingueira. É a engenharia chico-esperta na Guarda. É o apartamento na Braamcamp. É o empresário da comissão de honra que desaparece. É o 'Face Oculta'. É o já esquecido Freeport. Mas aposto que é tudo uma questão de azar. Sócrates tem tido azar. É só isso. Sócrates, coitadinho, está sempre no local errado à hora errada. Alguém é capaz de dar um trevo de quatro folhas ao pobre homem? Faça-se o milagre dos trevos, por favor”.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O Que Podemos Fazer Juntos?

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Os Estados Unidos inauguraram uma nova era nas relações com a China. Hillary Clinton fala-nos, na entrevista que deu a Charlie Rose, do crescimento inevitável, desta que poderá tornar-se, nos próximos anos, na maior potência económica do mundo. Os Chineses têm vindo, paulatinamente, a ocupar uma posição de maior destaque e relevância na cena internacional. O seu “peacefull rise”, o seu crescente ascendente em termos de liderança politica e económica e o facto da China ser o principal credor dos Estados Unidos não são certamente dispiciêndos para que os Estados Unidos queiram enveredar por uma “indepth relation”, como refere Hillary.


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A República Popular da China é o terceiro maior país do mundo em área e o mais populoso do planeta com mais de 1,32 biliões de habitantes que ocupam uma parte considerável da Ásia Oriental. O Partido Comunista da China (PCC) é o mais ortodoxo partido comunista do mundo, governa o país desde 1949 e possui um controlo absoluto sobre o aparelho político, a organização social e o tecido económico.
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A China é na realidade um país multi étnico com diferentes tendências e facções regionais mantidas em pousio através do controlo repressivo do PCC. A dimensão geográfica do país é proporcional à disparidade de riqueza entre as suas classes, sendo que o número de pobres e muito pobres das regiões interiores e das grandes malhas urbanas é abissal.
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Apesar disso, ou graças a isso, a China tem crescido exponencialmente nos últimos anos; explorando a mão obra barata e abundante, apostando em energias ultrapassadas como o carvão, produzindo com margens baixíssimas, diversificando o tipo de produtos, negligenciando nas condições de trabalho e apostando na aparência mais do que na qualidade.
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Nos últimos anos tem-se assistido a um êxodo maciço da população dos campos para as grandes malhas industriais que gravitam em torno das metrópoles. O abandono dos campos e das aldeias tem contribuído para a desertificação de muitas regiões e para uma crise no mundo rural. Esta situação agravou-se com a crise internacional e o evidente excesso de capacidade instalada sobretudo na indústria fez com que muitos camponeses regressassem às suas aldeias de origem, com a agravante de agora estarem desempregados e sem terras para trabalhar.
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Apesar dos efeitos da crise internacional terem contribuído para atenuar o ritmo de crescimento do PIB para um dígito, a China prossegue na sua senda produtiva e de crescimento tendo o governo chinês reagido às dificuldades lançando um ambicioso pacote de aquecimento do consumo que injectou 600 biliões de dólares na economia, com ênfase para a construção civil e para a agricultura.
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De qualquer forma a novidade mais recente é que as enormes mudanças na China não dizem mais respeito só a esse país, mas agora afectam o mundo inteiro, pelo impacto nos processos produtivos globais e pela procura elevadíssima de diversas matérias-primas e combustíveis que promovem.
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Segundo defende Fareed Zakaria no seu fabuloso livro “The Post American World” a ordem internacional dos próximos anos será marcada pela ascensão de potências fora do eixo tradicional EUA-Europa, em virtude da difusão do desenvolvimento económico e da integração bem sucedida de Estados periféricos à economia global e embora Zakaria afirme que os astros emergentes estão em toda parte, inclusive na América Latina e na África, os países que ele realmente destaca são asiáticos: a China e a Índia. E os americanos perceberam bem estes factos e apostaram numa diplomacia inteligente e criativa, mais preocupada em construir e partilhar do que em destruir e controlar.
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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Bloomberg Ganha New York

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Há cerca de um ano atrás passei uma noite memorável em Washington DC. Assisti em directo à eleição do primeiro afro-americano como Presidente dos Estados Unidos, um feito único na história da maior democracia do mundo. Recordo que chovia copiosamente, mas as ruas estavam apinhadas, os festejos inundaram a capital dos Estados Unidos e a alegria transbordante contagiou toda a gente. Brancos, negros, amarelos, todos numa comunhão de sentir vibraram com este acontecimento único.

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Passado um ano, Obama continua a incendiar multidões, agora com um pouco menos de chama, talvez, continua a cativar e a influenciar o mundo com o seu poder de persuasão e a sua auréola de santidade. De qualquer forma, o tempo passa e começa a tornar-se inevitável sair da zona de conforto que tão habilmente consegue criar à sua volta. Se passar esta provação e souber lidar com a necessidade de tomar decisões difíceis e causar desconforto, será endeusado; caso contrário, dificilmente continuará a usufruir do património de confiança que democratas e republicanos lhe proporcionaram.

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Mas hoje é também um dia de festa para New York e em particular para Michael Bloomberg, eleito para o seu terceiro mandato consecutivo como Mayor da maior cidade dos Estados Unidos. Com um orçamento anual de 60 biliões de dólares, o Mayor de New York tem uma responsabilidade imensa e um poder superior ao de muitos primeiro-ministros e presidentes. Gerir uma cidade com cerca de 10 milhões de habitantes, com a complexidade e a grandeza desta, constitui um desafio gigantesco que tem sido abraçado sem hesitação por este homem multifacetado.
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Michael Bloomberg é um milionário de origem judia, russa e polaca, o oitavo homem mais rico dos Estados Unidos, dono da Bloomberg L:P uma empresa de software financeiro. Democrata, Republicano, independente, Bloomberg é acima de tudo um especialista de relações humanas. Formado em Harvard, tem revelado uma grande proximidade para com Obama, que, apesar de não o apoiar directamente, recusou apoiar publicamente o candidato do seu partido, William Thompson, que ainda assim obteve 46% dos votos.


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A vitória teve uma dimensão bem inferior ao previsto e foi a menor diferença das três vezes que Bloomberg concorreu ao City Hall. As pesquisas apontavam para uma diferença de 12 pontos que não se veio a concretizar. “Thompson conseguiu reduzir esta margem com elevada participação de regiões negras e hispânicas, como o Harlem e o Bronx, onde o democrata é mais popular”.
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Bloomberg comprometeu-se com uma agenda ambiciosa e com medidas polémicas, através das quais pretende tirar os nova-iorquinos da recessão, melhorar a educação e construir casas. Bloomberg, no seu discurso de vitória, falou em inglês e espanhol, não são despiciendos os 2 milhões de hispânicos que habitam na cidade. Admitiu que "esta vitória chega num ano difícil", enviou uma mensagem de confiança aos nova-iorquinos, ao assegurar-lhes que "o melhor está para vir". "Sei que podemos e que faremos. Nossa cidade e nosso país enfrentam tempos difíceis. É a pior recessão em décadas e hoje o povo foi claro e sublinhou que está farto da política de sempre e que quer as coisas feitas. Nos próximos quatro anos faremos com que esta cidade, que já é a mais segura do país, ainda mais segura, haverá criação de emprego e melhorarei o sistema educacional de New York, que já é o melhor de qualquer das grandes cidades do país e plantarei um milhão de árvores", prometeu Bloomberg.
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"New York acolhe pessoas de todas as culturas", disse Bloomberg em espanhol, idioma que aprendeu nos últimos anos e despediu-se com um "aproveitem a noite", também em espanhol.
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Michael Bloomber deve constituir uma referência de isenção e de integridade para muitos representantes políticos de muitos países. Quando chegou ao poder, em 2001, renunciou ao salário do cargo e pelo seu trabalho recebe um simbólico dólar anual. As democracias do mundo necessitam de homens com esta envergadura.