segunda-feira, 29 de setembro de 2008

"Dow(N) Jones"

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Hoje foi um dia negro para a economia mundial e devastador para a economia americana. A não aprovação pelo Congresso do Plano Paulson é uma irresponsabilidade monumental e, mais do que isso, representa uma posição digna de mexicanização do poder, muito característica das economias terceiro-mundistas.

Ao mesmo tempo que os judeus celebravam o novo ano Judaico, o índice Dow Jones registava a sua maior queda desde que foi constituído, com esta composição, em 1995. Em poucas horas, o mercado perdeu 1 trilião de Dólares (o Plano previa apenas 700 biliões), ou seja, o valor total da desvalorização dos activos num dia representa cerca de 40% do Plano Paulson.


O Plano Paulson é obviamente uma solução de recurso, mal estruturada, precipitadamente preparada, deficientemente consensualizada mas é, sem dúvida, uma solução. O secretário Paulson, apesar dos seus pergaminhos, tem muita responsabilidade na proporção que esta situação assumiu. Falhou no caso Lemanh Brothers e acima de tudo, falhou por não ter tomado as medidas necessárias para regular o mercado e, sobretudo, o mercado do crédito.

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A encenação de hoje no Capitólio constitui um revés monumental para todas as partes e principalmente uma ameaça aterradora sobre a economia mundial, com consequências brutais se não for invertida, ainda esta semana. Hoje falhou mais uma vez o Presidente, há muito cadáver, falharam os republicanos que não foram capazes de assumir uma solução para os erros que cometeram durante esta legislatura, falharam os democratas que não tiveram coragem de seguir a maioria que têm no Congresso, falhou a Sra. Pelosi porque não foi capaz de chamar a si, mais uma vez, a liderança do Congresso, falhou McCain porque não teve força para convencer os seus correlegionários, falhou Obama porque esteve lá, participou na última ceia com Bush e McCain e não teve força para tomar uma posição clara de compromisso.

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Não existem, infelizmente, muitas soluções para esta situação. Os governantes americanos estão entretidos a brincar com o fogo, enquanto a tão referida “main street” se afunda em créditos incobráveis. Na realidade, hoje mais do que a queda do mercado foi o efeito sobre o crédito. Daqui para a frente será cada vez mais difícil ter acesso a ele, e esta situação vai começar a sentir-se em breve com os créditos de curto prazo, para as empresas e os créditos de consumo, para particulares.

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Considero que, neste momento, a única solução será a Sra. Pelosi contar os votos numa nova sessão urgente do Congresso e os Democratas assumirem uma postura responsável e coerente e votarem em maioria este Plano. É imperioso para a fluidez do crédito e para recomposição da confiança.

Feliz ou infelizmente, a sorte sorri a Barack Obama. Estou convencido que tem aqui uma oportunidade única para ganhar estas eleições. Poderá assim iniciar uma nova era de regulação para estes mercados e uma disciplinização de Wall Street em beneficio da "main street", como ele gosta de referir. Não sei é se terá a coragem, que acredito que McCain tivesse, para o fazer.

domingo, 28 de setembro de 2008

Memória do Horror

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Auschwitz-Birkenau, Dachau, Mauthausen-Gusen, Buchenwald, Sachsenhausen, Bergen-Belsen, são campos de concentração alemães da Segunda Guerra Mundial. Apenas seis dos milhares que grassaram e se multiplicaram por território alemão e polaco, num testemunho vivo de crueldade, bestialidade e terror.

Ontem visitei o “Holocaust Museum” aqui em Washington. Este museu tem uma capacidade única, expressa sentimentos, potencia emoções, comunica através das suas paredes, dos seus arcos, das suas portas de aço, das suas curvas e tijolos. Constitui um monumento único e impressionante, um misto de tributo, homenagem e formação. Foi desenhado pelo arquitecto James Ingo Freed que partilha escritório com I.M. Pei, criador da célebre pirâmide de vidro do Louvre. Freed, ele próprio um fugitivo alemão de 1930, conseguiu criar uma obra marcante e simbólica que encarna um sentimento de sofrimento e revolta que só poderia ser conseguido por alguém que tivesse vivido de perto os acontecimentos. Segundo o próprio “The intent of the building is to be a resonator of your own imagery, of your own memory”.
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Este monumento de peregrinação constitui uma contruibuição singular em memória das vitimas e um legado valioso para a educação das gerações futuras. É impossível ficar insensível à brutalidade dos factos, à crueza das imagens, à crueldade dos actos. Seria útil a muitos pseudo-intelectuais ou pretensos conhecedores da história, criticos inconsequentes das acções desenvolvidas por muitos países, em particular os Estados Unidos, em prol da liberdade, do respeito pelos direitos humanos e do linear combate à brutalidade de homens sobre homens, visitar este museu e reflectir profundamente sobre o que aqui se encontra.

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A palavra holocausto significa cremação dos corpos, do grego queimado (em grego antigo: λόκαυστον, λον [todo] + καυστον [queimado]), e é talvez aquela que melhor descreve ou se aproxima da realidade dos factos. Visitar este museu ajuda-nos a viajar no tempo, procurando sempre sentir e viver os acontecimentos tal como estes aconteceram. Olhar de perto para as centenas de objectos pessoais deixados por aqueles que partiram para as câmaras de gás, pisar os mesmos paralelos que foram pisados por aqueles que viviam nos ghetos de Varsóvia, viver a experiência de entrar num dos vagões que transportou, animalescamente, milhares de judeus ou observar as primeiras imagens de horror captadas pelos soldados americanos quando chegaram a Dachau. São inúmeros os testemunhos vivos e próximos que nos recordam este império de maldade e acima de tudo, que nos obrigam a pensar naquilo de que é capaz o homem sobre o seu semelhante.


Estima-se que 6 milhões de judeus tenham desaparecido durante a Segunda Guerra Mundial, parte dos quais pereceu nos campos. O holocausto nazi lança uma luz cruel sobre a natureza humana responsável por outras chacinas praticadas desde então. Mas permanece único.

Não podia deixar de citar J. Kennedy e o seu famoso discurso nas portas de Brandenburgo, em Junho de 1963, que sobre a liberdade disse: “Freedom is indivisible, and when one man is enslaved, all are not free”.

sábado, 27 de setembro de 2008

“Nationals Park”

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Pela primeira vez fui assistir a um jogo de baseball, o desporto de eleição do povo Americano. O encontro colocou frente a frente Florida Marlins e Washington Nationals e realizou-se no recentemente construído Nationals Park . Tratava-se de um simples jogo de exibição, certamente por isso, menos decisivo e com menor assistência, esta era pelo menos a minha expectativa.

Depois de uma viagem de metro cheguei à estação Navy Yard que dá acesso a este complexo desportivo, mesmo na margem do rio Potomac. Cedo percebi que afinal a afluência era maior do que a esperada, facto perfeitamente irrelevante face ao sistema organizativo em presença.

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Para melhor conhecer e compreender um povo é fundamental observar os seus hábitos, perceber os seus costumes, participar nas suas festividades.
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Este tem sido pelo menos o meu esforço no sentido de conhecer a verdadeira sociedade americana; o americano médio que vive fora da cidade, que percorre quilómetros para vir trabalhar, muitas vezes em “car-pool” ou transportes públicos, que se levanta às cinco da manhã para começar o trabalho às sete, que quase não almoça e que termina o trabalho às quatro ou cinco da tarde para voltar a mergulhar no trânsito ordenado de regresso. O americano que desconhece muito do que se passa lá fora mas que se orgulha do seu país e dos valores que ele representa, o americano que se ergue perante a sua bandeira e sabe de cor o hino da sua pátria. E quantos daqueles que de pé cantaram o hino nem sequer nasceram neste país, basta olhar para eles e ouvi-los falar para perceber que estão cá há muito mas que não nasceram aqui.

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Fiquei a conhecer melhor as regras deste jogo que tanto revela deste povo. Trata-se de um jogo de equipa, embora seja exercida grande pressão sobre cada elemento, sendo que o “pitcher” e o “hitter” são decisivos. O jogo não tem tempo limite e termina apenas no final de 9 pontos alcançados por uma das equipas. Cada equipa ataca e defende alternadamente sendo que a equipa que defende entra em campo com nove jogadores e a que ataca conta com apenas um.

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Na realidade este é um jogo fácil de aprender, acessível a qualquer um, que pode bem ser jogado sozinho (a parte do “pitcher”), emocionante sem ser violento, paciente sem ser monótono. Tenho que admitir que apesar de tudo, não é o meu jogo de eleição embora já o consiga acompanhar melhor. ::
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Fiquei a perceber também que existe todo um ritual alimentar e alegórico de suporte a este circo. Os hot-dogs, a cerveja, as batatas fritas carregadas de molhos coloridos e os "cabeçudos", bonecos com algum simbolismo, neste caso retratavam antigos presidentes, são uma obrigação nestes dias. Efectivamente, a alimentação não é uma prioridade para o americano médio.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Horizonte de um mar imenso

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Não podia deixar de referir Vitorino Nemésio, o escritor que melhor retrata os Açores e a açorianidade, aquele que melhor fala o coração do ilhéu, o que melhor retrata a vivência humana no meio do mar e da solidão das ilhas, dos vulcões e das tempestades. Nemésio fala do sentir açoriano, aquela identidade única, aquele apego à terra, aquele amor ao mar.

Assim escreveu Nemésio num poema de O Bicho Harmonioso, intitulado "Correspondência ao Mar".

"Quando penso no mar
A linha do horizonte é um fio de asas
E o corpo das águas é luar

De puro esforço, as velas são memória
E o porto e as casas
Uma ruga de areia transitória

Quando penso no mar, o mar regressa
A certa forma que teve em mim
Que onde ele acaba, o coração começa "

Foi este espírito, este apego intrínseco, este amor imenso em que coração se confunde com ilha, que levou Nemésio, bastante jovem, a fazer uma conferência em Coimbra sobre "O Açoriano e os Açores”. Documento marcante e revelador da forma apaixonante como Nemésio divulgou as suas ilhas, sobretudo porque delas distanciado, “desterrado”. Curiosa é esta sua observação, no início do século:

«... tirado do ambiente um pouco estreito em que vive, o ilhéu desentranha-se em vida e prodigaliza em acção. É inventivo, tenaz, paciente e dispõe de uma reserva de dons que, uma vez desatados, o guindam muitas vezes a notáveis posições […] Assim cumpre o açoriano o seu secular destino. Por toda a parte se desenvolve e adapta, e - coisa singular! – já não é o mesmo homem aparentemente fatalista, lento de voz e meneios, que parece vergar na sua ilha sob o peso inclemente dum avatar geográfico. A sua adaptação não é cómoda, mas vigorosa e seguida de um rejuvenescimento salutar». (Vitorino Nemésio, «O Açoriano e os Açores»)

Apesar de tudo, como escreveu Nemésio no poema intitulado “A Concha”, estamos sentados num pedra de memória:

"A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fechada de marés, a sonhos e a lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.

Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.

E telhadosa de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta pelo vento, as salas frias.

A minha casa... Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória".

domingo, 21 de setembro de 2008

"Willard Clock"

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Visitei, finalmente, Capitoll Hill, o berço da democracia, o núcleo da decisão, o sustentáculo da identidade deste país.
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Imponente, elegante e esguio, não passa despercebido a quem passeia pela cidade. Constitui o "ex libris" do sistema de contra-pesos da democracia americana e é, a partir de lá, que nasce a legislação de suporte ao governo dos Estados Unidos. O Congresso, formado pela Câmara alta (Upper house) e pelos seus Senadores e pela Câmara baixa (Lower house) e pelos seus Deputados, ocupa cada uma das alas do edifício; na ala norte o Senado, na ala sul a Câmara dos Representantes.

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Desta visita registo, mais uma vez, a fúria securitária que se sente e que se tornou um traço da personalidade americana do pós 11 de Setembro. Além disto, guardo uma história, das muitas que constituem o ADN deste edifício e deste povo:

O Willard Clock, este grande relógio de parede, que tentei fotografar e que se encontra no topo da antiga Câmara do Supremo Tribunal, foi mandado construir por Roger Brooke Taney, Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, em 1836. O relógio foi construído por Simon Willard, um relojoeiro de Boston. A tradição refere que Taney, frustrado com a falta de pontualidade dos conselheiros, mandou adiantar o relógio em cinco minutos com a justificação de que a justiça deve estar sempre à frente das necessidades dos cidadãos.

Sem dúvida, um exemplo a reter para o nosso sistema judicial e os seus tempos de serena lentidão.

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Curioso foi também encontrar o busto de Martin Luther King Jr., na sala principal do edifício, ladeado por outros vultos da história Americana; Abraham Lincoln e George Washington, por exemplo. Esta sala é utilizada para cerimónias especiais, nela esteve em câmara ardente o Presidente Kennedy e, curiosamente, Rosa Parks, activista pelos direitos das minorias negras que passou à história quando, em 1955, teve a coragem de não cumprir a ordem do motorista do autocarro onde seguia, para dar o seu lugar a um branco. O Congresso viria, mais tarde, a chamá-la - "Mother of the Modern-Day Civil Rights Movement".

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Imediatamente por baixo desta sala principal do Capitoll Hill, fica a câmara inferior, em cujo centro centro se encontra desenhada uma estrela que representa, em termos geográficos, o ponto central da cidade de Washington DC.

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Visitei também o National Air and Space Museum, este gigantesco centro de diversão e conhecimento que se encontrava apinhado de visitantes, com especial predominância de crianças e adolescentes. Este museu constitui um tributo à aviação e ao espaço, mas acima de tudo ilustra, mais uma vez, aquela capacidade imensa de partilhar conhecimento e saber, aquele orgulho e aquela confiança nos feitos alcançados. Só os fracos e os inseguros têm medo de partilhar e necessidade de esconder, é a celebre falácia do poder.

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Acho interessante esta vontade de criar história para um país com uma história tão recente. Se nós portugueses fizéssemos pela divulgação da nossa história, tão rica e tão vasta, metade do que fazem os americanos pela sua, tão rica mas tão recente, certamente teríamos mais orgulho e respeito pelos feitos dos nossos antepassados.

Foi emocionante conhecer de perto um avião que povoou os meus sonhos de criança e deliciou a minha imaginação de piloto de teste. O Bell X-1 pilotado por Charles Chuck Yeager, o primeiro homem a ultrapassar a barreira do som Mach 1, em 14 de Outubro de 1947. Ali, suspenso do ar estava o avião que mais me tinha feito sonhar enquanto criança.


sábado, 20 de setembro de 2008

Mundo de Contrastes

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Enquanto esta semana as bolsas de todo o mundo se desmoronavam e Wall Street assistia inanimada ao desaparecimento da Lemahn Brothers, ao afundamento da Merril Lynch e à salvação “in extremis” da AIG, em Londres decorria aquela que viria a ser a exposição mais rentável e lucrativa de sempre.
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O pintor britânico Damien Hirst, de apenas quarenta e três anos, vendia a quase totalidade das suas 223 obras na exposição "Beautiful Inside My Head Forever" organizada pela Sotheby's. O produto deste leilão totalizou um valor superior aos duzentos milhões dólares, superando em quatro o valor máximo estimado.
Ele é hoje considerado o artista vivo mais cotado no mercado internacional e as suas obras atingem valores exorbitantes. Além disso, representa a geração dos "Young British Artists" e constitui um referência para a arte contemporânea.
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Hirst, conhecido pelos seus tubarões em formol e a sua caveira cravejada de diamantes, é o artista que mais ganhou na história da arte. Através das suas instalações, pinturas, esculturas e desenhos, ele desafia as fronteiras entre a arte, a ciência e a cultura e consegue introduzir um estilo inovador e arrojado, conjugando o inesperado, o chocante e o visceral com a beleza e a criatividade.


Ele é também inovador porque conseguiu reinventar o mundo da arte, dos galeristas e dos expositores sendo o primeiro a entregar as suas obras directamente a uma casa de leilões. Em mais de duzentos anos de existência esta foi a primeira vez que a leiloeira Sotheby's vendeu obras recentes de um artista vivo.
Este pode ser pois um momento de mudança para o comércio da arte mundial. Ao levar as suas obras directamente para a casa de leilões, ele elimina a comissão normalmente recebida pelas galerias, que, segundo ele, é extorsiva.


Damien Hirst pode ainda ser considerando um verdadeiro empresário e negociador de arte em grande escala. Em Londres controla duas grandes unidades industriais onde produz as suas asas de borboleta e as suas pinturas foto realistas. Possui ainda oficinas e estúdios onde emprega mais de 180 pessoas que trabalham para ele, criando Damien Hirsts.

Estamos pois perante uma mudança de focus do grande capital, na realidade os grandes compradores deste leilão foram russos, chineses e árabes. O dinheiro da bolsa parece estar a dar lugar ao dinheiro do gás natural, ao dinheiro da mão de obra barata e ao dinheiro do petróleo. Do capitalismo de Wall Street estamos a passar para o capitalismo dos recursos escassos.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

“Politics and Economy don't mix”

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É para mim um privilégio estar em Washington DC durante umas eleições para a Presidência. A juntar a isto, estar nos Estados Unidos durante a pior crise económica desde a grande depressão de 1929 é, sem dúvida, uma coincidência feliz. Efectivamente, para melhor compreender a realidade e o efeito de tão chocantes e devastadores acontecimentos, como os que se passaram nos últimos dias, nada como estar e vivê-los no local.

A situação económica americana é muito delicada e isto sente-se no dia a dia, nas empresas e sobretudo falando com as pessoas. O aumento da instabilidade, a falta de tranquilidade e a insegurança nas empresas deixam todos muito apreensivos. É notória a situação no mercado imobiliário onde se regista um nível de oferta bastante superior ao da procura. A actividade económica tem abrandado de forma significativa, o consumo tem caído, e apesar da desvalorização continuada do dólar a economia não consegue descolar.


Os acontecimentos mais recentes parecem vir a dar razão às teorias Keynesianas e decretam, pelo menos por enquanto, o coma do neoliberalismo da Escola de Chicago. Esta crise actual pode bem resultar no ressurgimento do New Deal de Roosevelt, quando no rescaldo da crise de 1929 o estado teve de intervir para tentar reverter a depressão e a crise social.

Em 1936 Keynes publicou a sua obra magna "The General Theory of Employment, Interest and Money" que veio a dar o suporte teórico a esse tipo de intervenção governamental na economia, a qual já vinha sendo adoptada, intuitivamente, uns poucos anos antes da publicação do livro de Keynes.

O tema dominante nos jornais de hoje é precisamente a articulação entre politica e economia e a forma como as decisões mais recentes têm suscitado enorme controvérsia. O secretário Paulson e o responsável pelo FED, Bernanke tomaram a liderança dos acontecimentos, à revelia do Congresso e do próprio Presidente Bush, o que também não é difícil. A questão pertinente é precisamente a injecção de dinheiro por parte do FED, iniciada em Março passado com a ajuda à Bear Stearns e agora o balão de oxigénio para a AIG e a Fannie Mae e Freddie Mac.

O Capitólio aguarda explicações que justifiquem a intervenção relevante do estado na economia e sobretudo a assombrosa injecção de dinheiro, dos contribuintes, para salvar empresas privadas que seriam incapazes de fazer o mesmo por eles.

São várias as vozes que se opõem a estas medidas, “Just how long can the poor beleaguered taxpayer be expected to bear all the losses and bear all the risk?” referia ontem o republicano Jeb Hensarling. O clima politico tem-se vindo a agitar perante tais acontecimentos, a ausência propositada do Presidente é um sintoma disto.


A polémica está iniciada, ainda para mais numa fase crucial do período eleitoral, situação que poderá vir a beneficiar Barack Obama.