A incerteza, a expectativa e a esperança deram lugar à dura realidade. A economia portuguesa registou o terceiro pior desempenho entre os países membros da União Europeia, com o PIB a contrair 2,1%, em termos homólogos. Portugal ocupa o terceiro lugar, tanto numa análise homóloga, como em relação aos números do trimestre anterior.
Com contracções mais acentuadas que a portuguesa está apenas a Itália, que mostrou uma diminuição homóloga de 2,6% e a Letónia, onde o PIB diminuiu 10,5% (variação não ajustada sazonalmente).
Segundo o Jornal de Negócios, “a queda de 2% no produto interno bruto português (PIB) no quarto trimestre, face aos três meses anteriores, foi a mais intensa desde o primeiro trimestre do ano de 1984, altura em que o FMI teve que intervir. O PIB recuou 2,1% em termos homólogos e 2% contra o terceiro trimestre do ano passado. Esta queda na evolução em cadeia do PIB português é a mais grave desde os primeiros três meses de 1984”.
É verdade que a crise abala praticamente todas as economias desenvolvidas. É verdade que os nossos principais importadores, a Alemanha e a Espanha, caem no quarto trimestre -1,6% e -0,7% respectivamente. É verdade que não existe coordenação ao nível de UE para atacar estes problemas. Mas é verdade também que nos iludiram com anúncios de empresas de sucesso, com referências à solidez da nossa economia, com a solução miraculosa do Magalhães, com a aposta salvadora das relações económicas com as “democracias” da Venezuela, Angola e Líbia, com o “show-off” mediático constante, com o simplex e o plano tecnológico, com a mania de parecermos o que não somos e a necessidade de desviar as atenções para questões laterais e acessórias.
Viveremos iludidos enquanto existir crédito para salvar as empresas que as leis do mercado condenaram à falência, enquanto não formos capazes de replicar dentro de fronteiras os níveis de produtividade que alcançamos no estrangeiro, enquanto não aproveitarmos o conhecimento daqueles que estão mais desenvolvidos que nós, enquanto não tirarmos devido partido da lusofonia e dos milhares de portugueses que se encontram por esse mundo fora e que estarão decerto disponíveis para ajudar o seu país. Viveremos iludidos enquanto a nossa arrogância se sobrepuser à nossa necessidade de aprender, enquanto os interesses pessoais e políticos forem mais fortes do que a necessidade de salvar o país.
Mais do que a recessão, preocupa-me a ausência de alternativas, a inexistência de visão, a descrença relativamente à capacidade político-governativa para ultrapassar as dificuldades. Estou convencido de que o que está em causa, neste momento, é o nosso modelo de desenvolvimento, a nossa estratégia de crescimento, as nossas opções de negócio, as apostas da nossa economia. Vivemos de uma economia com pés de barro, sem sustentabilidade, parasita do estado, sem rasgos de criatividade, sem assomos de coragem. Nestas condições, dificilmente conseguiremos potenciar o crescimento e assegurar uma clara e sustentada melhoria de vida às nossas populações; sem isto continuaremos anémicos e depressivos, mas agora com a agravante tenebrosa da situação económica mundial.
Enquanto a recessão se instala, o poder tentacular do estado agiganta-se para gáudio doentio de algumas forças políticas. O dinheiro flui sem critérios aparentes, os subsídios multiplicam-se em desespero e, enquanto houver financiamento, a nossa sobrevivência adiar-se-á até à agonia final.
Caminhamos para um estádio em que praticamente todos os portugueses passam a ter uma conta corrente com o estado que tudo controla, com o estado que tudo domina, com o estado que tudo agrega e desta forma o medo passará a constituir o denominador comum da nossa sociedade democrática.
Dificilmente imaginei possível que, em pleno século XXI, a qualidade de vida se agravasse a olhos vistos, o produto caísse a pique e acima de tudo, existisse um sentimento de medo e de receio generalizados. Os portugueses hoje sentem medo de falar, receio de se expressarem livremente e pavor de represálias. Perceberam que o poder político instalado é absoluto e se encontra apoiado num sistema de justiça parcial e influenciável.
O país precisa de uma alternativa. Os portugueses exigem uma mudança. Portugal tem que mudar e cabe-nos a todos participar neste processo. Pende sobre o principal partido da oposição uma responsabilidade enorme e uma obrigação imensa. A obrigação de apresentar uma alternativa credível, a obrigação de colocar os interesses dos portugueses à frente dos interesses partidários e pessoais, a obrigação de fazer mais e melhor, a obrigação de não vacilar, a obrigação de não errar e a humildade para trabalhar ao serviço do país e dos portugueses.