É com profunda apreensão e crescente preocupação que assistimos à sangria diária de despedimentos que afectam todas as economias, sem excepção. Da imparável economia chinesa até à moribunda economia islandesa, da esperançosa economia americana até à agonizante economia inglesa, da sólida economia alemã até à pálida economia espanhola. Todos sofrem os efeitos da recessão, todos procuram tomar medidas para a combater mas todas se revelam inconsequentes ou paliativas.
A situação é preocupante, os sinais são aterradores e colocam em perigo a expectativa de crescimento e a evolução do nível de vida das populações, em todo o mundo. Este ano apenas, o desemprego subirá em 30 a 40 milhões e estima-se que o número de desempregados atinja os 500 milhões de indivíduos. Em Portugal, a taxa de desemprego deve já ter superado os 8% e esta situação pode ainda agravar-se até 2010. O governo assumiu finalmente uma taxa de desemprego de 8,5% para 2009 - previsão idêntica, aliás, à da OCDE -, e reconhece assim que o mercado de trabalho vai enfrentar uma das situações mais preocupantes das últimas décadas. “A taxa prevista corresponde ao valor mais alto dos últimos 23 anos, segundo dados da Comissão Europeia, baseados nas definições do Eurostat. Associada a este cenário está a projecção de uma quebra de 0,7% no número de empregados, o que se traduz na perda de pelo menos 36 mil postos de trabalho.”
Nem a mão protectora do estado, nem a dinâmica dos mercados parecem conseguir salvar as famílias deste drama dos tempos presentes. Os governos desdobram-se em pacotes, multiplicam-se em programas, disparam os incentivos mas, infelizmente, a sensação de retrocesso temporal, de regressão dramática em termos de ideais, de objectivos, de qualidade de vida, de expectativas, constituem uma realidade inexorável.
Os últimos dias em termos meteorológicos não parecem ajudar. A chuva permanente, o nevoeiro constante, a escuridão depressiva contribuem para um estado de espírito desesperante. Parece que não existe esperança, parece que se instalou uma resignação doentia e continuada e que o futuro deixou de constituir uma fonte de ilusões de progresso e passou a apresentar-se como um pesadelo de desassossegos.
Curiosamente num cenário como este é cada vez mais notória a incapacidade, a inconsequência, a irrelevância, o total alheamento que transmitem os nossos responsáveis políticos. Por cá discute-se tudo menos as medidas, as propostas, as opções para combater a “peste bobónica” que se instalou.
O caso Freeport domina as notícias e ajudou a instalar a desconfiança, a absoluta ausência de credibilidade, a aldrabice, a tentativa de ludibriar, a preocupação com a imagem, a gestão meticulosa da informação. Vale tudo para continuar no poder, todos os argumentos são válidos, para tudo existe uma desculpa, para tudo existe um lado positivo, um lado rosa. Infelizmente, a inconsequência e a parcialidade ficaram bem patentes e são cada vez mais uma evidência do nosso sistema de justiça.
Os desígnios que se colocam para os próximos quatro anos são a nova proposta de regionalização e o casamento dos homossexuais. No primeiro caso, mais uma vez, a tentativa de formalizar uma realidade burocrática que asfixia o país agora sob a forma de regiões e poderes locais; barões e baronetes paroquiais de olhos postos no seu umbigo e apaniguados políticos de terceira categoria. No segundo caso, uma questão social eleita ícone de marketing politico e utilizada, pura e simplesmente, para fazer face a interesses partidários irresponsáveis e de curto prazo.
Mas infelizmente, a nossa classe politica personifica um deserto de ideias, uma ausência total de desígnios, uma total incapacidade para inovar, um comodismo transversal. É confrangedor assistir a debates na Assembleia da República. O circo da democracia levado ao expoente máximo da hilariedade, da incompetência e do interesse próprio. Surpreende-me a falta de preparação, a ausência de profissionalismo, as temáticas debatidas pela rama, a ausência de alternativas, a massificação dos “sound bytes” inconsequentes, a pequena política, a conversa de café.
Onde estão os desígnios nacionais? Quem nos pode transmitir confiança, força, segurança e esperança no futuro? Onde está a garra para construir, a vontade de arregaçar as mangas e trabalhar? Onde estão os programas efectivos e consequentes para combater a crise social? Onde estão as soluções do estado para empregar pessoas, para dar trabalho? António Barreto no seu último artigo do Público faz sugestões curiosas de medidas, tipo “New Deal” para combater a crise.
É necessário criar as condições para que o mercado funcione, é necessário repensar o nosso modelo económico, é necessário requalificar o nosso tecido industrial, apostar na qualificação dos nossos recursos e promover o empreendorismo.
Os Estados Unidos vão lançar um colossal programa de investimentos públicos em simultâneo com uma redução significativa da carga fiscal actuando assim, ao nível da oferta e da procura. A Europa deve acompanhar estas medidas, deve tirar lições da crise Japonesa dos anos 90, repiscar algumas das medidas do “New Deal” de Roosevelt e por último, exigir mais e sempre mais dos seus políticos e do regime político que escolheu como seu – a democracia.
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