sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O Kindle Português!

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É sempre um prazer enorme falar de livros e, de quando em vez, volto a este tema porque me seduz particularmente e porque os livros fazem parte integrante da minha vida. Um livro é um mundo por descobrir, uma fonte inesgotável de saber e de conhecimento, uma companhia de cumplicidades.
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Nada é comparável à presença física dos livros, a não ser talvez as obras de arte, eles aquecem o ambiente e trazem luz aos espaços; as capas de cores variadas escondem segredos bem guardados, a diferença de tamanhos antecipa histórias encantadas; o cheiro a cedro trabalhado pelo saber encadernado contagia qualquer ambiente.:
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Muito tem o mundo evoluído nos últimos anos, muitas têm sido as transformações e as mudanças em termos de gestão da informação, controlo e armazenamento de dados, acesso e partilha de conhecimento. E até os livros têm vindo a estar em risco, substituídos primeiro por computadores, depois pela internet e agora pelos “ebooks”.:
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A este propósito, volto ao fantástico efeito Kindle, de que já aqui falei. Sem dúvida uma das mais notáveis invenções dos últimos anos; a informação e o conhecimento portátil, dezenas de milhares de livros no bolso de um casaco. O Kindle, mais do que substituir os livros, vem divulgar a leitura e angariar novos leitores. Mais pessoas em mais locais poderão ter acesso a um livro, à distância de um “click”. Felizmente o Kindle já chegou a Portugal, e, mais do que isso, a língua portuguesa já chegou ao Kindle.
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O romancista brasileiro Rubem Fonseca será o primeiro autor de língua portuguesa a ter um livro lançado em versões para Kindle e iPod, além do formato tradicional em papel. "O Seminarista", da editora Agir, chegou às livrarias em Novembro passado.
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Segundo a biografia que se encontra no seu “site”, na internet: “Rubem Fonseca nasceu em Juiz de Fora (MG), em 1925. Formado em Direito, exerceu várias profissões antes de se dedicar inteiramente às actividades literárias. Acredita, como Joseph Brodsky, que a verdadeira biografia de um escritor está nos seus livros. Mora no Rio de Janeiro desde os 8 anos de idade”. Mas mais do que isso: “Rubem Fonseca é provavelmente o escritor vivo mais estudado fora do Brasil. Tomando-se a literatura brasileira de todos os tempos, talvez ele só perca para Clarice Lispector. Ele é hoje considerado um mestre da ficção policial à escala mundial, e os seus livros fazem parte do cânone da literatura latino-americana." Quem o afirma é o americano Thomas Waldemer, director do Departamento de Estudos Latinos da Universidade do Iowa.
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De acordo com um trabalho sobre o autor na revista “Bravo”: “A carreira internacional de José Rubem inclui prêmios de prestígio como o Juan Rulfo e o Camões, ambos em 2003. Os prémios pelo mundo e a avaliação da academia americana (o escritor chegou a ser professor-visitante em Stanford, uma das mais prestigiodas universidades dos Estados Unidos) coroam um percurso ímpar na literatura brasileira”.
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Rubem Fonseca é curiosamente um apaixonado dos Estados Unidos, onde foi aliás beber muita da sua inspiração. Estudou em Boston e viveu em New York, no famoso “Chelsea Hotel”. “Segundo os seus amigos, José Rubem se apaixonou pelos Estados Unidos. Quando falavam mal do país de John Kennedy - algo que era moda no Brasil dos anos 50 e 60 -, José Rubem cortava na hora: "Deixa de ser ignorante" (Revista Bravo).
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Este seu último livro, “O Seminarista”, conta-nos a história de um matador de aluguer, conforme refere o Jornal do Brasil: “Ex-seminarista – daí o título – na verdade é conhecido no métier como o Especialista: mata sempre com um teco na cabeça. Vive citando brocardos, axiomas e sentenças latinas. No original. Dá-lhe Horácio, Cícero, Virgílio, Petrarca, Plínio o Velho, Santo Agostinho, Propércio e outros menos cotados. O personagem – cujo nome de batismo é José, mas gosta de ser chamado apenas de Zé, como Zé Rubem, que é como os amigos mais íntimos tratam o escritor – vai descobrir que não é assim tão fácil se aposentar. Também grande admirador de poesia – dá-lhe Pessoa, Drummond, Bandeira, Gullar, Dickinson, Blake, Frost, Ahkmatova – vale-se de Camões para explicar a decisão de não mais cometer assassinatos: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Para se convencer de vez, apela para Sêneca: “Alia tentanda est via” (“Deve-se procurar outro caminho”). O problema é que é muito difícil mudar de vida – ou de estilo. Tanto para o Especialista quanto para Rubem Fonseca”:
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Apesar de não ter lido o livro, parece-me uma boa escolha para o primeiro Kindle português.

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