sexta-feira, 21 de maio de 2010

Comissão de Descrédito

:
Nas últimas semanas, em paralelo com as mudanças no mundo, segundo o nosso Primeiro, decorreram os trabalhos da Comissão de Inquérito para apurar se o Primeiro-ministro de Portugal mentiu ao parlamento. Portanto, nas últimas semanas dezenas de deputados têm gasto rios de dinheiro em audições, análise de documentação, análise de escutas, com o propósito de provar uma evidência que se encontra há muito demonstrada. Temos um Primeiro-ministro que mente compulsivamente, quer seja no parlamento, no governo, na televisão, nos jornais. Creio que esta é uma realidade já mais ao menos aceite por todos, uma certeza que reflecte o espírito do nacional porreirismo tão embrenhado.

:

:
A evidência mais flagrante destas semanas e os acontecimentos de ontem provam-no claramente, é a irrelevância e a inconsequência deste tipo de Comissões. Grande aparato, grande mediatismo, revelações bombásticas, mas resultados nulos. Para serem efectivas e consequentes, estas Comissões deveriam ter poderes acrescidos, deveriam funcionar de outra forma; mais incisiva e mais intimidatória, menos “polite”. As audições realizadas são elucidativas; profundamente amadoras, mal preparadas e carregadas de informalismo e de salamaleques, do lado dos inquiridores. Ostensivas, irónicas, lúdicas e mentirosas, do lado dos inquiridos.
:

:
Por contraponto, assistir a Comissões de Inquérito, nos Estados Unidos, impressiona-nos pelo rigor, pela severidade, pela autoridade e sobretudo pela preparação dos intervenientes. Conforme escreveu o meu amigo António Botelho de Melo, no Blog Ma-Schamba, “Até na geografia das salas se nota esse informalismo latino: as salas de audiência americanas estão configuradas como salas de tribunal, em que os legisladores se sentam mais alto, mesmo em frente aos inquiridos. Nas audiências parlamentares portuguesas, acotovelam-se legisladores e inquiridos uns em cima dos outros, em redor de uma mesa pequerrucha, e há uma figura qualquer a presidir à sessão, a que todos, caninamente, chamam “sôr presidente”. Que ainda por cima senta-se mesmo ao lado dos inquiridos”.
:


Nada como assistir às inquirições a Richard Fuld, o todo poderoso presidente do defunto do Lehman Brothers ou às mais recentes realizadas aos executivos da Goldman Sachs, para percebermos esta realidade. São estas situações e estas evidências que fazem toda a diferença. É por isso que somos o país que somos, é por isso que vivemos numa sociedade de medíocres, onde a impunidade e a inconsequência nos avassalam. É por isso que temos um Primeiro-ministro como o actual que despreza as instituições, desrespeita os portugueses; sem ética, sem princípios, sem moral.
:

Sem comentários: