:Depois de passar os últimos dois dias com o Professor Marty Linsky e a sua equipa directa. Depois de conviver, partilhar conhecimentos e experiências com um conjunto extremamente heterogéneo de pessoas das mais variadas proveniências e com as mais diversas formações, sinto como é cada vez maior a nossa urgência enquanto país e povo numa liderança adaptativa por oposição à liderança técnica a que estamos habituados.
Marty Linsky é seguramente uma das maiores autoridades mundiais, em termos de organização e liderança e o seu último livro com Alexander Grashow e Ronald Heifetz é disso um bom exemplo. “The Practice of Adaptive Leadership” representa a aplicação prática e a operacionalização do conceito, das metodologias e ferramentas por eles desenvolvidas, de liderança adaptativa versus liderança técnica. A utilização de casos reais e realidades concretas é extremamente útil para a compreensão destes conceitos em termos sociais, empresariais e políticos. Marty Linsky através do seu blog Linsky on Leadership, procura aplicar à realidade presente, em particular à situação política, uma análise de liderança e de comportamento e a partir daí tira conclusões interessantes e que nos fazem pensar.
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A crise que se instalou e teima em continuar arrasta-nos para uma situação com contornos absolutamente imprevisíveis e tendencialmente catastróficos. Mas, infelizmente, enquanto a economia americana vive momentos de asfixia, a nossa economia esboroa-se por entre as portas de São Bento. Enquanto a economia americana passa por uma fase de “reset”, a economia nacional prepara-se para entrar em “shutdown”. Enquanto aqui se encerra, despede, renova, contrata e reabre, em Portugal adia-se, subsidia-se, encerra-se, liquida-se e aguarda-se.
Nova York vive dias muito difíceis, são inúmeras as lojas encerradas ou a encerrar, as ruas têm menos turistas, as “grifes” têm menos compradores, os armazéns saldam todos os produtos. Jantei ontem no Oyster Bar, em plena sétima avenida, no coração de Manhatan – Times Square, jantei numa sala vazia, era o único cliente.
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Nova York estremece, a amálgama de raças, cores e credos que aqui habita questiona-se, interroga-se sobre o “american dream”, sobre o crescimento e a opulência a que estavam habituados. Mas toda esta gente acredita no futuro e na recuperação, acredita na capacidade do modelo americano e na força da mudança. Falei com Helly Nahmad, proprietário de uma galeria de arte na quinta avenida, de origem afegã, vive em Nova York há 30 anos e não se recorda de um período tão mau e difícil. Referiu-me convictamente que acredita no novo presidente e na força de renascer que este país encerra. Falei com Amy Hogue, juíza num tribunal superior de Los Angels que me referiu que a comunidade de juízes da California decidiu, por iniciativa própria, reduzir o seu salário em 5% e fechar os tribunais um dia por mês. A situação é de urgência mas as respostas reflectem esta preocupação.
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Portugal, pelo contrário, tem urgência em mudar de comportamentos, em mudar de hábitos, em mudar de práticas, tem urgência em mudar de políticas e de políticos, tem urgência em mudar de postura, em mudar de decisores e de dirigentes. É necessário tomar decisões difíceis, controversas e corajosas, é fundamental exercer uma liderança “provocatória” e consequente, que cause desequilíbrios e desconfortos.
É necessário por exemplo: suspender os investimentos vultuosos em estradas, comboios e aeroportos, demitir o governador do Banco de Portugal, prender uns quantos banqueiros que estão escondidos por trás da lentidão e da ineficiência da justiça, suspender e demitir juízes incompetentes e perigosamente irresponsáveis.
Portugal tem urgência em mudar para que o verso de Sophia - “Este país te mata lentamente” se transforme numa longínqua recordação, na memória de um povo que mudou e que venceu.