segunda-feira, 1 de junho de 2009

Novo Começo para a General Motors

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A administração americana tomou, finalmente, a decisão acertada relativamente à General Motors. A declaração de falência e a invocação do chamado “chapter eleven”.
Desde Outubro do ano passado que a GM agonizava em dívidas, custos e descida acentuada de receitas. Um processo asfixiante que trazia ao de cima responsabilidades antigas, decisões erradas, estratégias erróneas, agora agravadas por uma recessão sem precedentes.
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Na altura, em plena crise do sistema financeiro, quando o Secretário Paulson se desdobrava a apagar fogos, a GM ardia lentamente e a discussão pública de ajuda ou não ajuda levou democratas e republicanos a confrontarem-se, no Congresso, relativamente ao primeiro pacote de ajuda financeira à GM. Os democratas liderados por Obama opuseram-se à declaração de falência temendo as consequências sociais e políticas de mais um desmoronamento. Os republicanos, pelo contrário, eram apologistas de uma decisão radical e opunham-se a mais um pacote de ajudas.

O processo arrastou-se até à nomeação de Obama, e as ajudas acabaram por ser concedidas num acto de desespero para salvar uma empresa já cadáver. Na altura escrevi neste blog, em 18 de Novembro de 2008, que a declaração de falência, apesar dos riscos elevadíssimos que comportava, podia constituir uma solução radical para corrigir uma situação de clara ineficiência de mercado. O tempo veio dar razão aos defensores do “chapter 11”, entre os quais os republicanos, esta constitui portanto, mais uma vitória republicana na era Obama.

A General Motors foi a maior empresa industrial de sempre com activos avaliados em 82,9 mil milhões de dólares e durante 77 anos ocupou o primeiro lugar enquanto maior fabricante automóvel mundial.

A situação insustentável a que se chegou, nos últimos meses, obrigou a esta difícil decisão, com efeitos imprevisíveis. O governo americano deverá ficar com 60% do capital, depois de converter a maioria dos 50 mil milhões de dólares de empréstimos, o Canadá com 12%, um fundo na área da saúde com 17,5% e os actuais obrigacionistas da empresa com 10%. Iniciar-se-á um profundo e há muito necessário, processo de reestruturação que implicará o fecho de 11 fábricas, a inactivação de mais três e um sem número de desempregados, ao mesmo tempo que a nova empresa se vai empenhar no fabrico de um novo modelo de carro mais pequeno, mais eficiente e mais competitivo. Um dos objectivos é criar uma GM mais pequena e com menos marcas, capaz de competir com empresas como a Toyota.

A intervenção do governo americano na GM constitui a terceira maior da história dos Estados Unidos e a maior de sempre num processo de falência de uma empresa, depois da Lehman Brothers e da WorldCom. Este representa também o segundo maior pacote de ajuda, depois do apoio à AIG.

Curiosamente, a administração americana prevê que o processo judicial para criar a nova empresa dure entre 60 a 90 dias. Simplesmente extraordinário. Um processo de falência de uma empresa com esta dimensão, a criação de uma nova empresa com este impacto e esta importância, em Portugal, com a justiça que temos e a burocracia que cultivamos, nem num período de 10 anos seria possível.

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