O Presidente Obama iniciou Quarta-feira uma viagem de quatro dias pelo Médio Oriente, num esforço inédito de diálogo e de cooperação com o mundo árabe. Foi recebido pelo Rei Abdullah e discursou ontem no Cairo, desceu à cidade e falou na Universidade do Cairo para uma assistência de 3000 pessoas mas com o mundo inteiro a seus pés. Um discurso muito aguardado e cheio de esperança, no início de uma nova era de relacionamento com os Estados Unidos.
Obama possui uma capacidade inigualável para fazer história e as suas iniciativas, sobretudo em termos de política externa, desde que foi eleito, têm contribuído mais para a melhoria da imagem dos Estados Unidos no mundo, do que qualquer outro presidente até aqui.:
Um discurso extremamente rico, inteligente, dialogante, repleto de menções históricas e apelos à cooperação e à paz. Cativante na oratória, Obama é um sedutor e um hipnotizador de multidões, utiliza com mestria a sua persuasão e transpira boa vontade e seriedade. Actualmente, não são só os Americanos e os ocidentais que depositam uma confiança imensa nas suas iniciativas, é o mundo inteiro a acreditar que é possível mudar, que é possível funcionar de maneira diferente, que é possível começar de novo. Mais do que, tudo Obama veio trazer-nos esta esperança e esta capacidade de voltar a sonhar.
Durante 55 minutos, Obama promoveu a democracia, alertou Israel contra a construção de novos colonatos e admitiu que os Estados Unidos falharam, em particular com a guerra do Iraque. Apelou a um "New Beginning" nas relações entre a América e o mundo islâmico, numa tentativa para romper com uma era de "desconfiança e de discórdia". "Enquanto as nossas relações forem determinadas pelas nossas diferenças, daremos poder aos que espalham o ódio em vez da paz", afirmou Obama.
Obama foi claro e intransigente na questão delicada do conflito israelo-palestiniano. Defendeu a coexistência de dois Estados. Apesar de recordar os laços que unem a América ao Estado Hebraico, Obama não deixou de exigir o fim da construção de novos colonatos. Aos palestinianos pediu para abandonarem a violência e optarem pela união e pela paz.
É curioso ouvir durante o discurso, gritos de "I love you". Algo absolutamente impensável ainda há alguns meses e completamente inesperado face ao espírito de revolta e de ódio que é tão frequente na relação com os Estados Unidos.
As expectativas são incomensuráveis, os receios são imensos e o cepticismo é também mais do que muito. Conforme referia David Axelrod, ainda na Arábia Saudita, não será um só discurso que fará mudar um sentimento tão empedernido e enraizado. Mas devo acrescentar que este discurso constitui um marco decisivo para as relações entre os mundos ocidental e árabe, e a expectativa é que se traduza em acções concretas e a curto prazo, por parte dos Estados Unidos e, mais do que tudo, se traduza numa clara mudança de atitude e de práticas por parte de muçulmanos e de israelitas para que tirem partido de uma oportunidade única de mudança.
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