sexta-feira, 5 de junho de 2009

Tiananmen – Nunca Mais

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Completaram-se ontem vinte anos sobre a tragédia histórica de Tiananmen. A Praça da Paz Celestial foi palco de um dos mais violentos ataques contra a liberdade de expressão, a livre opinião e a democracia. Ainda hoje, não é exacto o número de mortos e os valores variam entre 241, número oficial, ou 2600 a 3000, segundo outras estimativas. Os dados e a documentação histórica são reduzidos e os acontecimentos minimizados e quase ignorados.
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Estudantes por um lado, governo e aparelho político por outro confrontaram-se de forma violenta e devastadora. O aparelho comunista e a filosofia social chinesa foram postos em causa por estudantes sonhadores e corajosos. A ortodoxia e a repressão levaram a melhor e as autoridades chinesas puseram fim a um sonho de abertura e de democratização acalentado por uma classe de estudantes, intelectuais e jovens de mentes abertas e espíritos livres.

Movimento nascido no seio da comunidade estudantil, conviveu durante algum tempo com o regime que o aceitou, ou não percebeu a sua verdadeira dimensão e impacto. Nos primeiros tempos de existência, foi inclusive noticiado sem grandes restrições nos meios de informação oficial e o primeiro-ministro Li Peng, um conservador profundo chegou mesmo a receber os representantes dos estudantes. O encontro sucedeu em Pequim, no Grande Palácio do Povo, no dia 18 de Maio.

A partir daí, os acontecimentos sucedem-se e o estado de sítio é declarado dois dias mais tarde; os estudantes radicalizam declarações e atitudes, manifestam-se fervorosamente e em alguns casos com manifesto exagero. Na noite de 3 para 4 Junho, os militares ocupam as avenidas circundantes e a Praça de Tiananmen e dão início a uma chacina sem precedentes.

Procede-se a um bloqueio total de informação e de imagens, os jornalistas são banidos, os acontecimentos silenciados e as atrocidades rasuradas das memórias de todos os que viveram tão atrozes acontecimentos.


A China de hoje poderá não ser muito diferente da China de então. A preocupação de controlar, a necessidade de reprimir, a urgência de esconder, de vedar, de fechar mantém-se. Continua a não existir liberdade de expressão, nem livre opinião. As populações têm todos os seus movimentos controlados e verificados. Mas, curiosamente, o conceito de liberdade é muito flexível e adapta-se com facilidade às diferentes realidades.

Passados vinte anos, a China é hoje uma grande potência económica e uma economia florescente. Adoptou os desígnios mercantilistas e integrou-se nas economias de mercado. Percebeu que esta postura era essencial para sua sobrevivência e conseguiu de forma surpreendente enveredar por um processo de abertura condicionada em que convivem, lado a lado, práticas de mercado livre e uma sociedade fechada, controlada e com liberdade limitada.

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