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Realizou-se ontem aqui em Washington DC a cimeira do G7. Estados Unidos, França, Alemanha, Japão, Inglaterra, Canada e Itália acordaram num plano coordenado para salvar o sistema financeiro mundial, mas escusaram-se a revelar pormenores do referido plano. As medidas vão desde o empréstimo de fundos às instituições financeiras para ultrapassar a falta de liquidez de curto prazo, até à injecção de dinheiro nos bancos americanos, em contrapartida de uma participação no seu capital.
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Delegações, comitivas, especialistas, observadores, assessores e jornalistas de todo o mundo aguardaram ansiosamente pelo fumo branco da decisão que chegou, infelizmente, encoberto pelo manto difuso da imprecisão, rodeado de dúvidas, de incertezas e de uma ausência notória de trajectória para lidar com a situação actual.
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O mundo esperava muito mais deste encontro, as economias mundiais esperavam muito mais desta cimeira, o sistema financeiro mundial precisava e precisa de confiança, de estabilidade e de rumo. Os países industrializados tiveram aqui uma oportunidade, importante, para estabelecerem as regras de um novo sistema financeiro, da mesma forma que em Julho de 1944, em Bretton Woods, New Hampshire, as 44 nações aliadas estabeleceram aquelas que viriam a ser as regras para as relações comerciais e financeiras entre os países mais industrializados do mundo.
O sistema Bretton Woods foi o primeiro exemplo, na história mundial, de uma ordem monetária totalmente negociada, tendo como objectivo governar as relações monetárias entre Nações-Estado independentes e vigorou durante, aproximadamente, 30 anos.
O período que estamos a viver representa, sem dúvida, o início de uma nova era na história do mundo. Traduz o reequacionamento do equilíbrio financeiro mundial, a alteração das premissas de suporte ao modelo de capitalismo liberal e acima de tudo poderá representar uma mudança decisiva no papel dos Estados Unidos.
Num artigo brilhante na Newsweek, o professor Fukuyama refere que o descalabro dos mercados e de Wall Street representa o fim da era Reagan e da sua politica liberal. "Reaganomics" assentava numa determinada visão do capitalismo, baseado nas baixas taxas de imposto e na reduzida regulação dos mercados – “deixar os mercados funcionar”. Esta ideia de desregulamentação alastrou-se um pouco por todo o mundo e na Europa a Sra. Tatcher foi a sua principal impulsionadora.
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Estas politicas revolucionárias constituíram a base de uma nova era de crescimento e de desenvolvimento, sem precedentes, em sectores como a biotecnologia e os sistemas de informação. Além disto, através de instituições como o FMI e o Banco Mundial, nados de Bretton Woods, muitos países do terceiro mundo foram forçados a abrir as suas economias. Apesar de criticado por muitos demagogos e populistas como Chávez da Venezuela, o chamado “Washington Consensus” contribuiu para atenuar a dor de muitos países da América Latina assolados pela divida galopante e pela hiper-inflação, como aconteceu no Brasil e na Argentina nos anos oitenta.
Foram também estas politicas de mercado que tornaram a China e a Índia nas potências que são hoje.
São muitos aqueles que pelo mundo fora se regozijam com este tropeção do capitalismo liberal, são muitos aqueles que pelo mundo fora esfregam as mãos de contentamento pelo desmoronamento do capitalismo americano, são muitos aqueles que pelo mundo fora desfraldam a bandeira do socialismo e tiram da penumbra os ideais socialistas há muito ultrapassados. Mas estes são comportamentos normais para ideólogos de biblioteca, para políticos de carreira, para demagogos de partido, são comportamentos normais para ditadores terceiro mundistas e lunáticos populistas.
Infelizmente estes não são comportamentos normais para responsáveis governamentais de países do primeiro mundo, estes não são comportamentos normais para defensores da democracia nem para lutadores pela melhoria das condições de vida dos povos, estes não são comportamentos normais para um primeiro ministro quando fala aos cidadãos na assembleia do seu país.
O capitalismo liberal passará a ser, certamente, mais regulamentado, mais controlado, mais acompanhado pelos governos. Este é aliás o grande desafio da nova era para as entidades reguladoras dos mercados. De qualquer forma, desiludam-se aqueles que vêem nestas mudanças uma forma de socialismo moderno, ou aqueles que as identificam com uma forma de corporativismo, ou aqueles que sonham com um modelo de capitalismo autoritário à Putin, ou ainda aqueles que deliram com o estado social, a estatização e o intervencionismo estatal à Sócrates.
O modelo capitalista provou já os efeitos positivos que trouxe às economias e como foi potenciador de crescimento, de desenvolvimento e de melhoria das condições de vida dos povos. Estou firmemente convencido de que os países democráticos continuarão a apostar nos mercados livres e no livre comércio para crescerem e melhorarem o nível de vida das suas populações.