quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Os Esquilos da Democracia

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Washington, nesta altura do ano, está repleta de esquilos, castanhos escuros, castanhos mais claros, cinzentos e pretos, os mais raros. É frequente depararmo-nos com esquilos nas ruas, a brincar nos relvados abundantes, sentados nos bancos dos jardins e em todos os parques da cidade. Recolhem comida para fazer face ao Inverno que se avizinha e armazenam bolotas e outros frutos secos para poderem sobreviver à carestia do frio.

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A entrada dos esquilos na cidade remonta ao final do século XIX, quando foram largados 18 esquilos pretos provenientes do Canadá no Jardim Zoológico da cidade. Edward Schmid, prestigiado comerciante, fundador de uma loja de animais e amigo do presidente Theodore Roosevelt, cujos filhos brincavam com esquilos oferecidos à Casa Branca, foi um dos principais responsáveis por este povoamento.


Em 1906 um relatório do Congresso refere que a experiência de largar esquilos nos jardins do Capitólio, nos relvados da Smithsonian Institution e nos espaços verdes do Departamento de Agricultura, veio demonstrar o interesse do público por experiências desta natureza. Nos anos seguintes, um número considerável de esquilos povoou a Lafayette Square e os jardins da Casa Branca.

Actualmente existem milhares de esquilos, fazem parte da rotina da cidade num convívio amigável entre racionais e irracionais. Parecem também ser os únicos que estão imunes à crise económica que todos os dias arrasta famílias e empresas para a falência.

A volatilidade continua a perturbar os mercados e o espírito de confiança e a serenidade ainda não regressaram. Estou convencido de que as empresas, os particulares, mas sobretudo os eleitores já perceberam que esta situação se vai manter até às eleições e estão convencidos que só uma vitória de Obama poderá trazer algum alento e esperança aos mercados e energia à economia.

Curiosamente, Obama e McCain encontraram-se hoje de novo para cumprir uma tradição social e estiveram presentes no “Annual Al Smith Dinner”, em Nova York. Nos últimos 60 anos, convidados distintos participaram neste evento para angariar fundos e honrar Al Smith, o falecido governador de Nova York e primeiro católico a concorrer à presidência, em 1928.

Os candidatos presidenciais participaram pela primeira vez em 1960, com John F. Kennedy e Richard Nixon em palco duas semanas antes das eleições.

Quer Obama, quer McCain estiveram bem num ambiente leve mas elegante, descontraído mas selecto com discursos divertidos e alegres, numa demonstração de democracia, de civismo e de elevação intelectual invejável.

A democracia americana está plena de vitalidade, robusta de energia, imensa de liberdade. Estes valores estão mais solidificados e enraizados neste país tão jovem do que em muitos países europeus com democracias seculares, onde cada vez mais se vive e sente um ambiente de medo e o fantasma permanente da falta de liberdade de expressão e da ausência de livre opinião.

Recordo, a este respeito, uma passagem do Eça sobre a cidade ou, em extensão, sobre Portugal: em que este refere que "todas as faces reproduzem a mesma indiferença ou a mesma inquietação; as ideias têm todas o mesmo valor, o mesmo cunho, a mesma forma (...), e até o que há de mais pessoal e íntimo, a ilusão, é em todos idêntica, e todos a respiram, e todos se perdem nela como no mesmo nevoeiro... A MESMICE - eis o horror" de Portugal.

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