quarta-feira, 29 de abril de 2009

A Mais Nova Profissão do Mundo

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Na passada semana, Mark Penn escreveu um artigo extremamente interessante no Wall Street Journal (Wall Street Journal), com o título “America's Newest Profession: Bloggers for Hire”. Penn dá-nos a conhecer a nova realidade do blogger profissional, aquele que escreve, descreve e partilha informação e, mais do que isso, consegue rentabilizar a sua prestação de forma muito satisfatória. A ditadura dos leitores levada ao seu mais elevado patamar, a escrita e a opinião que influenciam e cativam os leitores, a mais pura e genuína forma de segmentar, de segregar e de premiar a qualidade, a originalidade e o mérito, ou pelo menos a capacidade de responder às correntes de opinião e às preferências dominantes.

Aquilo que começou como uma derivante tecnológica utilizada pelos mais criativos está a transformar-se rapidamente numa máquina poderosíssima de circulação e partilha de ideias e de informações, de utilização generalizada, agora potenciada por empresas e profissionais de primeira linha.

A popularização da opinião, a profissionalização dos “opinion makers”, o livre acesso à informação e a ditadura da publicidade on-line que alimenta esta indústria permitem aos profissionais mais bem sucedidos ganhar autênticas fortunas. Segundo Mark Penn “...it takes about 100,000 unique visitors a month to generate an income of $75,000 a year. Bloggers can get $75 to $200 for a good post, and some even serve as "spokesbloggers" -- paid by advertisers to blog about products…”


Nos Estados Unidos apenas, existem cerca de 20 milhões de bloggers para uma receita de 1,7 milhões de dólares, sendo que cerca de 452 mil utilizam o blogging como a sua primeira fonte de rendimento. “The best studies we can find say we are a nation of over 20 million bloggers, with 1.7 million profiting from the work, and 452,000 of those using blogging as their primary source of income. That's almost 2 million Americans getting paid by the word, the post, or the click -- whether on their site or someone else's…”

Trata-se efectivamente de uma nova realidade, uma nova profissão, uma nova fonte de rendimento, uma nova mentalidade. Da mesma forma que surgiu o informático, o passeador de cães ou o reciclador, temos agora o blogger profissional. “It is hard to think of another job category that has grown so quickly and become such a force in society without having any tests, degrees, or regulation of virtually any kind. Courses on blogging are now cropping up, and we can't be far away from the Columbia School of Bloggerism. There is a lot of interest now in Twittering and Facebooking -- but those venues don't offer the career opportunities of blogging. Not since eBay opened its doors have so many been able to sit at their computer screens and make some money, or even make a whole living".

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Kindle(A)ge e o futuro dos livros

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Nunca como hoje viveu o mundo um período tão fértil e profícuo em termos de geração e de circulação de informação.

Com enorme facilidade temos ao nosso dispôr as mais variadas ferramentas, gadgets, instrumentos, acessórios, periféricos, para aceder e tratar a informação

Por esta razão este tem necessariamente de ser um período rico e incomparavelmente fértil em termos de desenvolvimento e de progresso.

O Kindle é um exemplo vivo desta realidade. A informação à distância de um qlick, milhares de livros ao alcance de uma lista, jornais de todo o mundo, uma verdadeira biblioteca em tempo real e em qualquer lugar. Foi desenvolvido pela Amazoon e constitui um sucesso de vendas que vem revolucionar os livros e a leitura, a logística e o transporte, o correio e as comunicações. Nada será como até aqui, a nossa relação com a informação, a forma como lidamos com revistas, jornais e livros vai mudar e é importante que tenhamos consciência disto.



Partilho a experiência descrita pelo Professor Marty Linsky que de forma ilucidativa descreve o impacto que esta ferramenta teve no seu dia a dia:

“Max and Meredith's generation is already getting most of their reading done online and I, like many of my generation, could not imagine not having the crinkle of a newspaper in my hands.....until I got my Kindle, that is.

Now, we have bookshelves in almost every room of our house. Most are overflowing. I love to read, to curl up with a book before going to bed, to plow through the carton of books I take with me on vacation, or to sit with on a lazy Sunday in our apartment or in Central Park reading and sharing the mood and the space.

The Kindle has changed my life. I never thought I could live without turning the pages. I can. I never thought I could live without sticking Post-its on pages, or making notes to myself on the inside cover. I can. I never thought I could live without the satisfaction of turning that last page in a book. This too, I can. It is the size and weight of a typical paperback. It can hold 1500 books. And I could get magazines and newspapers, including the New York Times, delivered to the device as well. (No, I haven't yet succumbed to reading the Times on my Kindle.)

It is less and less likely that I will ever buy another book in the traditional format. I will certainly buy a lot less of them than I have done in the past. Now, I buy the book I want on Amazon (from the 250,000 that are available) at the computer in my home office and by the time I walk across the hall to me bedroom where the Kindle is plugged in, the book is already downloaded. At $9.99, or less.

The Kindle is not perfect. But it is close. And the Kindle 2 is even closer, at least according to the New York Times guru on personal technology, David Pogue.

Since 2006, Sony has its own device, the Sony Reader. Sony has also just created a strategic alliance with Google to meet the Kindle challenge. Google has finally worked out an agreement with authors and publishers to provide access to its huge digitized inventory on line, although Microsoft and others are trying to get in the way of the agreement every being implemented. The war for our virtual book, magazine and newspaper business is in full swing.

Google "newspaper closes". You'll get 3.8 million hits. Two weeks ago, it was one of my old favourites, the Seattle Post-Intelligencer, that went web-only. And the New York Times reported this weekend that it has threatened the union with closing the Boston Globe where both my wife and I were gainfully employed some time ago.

As a former newspaper journalist I am not one to mourn the loss of newspapers. I have more information, more good information, at my fingertips than I ever did before. Slowly, I am getting comfortable with getting information virtually, spurred on by friends, family and colleagues for whom this is second nature. It is Reset, and it is happening right before my eyes”.

O nosso mundo está cada vez mais pequeno e em simultâneo a nossa capacidade para gerar informação, potenciar conhecimento e descobrir novas realidades é cada vez maior. Será que haverá lugar para conjugar diferentes realidades, ou seremos inexoravelmente transformados pelo progresso e a nossa vida transformar-se-á de forma definitiva, relegando para o arquivo da história os utensílios, as ferramentas e as práticas de hoje?

terça-feira, 21 de abril de 2009

Vamos pensar a Europa!

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Bastou-me assistir à segunda parte do programa da RTP, Prós e Contras, para apanhar o mote e avaliar as prestações dos nossos candidatos e, bem assim, dos nossos partidos.

O programa constituiu um excelente exemplo do país actual e do espírito videirinho que se instalou. Ruído e mais ruído, vácuo e vazio de ideias e de valores. Parecia que nos encontrávamos na assembleia geral de um clube de futebol.
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Uma total e completa ausência de questões europeias, uma total e completa abundância de questões laterais, vazias de contéudo e inconsequentes; o apoio ou não apoio a Durão Barroso, a questão das quotas de mulheres, a questão das candidatas autárquicas que não pretendem abdicar do conforto europeu, a avaliação ou não avaliação da actuação do Presidente da Comissão, etc. Questões pertinentes, sem dúvida, mas será que foram colocadas ou debatidas no local mais apropriado?
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Tivemos ontem um exemplo vivo do estado actual da nossa sociedade; conflituosa, áspera, beligerante, assintosa, rasteira, mediana e redundante, desconfiada e vazia. Este espírito espelha a qualidade da nossa política, revela a imensa necessidade de mudança, a extraordinária importância da reposição de valores de seriedade, de verdade, de altruísmo. Não é por acaso que se instala um clima desta natureza. Aqueles que deveriam constituir um exemplo, aqueles que deveriam funcionar como referências de isenção e de seriedade são os primeiros a vacilar, são os primeiros a cair na teia de interesses e benesses, favores e mordomias, mentiras e falcatruas. Um ambiente desta natureza contamina, contagia e faz apodrecer um país.

Tenho pena que não se tenham discutido temas relevantes e com repercussões para o futuro da União Europeia. Como reagiu a União à crise económica que se faz sentir? Serão estas as melhores opções para lidar com o desemprego e a recessão? Como lidar com a situação complexa em que vivem alguns dos recém chegados à União? Qual o papel do estado e qual a melhor estratégia de actuação? Qual a melhor forma de tirar partido de uma união politica e económica? Quais os critérios e a metodologia para a atribuição de subsídios e ajudas actuais? Quais os perigos e as vantagens da União Europeia actual? Porque é que os portugueses devem votar nestas eleições?

Na realidade, para o português médio que vive momentos de grande dificuldade, que se vê numa situação de desemprego e sem perspectivas de mudança, com graves dificuldades de sobrevivência, quais são as vantagens de pertencer a uma União, e existem várias, versus estar a solo num país cada vez mais inconsequente e irrelevante?

Estou certo de que o debate de ontem não serviu a ninguém, foi antes mais um exemplo do distanciamento do país político em relação ao país real e, se alguém saiu reforçado, foi certamente a abstenção.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Smart(G)ates

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Pouco a pouco, a nova administração americana está a ganhar à vontade e confiança. Depois de uma entrada bastante marcada pelo pacote económico anti-crise, chegou a altura de se começarem a delinear as bases para as tão esperadas mudanças em áreas vitais como a saúde, a educação e a defesa.

Os Estados Unidos são de longe o país que mais gasta em termos militares, e o investimento nesta área alimenta uma indústria gigantesca e tentacular, com grande influência sobre o poder político e, obviamente, grande relevância económica em termos de emprego e de riqueza gerada, um pouco por toda a América. A título de exemplo, o orçamento de defesa para 2009 corresponde a 655$ biliões, ou seja, mais do que os orçamentos de defesa da China, da Rússia, da França e da Inglaterra juntos.

Face a este cenário, a política de redefinição militar esperada e perspectivada por esta administração aponta num claro sentido de redução e reestruração do orçamento e dos gastos militares. Robert Gates, o secretário da defesa, que transita da anterior administração, dá sinais claros de querer enfrentar o lobby do armamento e o lobby militar. As perspectivas são de redimensionamento e a aposta é na adaptação do poder militar à realidade dimensional dos potenciais adversários. O avanço tecnológico e a flexibilidade de movimentos serão, na minha opinião, as preocupações.

Fareed Zakaria, mais uma vez, na sua crónica brilhante da Newsweek, escreve sobre esta matéria e deixa-nos algumas reflexões sobre a capacidade e as dificuldades que Robert Gates irá enfrentar. Reproduzo aqui este artigo clarificador.


Is Robert Gates A Genius?
Published Apr 11, 2009, Newsweek Magazine


"When a true genius appears," the English satirist Jonathan Swift wrote, "you may know him by this sign; that all the dunces are in confederacy against him." Genius might be a bit much as a description of the secretary of defense, but Robert Gates's budget proposal has certainly gathered all the right opponents. There are the defense contractors, worried that decades of fraudulent accounting are coming to a halt; the Beltway consultants for whom the war on terror has been a bonanza; the armed services, which have gotten used to having every fantasy funded; and the congressmen who protect all this institutionalized corruption just to make sure they keep jobs in their state.

If you're wondering where to come down on the Gates plan, here's a simple guide: John McCain, the most thoughtful, reform-minded legislator on military issues, "strongly supports" it. Oklahoma Sen. James Inhofe—who has compared the EPA to the Gestapo, Carol Browner to Tokyo Rose and environmentalists to the Third Reich—warns that it will lead to the "disarming of America." You choose.

In recent decades, defense budgeting has existed in a dreamland, where ever-more-elaborate weapons are built without regard to enemies, costs or trade-offs. In 2008 the General Accounting Office said cost overruns for the Pentagon's 95 biggest weapons programs—just the overruns!—added up to $300 billion. The system has become so pervasive and entrenched that most people no longer bother to get outraged.

The endless flow of cash from the taxpayer has prevented strategic thought. Much of the Pentagon budget is based on wish lists from the services, often lists that were conceived during the Cold War. The Air Force developed such a strong attachment to its F-22 fighter-plane program that it failed to notice that the Soviet Union had collapsed and no great-power rival was around to get into dogfights with the U.S. military. We're fighting two wars right now, and not one of the 135 or so F-22s that we already have is being used in either theater. If you're wondering why the program is still around, here's one reason: its manufacture has been spread across 44 states.

Gates also trims the Navy's wish list, cutting its destroyer program. But here his ambition suddenly dried up. He did propose that the United States scale back one of its aircraft-carrier groups, going from 11 to 10—but it will happen 31 years from now! Even so, of course, he faces the usual conservative opposition. The Wall Street Journal worries that a 300-ship Navy is "perilously small." In the recent clash with Somali pirates, it points out that U.S. warships were "hours away." Well, if you've traveled by sea, you'll know that ships move slower than planes. Given the vastness of the oceans, the fact that American naval vessels could reach a relatively nonstrategic location within a few hours is actually a sign of the incredible reach of the Navy, not the opposite.

Gates has really just begun a much-needed process of rethinking American defense strategy after the Cold War. He has focused sensibly on the wars we are actually fighting, to make sure the military is equipped to wage them success- fully. But while we don't need the F-22, we are still going to make 2,443 F-35s at an eventual cost of $1 trillion. Do we really need those? What is the thinking behind that program?

American military budgets should be based on two competing imperatives. The first is that we are likely to be engaged in small, complex conflicts with much weaker opponents in difficult terrain. In other words, Iraq and Afghanistan. The Gates budget makes intelligent provision for these kinds of wars—in which manpower and intelligence are key. The second requirement is deterrence. The U.S. military protects global sea lanes and, in a general sense, preserves the peace. If the Somali pirates were to cause too much trouble, eventually it would be the United States military that would help tackle them. If the Chinese were considering offensive actions in Asia, it is the American response that would make them cautious.

But these imperatives can surely be satisfied with a military that is leaner, more cost-effective, more efficient and does keep somewhere in mind the capacity of potential adversaries. The U.S. Navy has 11 aircraft-carrier groups. China has zero. The U.S. defense budget for 2009 is $655 billion. China's is $70 billion, Russia's is $50 billion. America's cumulative cost overruns add up to more than the total annual defense budgets of China, Russia, Britain and France combined. This smacks less of deterrence and more of mindless extravagance and waste.

Coming up next for Gates is the Quadrennial Defense Review. He should take the opportunity—his last one to leave a long legacy—and move the United States toward a military strategy that is shaped by the world we actually inhabit. That would make him a true genius. He will certainly have all the dunces arrayed against him to prove it".

Fareed Zakaria, in Newsweek

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Encravada nos Rochedos

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É sempre uma tranquilidade regressar ao Alentejo. Aquela imensidão imensa, aquele olhar cansado. Talvez por ser ilhéu ou apesar desta circunstância nutro um enorme carinho pelo Alentejo. A planície inspira-me, a profundidade tranquiliza-me; as oliveiras, os sobreiros, o gado disperso, o casario ausente e aquele cheiro intenso a terra e feno.

São vários aqueles que se deixam inspirar por esta terra sem fim. O Alentejo é um estado espírito, uma predisposição e por isso são muitos aqueles que o escrevem e que o pintam. Deixo alguns poemas de Miguel Torga e Manuel Alegre sobre o Alentejo:

Miguel Torga, “Alentejo”, in Morena a terra-moreno o canto, Antologia de temática alentejana

(...)
Um corpo nu, em lume ou regelado,
Que tem o rosto da serenidade.


Miguel Torga, “Alentejo”, poema in Diário, X

No Alentejo, em fins de Julho ou princípios de Agosto, o olhar atinge o seu zénite. No horizonte raso e limpo, tudo parece pegado à terra: muros, árvores, medas de palha, montes, quando se avistam distantes. Um delírio de luz sobe à cabeça, como a música das cigarras, e faz doer. As coisas todas estalam como romãs maduras, e ficam cheias de brilhos. Mesmo dentro de casa, com portas e janelas trancadas, a luz entra pelas frestas, entorna-se pelas tijoleiras e reflete-se, tenuamente rosada, na brancura das paredes. (...) Cheira a barro e a cal, cheira a coentros e a queijo seco. Cheira ao que é da terra e regressa à terra. (...) Neste longo, ardente verão do sul, apenas as cigarras têm modulações amplas. À roda tudo é silêncio e secura. Os próprios homens quase não têm fala, mas os seus olhos queimam como duas pedras expostas ao sol durante milhares de dias. (...)

...

Manuel Alegre, “Alentejo”, in Alentejo e Ninguém

Rumor tão breve
música do ser
(...)
E de súbito um choupo
Talvez o canto.
Tão pouco
e tanto.

A este propósito, revisitar o Marvão é regressar às origens da nacionalidade, é viajar pelo tempo, conviver com batalhas, escalar muralhas, construir castelos, é sentir um povo que definha, umas raízes que desvanecem, uma história que se esfuma no nevoeiro.

Mas o Marvão é também um pouco do que melhor nos caracteriza; a resistência, a criatividade, a capacidade de empreender, a força e a audácia na luta contra as adversidades. Encravada nos rochedos, a Vila do Marvão resiste às intempéries da idade, à voracidade da mudança.

A Vila do Marvão localiza-se no Distrito de Portalegre, região Alentejo e sub-região do Alto Alentejo, com cerca de 645 habitantes. Situa-se no topo da Serra do Sapoio, a uma altitude de 860 metros. É sede de um município com 154,85 km² de área e 4.029 habitantes (2001), subdividido em 4 freguesias. O município é limitado a norte e leste pela Espanha, a sul e oeste pelo município de Portalegre e a noroeste por Castelo de Vide.

“Marvão deve o seu nome a Ibn Marwan al-Yil'liqui «O Galego» (morto c. 889), líder de um movimento sufista no Al-Andaluz, que pegou em armas contra os emires de Córdova e criou uma espécie de reino independente sediado em Badajoz até à instauração do califado de Córdova em 931”.

Segundo reza a história muitas foram as batalhas aqui travadas e muitos foram os acontecimentos que aqui ocorreram. A Câmara Municipal refere a título de exemplo:

“Em 1226, D. Sancho II atribui a Marvão o seu primeiro foral, um dos primeiros forais régios no Alentejo.

A importância estratégica de Marvão - e de outros Castelos da raia - levam D. Dinis a disputá-lo a seu irmão D. Afonso, no ano de 1299, apoderando-se da fortificação”.

Na crise de 1383-1385 dá-se a tomada do Castelo por forças partidárias do Mestre de Avis, após renhido combate que durou meio dia.

Aquando da Guerra da Restauração de 1641-1668, a velha fortificação medieval é reabilitada face às novas tecnologias de guerra, ficando abaluartada nas zonas sensíveis e transformando-se o Castelo na sua cidadela. No decorrer da guerra desempenha um importante papel na defesa do Alto Alentejo”.

sábado, 11 de abril de 2009

O Modelo Americano

(Deixo o artigo que publiquei este fim de semana no Semanário Expresso)


Nos Estados Unidos, a distribuição de correio remonta ao ano de 1775, altura em que foi assumido pelo Congresso que a circulação de cartas e a partilha de informação eram essenciais à causa da liberdade. Dá-se então o primeiro passo na criação do sistema postal, instituindo a função de Postmaster General.

Os titulares desta função passaram, a partir de 1788, a reportar directamente ao Presidente e os nomes de muitos que a exerceram abonam a favor do prestígio que os serviços postais assumiam: Benjamin Franklin, Founding Father da nação e, mais tarde, Abraham Lincoln e Harry Truman.

No final dos anos 60, níveis de crescimento elevados obrigaram o Presidente Lyndon Johnson a nomear uma Comissão para a Reorganização Postal. Desta Comissão emanaram directivas várias que serviram de base à “Postal Reform” de 1970. A responsabilidade operacional investida num Conselho de Governadores e numa Comissão de Gestão Executiva em vez de no Congresso é talvez uma das mais significativas. O objectivo era assegurar a continuidade da gestão através da remoção de toda e qualquer influência política.

Neste modelo, o Conselho de Governadores é formado por nove elementos nomeados pelo Presidente, com a aprovação e aconselhamento do Senado. Estes nove governadores escolhem o Postmaster General, que também passa a ter assento no Conselho e que tem um mandato indefinido sujeito ao Conselho. Os dez nomeiam o Deputy Postmaster General que passa a deter o poder executivo.

Os governadores são escolhidos para representar o interesse público e apenas cinco podem pertencer ao mesmo partido. Os mandatos dos governadores variam entre um e nove anos e, no início de cada ano, é escolhido um “Chairman of the Board”. O Conselho de Governadores reúne-se mensalmente e, salvo disposição em contrário, todas as reuniões são abertas ao público. Cada governador recebe 300$ por dia de sessão, tem as despesas pagas e recebe anualmente um salário de 30.000$.

A United States Postal Service (USPS) é a segunda maior empregadora dos Estados Unidos e a quarta maior do mundo, emprega 700 mil funcionários. Processa cerca de 212 biliões de objectos por ano, gere a segunda maior frota de veículos do mundo, lida com 50% do correio gerado, distribuindo mais correio para mais moradas numa área geográfica, do que qualquer outra empresa. Presentemente, cerca de 90% do correio (cartas) não regista qualquer intervenção humana até ser entregue na morada final. A USPS possui um desenvolvimento tecnológico invejável e caminha para um nível de mecanização sem rival, antecipando a maior reforma postal do século XXI.

O modelo implementado em 1971 provou os seus méritos e constitui uma demonstração de maturidade política e uma preocupação genuína com a eficiência e com o profissionalismo. No momento actual, em que se assiste a uma cavalgada estatizante, um modelo que assegure a continuidade temporal e a estabilidade das equipas executivas, que se foque numa gestão eficiente, que aposte no mérito, mais do que na fidelidade política, e que assegure a transparência com um custo comportável pelo contribuinte; é essencial para garantir o sucesso de uma gestão em tempos de crise.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

“Cherry Blossom”

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O passado fim-de-semana representou o apogeu da floração das cerejeiras em “Tidal Basin”, Washington DC. Foi com pesar que não assisti a este maravilhoso espectáculo da natureza, a comunhão da cor e da vida. A flor da cerejeira marca o fim do Inverno e anuncia a Primavera. Washington veste-se a rigor para celebrar este evento e é um privilégio estar na cidade nesta altura do ano.
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As cerejeiras estão espalhadas por toda a cidade, mas é junto à enseada “Tidal Basin”, contígua ao Potomac River que encontramos uma maior concentração. As cerejeiras foram uma oferta do governo Japonês ao povo americano, em 1912. Mais de 3700 pululam pelas margens do rio, junto ao "Lincoln Memorial" e pelas franjas do "National Mall" que desagua em "Capitol Hill".


As cerejeiras são originárias da Ásia e, na cultura japonesa, sakura significa "flor de cerejeira". Por causa da sua curtíssima duração (cerca de duas semanas, com apenas três ou quatro dias de pico), a floração das cerejeiras ou sakura tem um forte simbolismo relacionado com a natureza transitória da vida e tem sido inspiração para diversas formas de arte. Na realidade, a cerejeira era associada ao samurai, cuja vida era tão efémera quanto a da sua flor.

Este é um tempo de festa em Washington; música, bailados, musicais, enfim, a cultura e a arte a que a cidade já nos habituou. O "National Cherry Blossom Festival" corporiza estas manifestações e representa uma iniciativa muito aguardada e frequentada por pessoas de todas as paragens.

Segundo informação desta entidade organizadora, este ano, o pico da floração ocorreria entre os dias 1 e 4 de Abril. Os jardineiros do "National Park Service" monitorizam os 5 diferentes estádios de desenvolvimento da flor e fornecem informações actualizadas regularmente. A esperança é de que este acontecimento coincida com o próprio Festival e, neste sentido, as previsões estão envoltas em grande expectativa.

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O auge da floração é considerado o dia em que pelo menos 70% das flores que circundam “Tidal Basin” estão abertas. A data precisa em que as cerejeiras Yoshino atingem este pico varia de ano para ano, dependendo das condições atmosféricas e, desta forma, a data do "National Cherry Blossom Festival" é baseada na média das datas de floração. Em 1990, este processo ocorreu a 15 de Março e, em 1958, em 18 de Abril.

Washington em todo o seu esplendor é inundada de rosa e um sentimento de paz e de tranquilidade paira no ar. O poder rendido à beleza, a cor que se instala na paisagem, o simbolismo que invade a cidade.
Deixo algumas imagens do passado fim de semana:


sexta-feira, 3 de abril de 2009

"Nunca se deve dar poder a um tipo porreiro"

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No jornal Público de ontem a jornalista Helena Matos escreveu um artigo muito interessante sobre, mais uma vez, a podridão actual. Transcrevo aqui este artigo:

"O porreirismo de Sócrates, pela natureza do cargo que ocupa, criou um problema moral ao paísNo início, ninguém dá nada por eles. Mas, pouco a pouco, vão conseguindo afirmar o seu espaço. Não se lhes conhece nada de significativo, mas começa a dizer-se deles que são porreiros. Geralmente estes tipos porreiros interessam-se por assuntos também eles porreiros e que dão notícias porreiras.

Note-se que, na política, os tipos porreiros muito frequentemente não têm qualquer opinião sobre as matérias em causa mas porreiramente percebem o que está a dar e por aí vão com vista à consolidação da sua imagem como os mais porreiros entre os porreiros. Ser considerado porreiro é uma espécie de plebiscito de popularidade. Por isso não há coisa mais perigosa que um tipo porreiro com poder. E Portugal tem o azar de ter neste momento como primeiro-ministro um tipo porreiro. Ou seja, alguém que não vê diferença institucional entre si mesmo e o cargo que ocupa. Alguém que não percebe que a defesa da sua honra não pode ser feita à custa do desprestígio das instituições do Estado e do próprio partido que lidera.


O PS é neste momento um partido cujas melhores cabeças tentam explicar ao povo português por palavras politicamente correctas e polidas o que Avelino Ferreira Torres assume com boçalidade: quem não é condenado está inocente e quem acusa conspira. Nesta forma de estar não há diferença entre responsabilidade política e responsabilidade criminal. Logo, se os processos forem arquivados, o assunto é dado por encerrado. Isto é o porreirismo em todo o seu esplendor. Acontece, porém, que o porreirismo de Sócrates, pela natureza do cargo que ocupa, criou um problema moral ao país.


Fomos porreiros e fizemos de conta que a sua licenciatura era tipo porreira, exames por fax, notas ao domingo. Enfim tudo "profes" porreiros. A seguir, fomos ainda mais porreiros e rimos por existir gente com tão mau gosto para querer umas casas daquelas como se o que estivesse em causa fosse o padrão dos azulejos e não o funcionamento daquele esquema de licenciamento.
E depois fomos porreiríssimos quando pensámos que só um gajo nada porreiro é que estranha as movimentações profissionais de todos aqueles gajos porreiros que trataram do licenciamento do aterro sanitário da Cova da Beira e do Freeport. E como ficámos com cara de genuínos porreiros quando percebemos que o procurador Lopes da Mota representava Portugal no Eurojust, uma agência europeia de cooperação judicial? É preciso um procurador ter uma sorte porreira para acabar em tal instância após ter sido investigado pela PGR por ter fornecido informações a Fátima Felgueiras.
Pouco a pouco, o porreirismo tornou-se a nossa ideologia. Só quem não é porreiro é que não vê que os tempos agora são assim: o primeiro-ministro faz pantomina a vender computadores numa cimeira ibero-americana? Porreiro. Teve graça não teve? Vendeu ou não vendeu? Mais graça do que isso e mais porreiro ainda foi o processo de escolha da empresa que faz o computador Magalhães. É tão porreiro que ninguém o percebeu mas a vantagem do porreirismo é que é um estado de espírito: és cá dos nossos, logo, és porreiro. E foi assim que, de porreirismo em porreirismo, caímos neste atoleiro cheio de gajos porreiros.
O primeiro-ministro faz comunicações ao país para dizer que é vítima de uma campanha negra não se percebe se organizada pelo ministério público, pela polícia inglesa e pela comunicação social cujos directores e patrões não são porreiros. Os investigadores do ministério público dizem-se pressionados.

O procurador-geral da República, as procuradoras Cândida Almeida e Maria José Morgado falam com displicência como se só por falta de discernimento alguém pudesse pensar que a investigação não está no melhor dos mundos... Toda esta gente é paga com o nosso dinheiro. Não lhes pedimos que façam muito. Nem sequer lhes pedimos que façam bem. Mas acho que temos o direito de lhes exigir que se portem com o mínimo de dignidade.
Um titular de cargos políticos ou públicos pode ter cometido actos menos transparentes. Pode ser incompetente. Pode até ser ignorante e parcial. De tudo isto já tivemos. Aquilo para que não estávamos preparados era para esta espécie de falta de escala. Como se esta gente não conseguisse perceber que o país é muito mais importante que o seu egozinho. Infelizmente para nós, os gajos porreiros nunca despegam."
Helena Matos Jornalista, in Público

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Grau Zero!!

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Devemos fazer um esforço para nos colocarmos fora do ambiente político, social e económico que se vive actualmente em Portugal. Uma saída discreta para a “balcony”, para utilizar uma expressão do professor Marty Linsky, aplicada ao conceito de liderança, ajuda-nos a olhar com algum distanciamento para o estado actual das coisas.

Vivemos num país endividado a um nível incomportável, com um modelo económico esgotado e incapaz, empresas a fechar a um ritmo alucinante e desemprego a cavalgar as estatísticas, crime e insegurança a disparar, uma sociedade injusta e desigual, onde o poder, a influência e os benefícios são só para alguns.
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E, qual cereja no topo do bolo, a corrupção generalizada, as benesses, as ajudas, os favores e o amiguismo.

O caso Freeport tem sido paradigmático e constituirá certamente uma referência para as gerações futuras em termos do grau zero da nossa sociedade, da nossa classe política, da nossa justiça e da nossa polícia.

Nunca como neste caso, foi tão clara a rede de influências, a teia de interesses, o sabor acre do clientelismo politico, a tentacularidade dos interesses instalados. Nunca como neste caso ,desceu tão baixo o prestígio das instituições e a dignidade da representatividade política. Nunca como neste caso, foi tão assustadoramente evidente a pressão sobre meios de comunicação, magistrados e polícias. Nunca como neste caso, foi tão clara a diferença abismal de tratamento entre políticos e cidadãos normais. Nunca como neste caso, foi tão evidente quais os desígnios e as preocupações que interessam à nossa classe dirigente.

Descemos ao grau zero. Estamos pobres, sem esperança no futuro, sem visão, sem desígnios e ainda mais agonizante, sem alternativas credíveis e galvanizantes. Mais grave, ficamos com a sensação aterradora de que a generalidade dos eleitores prefere corruptos decididos, são vários os casos, a sérios competentes. Não sei se por força da necessidade, se por conforto da acomodação profissional, se por aversão à mudança, se por puro masoquismo social, se por desmotivação ou, mais preocupante, se por manifesta incompetência da classe política em apresentar uma alternativa credível para assumir a liderança do país.

Infelizmente, talvez por exigência da nossa sociedade, os políticos actuais tendem a dizer todos o mesmo ou, pior, a proferir frases deliberadamente incompreensíveis. A retórica política encheu-se de slogans, de “sound bytes”, de vazio, usados à esquerda e à direita. O consenso faz desta geração de políticos uma raça de especialistas em relações públicas, homens que deixaram de acreditar no que quer que seja. Independentemente da sua cor partidária, todos pensam como Clinton, um mentiroso consciente, quando este dizia não serem as propostas políticas a motivar o eleitorado, mas a forma como surgem embaladas..


Não será esta, curiosamente, uma das razões por que a actual alternativa política não recolhe a adesão e o interesse do eleitorado?