quarta-feira, 1 de abril de 2009

Grau Zero!!

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Devemos fazer um esforço para nos colocarmos fora do ambiente político, social e económico que se vive actualmente em Portugal. Uma saída discreta para a “balcony”, para utilizar uma expressão do professor Marty Linsky, aplicada ao conceito de liderança, ajuda-nos a olhar com algum distanciamento para o estado actual das coisas.

Vivemos num país endividado a um nível incomportável, com um modelo económico esgotado e incapaz, empresas a fechar a um ritmo alucinante e desemprego a cavalgar as estatísticas, crime e insegurança a disparar, uma sociedade injusta e desigual, onde o poder, a influência e os benefícios são só para alguns.
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E, qual cereja no topo do bolo, a corrupção generalizada, as benesses, as ajudas, os favores e o amiguismo.

O caso Freeport tem sido paradigmático e constituirá certamente uma referência para as gerações futuras em termos do grau zero da nossa sociedade, da nossa classe política, da nossa justiça e da nossa polícia.

Nunca como neste caso, foi tão clara a rede de influências, a teia de interesses, o sabor acre do clientelismo politico, a tentacularidade dos interesses instalados. Nunca como neste caso ,desceu tão baixo o prestígio das instituições e a dignidade da representatividade política. Nunca como neste caso, foi tão assustadoramente evidente a pressão sobre meios de comunicação, magistrados e polícias. Nunca como neste caso, foi tão clara a diferença abismal de tratamento entre políticos e cidadãos normais. Nunca como neste caso, foi tão evidente quais os desígnios e as preocupações que interessam à nossa classe dirigente.

Descemos ao grau zero. Estamos pobres, sem esperança no futuro, sem visão, sem desígnios e ainda mais agonizante, sem alternativas credíveis e galvanizantes. Mais grave, ficamos com a sensação aterradora de que a generalidade dos eleitores prefere corruptos decididos, são vários os casos, a sérios competentes. Não sei se por força da necessidade, se por conforto da acomodação profissional, se por aversão à mudança, se por puro masoquismo social, se por desmotivação ou, mais preocupante, se por manifesta incompetência da classe política em apresentar uma alternativa credível para assumir a liderança do país.

Infelizmente, talvez por exigência da nossa sociedade, os políticos actuais tendem a dizer todos o mesmo ou, pior, a proferir frases deliberadamente incompreensíveis. A retórica política encheu-se de slogans, de “sound bytes”, de vazio, usados à esquerda e à direita. O consenso faz desta geração de políticos uma raça de especialistas em relações públicas, homens que deixaram de acreditar no que quer que seja. Independentemente da sua cor partidária, todos pensam como Clinton, um mentiroso consciente, quando este dizia não serem as propostas políticas a motivar o eleitorado, mas a forma como surgem embaladas..


Não será esta, curiosamente, uma das razões por que a actual alternativa política não recolhe a adesão e o interesse do eleitorado?

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