quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

"PIGS"

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A verdadeira situação económica e financeira de muitos países começou a desvendar-se com o agravar da crise internacional e a necessidade de aumentar as políticas públicas para fazer face às situações calamitosas das diferentes economias. O estofo das mudanças estruturais apregoadas, a consistência das reduções de deficites alcançadas e a verdadeira eficiência das medidas publicitadas seriam agora escrutinadas.
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Vários países, entre os quais Portugal, Grécia, Irlanda e Espanha, atolados em dívidas, a braços com economias débeis e a sofrer o efeito de uma queda generalizada das exportações e do consumo, entravam em recessões profundas e com reduzidas perspectivas de recuperação. Na altura, Janeiro de 2009, e face a este cenário, surgiu a classificação destes países através do acrónimo PIGS (Portugal, Ireland, Greece, Spain), nada abonatório e profundamente depreciativo aliás. Segundo Martin Dell da Kyero.com: “PIGS is an acronym for a group of four countries. Portugal, Ireland, Greece and Spain - all in deep economic trouble in the eurozone. These are the four countries reckoned to be suffering from having to stick with the euro - and with the European Central Bank's interest rate policy. Standard & Poor's, the ratings agency, thinks these four countries may have to ask the International Monetary Fund for help.”
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É óbvio que entre estes quatro países, existem uns que estarão mais próximo da pocilga do que outros. A Irlanda, a estrela da década, tomou medidas ferozes para fazer face à situação. Um plano ambicioso de redução de custos, onde se perspectivam reduções nos salários da função pública e da classe política, na ordem dos 15% a 20%. Para além deste facto, importa referir que a Irlanda, contrariamente a outros países, possui uma carga fiscal baixa e reúne por isso, condições ou margem para aumentar os impostos confortavelmente.
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A Espanha, uma potência mundial com níveis de desemprego brutais, uma economia estagnada e uma queda significativa das exportações, estremece mas resiste. Esta é também uma das maiores economias do mundo, com enormes potencialidades e um nível de desenvolvimento invejável. Apesar dos valores elevados de desemprego, o país possui uma credibilidade internacional junto dos mercados financeiros que não é similar a outras economias.
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Restam-nos Portugal e a Grécia relativamente aos quais não há muito a referir. Transcrevo apenas uma notícia de hoje do Jornal de Negócios que, para o efeito, é elucidativa:
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O cenário, descrito em termos alarmistas, é traçado pela Moody’s, a agência de “rating” que diz estar à espera do novo Orçamento de Estado para decidir se vai voltar a baixar a notação de risco da República portuguesa, aconselhando, deste modo, os investidores a cobrarem juros mais altos para financiar as políticas públicas nacionais.
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Ao longo de um extenso relatório dedicado às perspectivas de evolução da dívida soberana dos países europeus, a Moody’s atrela recorrentemente o caso grego ao português, considerando que ambos falharam no saneamento das finanças públicas durante os tempos das "vacas gordas" – que, por cá, foram quase sempre magras – e que são “os dois exemplos de países que exibem uma baixa competitividade estrutural” no seio da Zona Euro, que se reflecte em elevados défices externos.
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Neste contexto, a Moody’s diz que o risco de uma “morte súbita”, deflagrada por uma crise na balança de pagamentos, corresponde a uma probabilidade “negligenciável”. Mas, em contrapartida, a agência de notação de risco considera “provável” um cenário de “morte lenta” – que faz lembrar o tal “definhamento” a que Ernâni Lopes há muito considera estar condenada a economia portuguesa.
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Porquê? Porque a falta de competitividade estrutural acabará por resultar numa “sangria de potencial de crescimento” e, logo, numa redução na capacidade de os Estados arrecadarem receitas fiscais, obrigando-os a afundarem-se, ainda mais, na espiral de endividamento em que já mergulharam.”

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