Os portugueses têm por natureza, uma capacidade infindável para se perderem em assuntos laterais. Dedicam tempos sem fim a falar de minudências e pormenores, investem horas em reuniões de trabalho inconsequentes, apostam em noticiários e artigos de jornal vazios de contéudo, indignam-se com detalhes e extasiam com as vidas privadas dos conhecidos, gastam tempos incomensuráveis em transportes e apodrecem nos escritórios até às nove da noite, para impressionar o chefe.
A este propósito os temas dominantes dos últimos dias andam à volta das faltas dos deputados, irresponsáveis lúcidos; do julgamento da Casa Pia, continua cinco anos depois; das reuniões, negociações, greves, acordos, não acordos entre a nossa imparável Ministra da Educação e os "profissionais da sindicância".
Enquanto o país se preocupa com as falcatruas do BPN e companhia, o mundo continua na sua senda de crise e estagnação generalizadas. Os Estados Unidos, a um mês da tomada de posse do novo presidente, rejeitam, corajosamente, a ajuda financeira à indústria automóvel. Durão Barroso, no seu esforço constante para a reeleição, consegue in extremis a aprovação de um Plano de Ajuda conjunto que constitui a chave de ouro para um período de gastos incontroláveis e na minha opinião, e na maioria dos casos, inconsequentes.
Portugal prepara-se, agora legitimado por Barroso, para um bodo eleitoralista que irá fazer disparar, uma vez mais o nosso deficit. Alegres continuamos a pedalar para nos mantermos na mesma posição - a chamada "estratégia do urinol"
(Urinóis da Carcoran Gallery em Washington DC)
Transcrevo na íntegra uma notícia de hoje do Jornal de Negócios que nos deve preocupar e que infelizmente constitui a realidade que nos reduz à nossa insignificância e nos recorda a nossa incapacidade crónica.
“Os portugueses não sentiram melhorias significativas no seu nível de rendimento nos últimos 13 anos face aos parceiros comunitários, de acordo com os dados divulgados ontem pelo gabinete de estatísticas comunitário.
Portugal está na cauda da Zona Euro, perdeu poder de compra entre 2005 e 2007, já foi ultrapassado por Chipre, Eslovénia, Malta e República Checa - que só integraram a União Europeia em 2004. E a distância em relação ao poder de compra de outros novos Estados-membros como a Eslováquia, Polónia e Lituânia está cada vez mais curta.
Em 2007, o poder de compra dos portugueses encontrava-se 23,8% abaixo da média da União Europeia (UE), apenas 1,2 pontos percentuais acima da distância registada em 1995, altura em que se inicia a série de dados comparáveis disponibilizados pelo Eurostat. Isto não significa, necessariamente, que, em termos absolutos, o poder de compra não registou melhorias por cá. Apenas confere a certeza de que os restantes Estados-membros conseguiram no mesmo período uma melhoria mais significativa do que o nosso País, onde o rendimento por habitante, medido em paridade do poder de compra, foi de 18.955,8 euros em 2007, bem abaixo dos 27.162 euros da vizinha Espanha ou dos 66.307,7 euros do Luxemburgo”.
[French satirical cartoon map (’Carte drôlatique d’Europe pour 1870‘) sought to get some laughs out of those tensions by showing an anthropomorphic map of Europe, where each country was represented by a caricature of its national ‘persona’]
Estas são as questões essenciais, são estes os problemas que deviam abrir os telejornais e aparecer nas capas dos principais jornais, esta é a temática relevante que devia mobilizar opiniões e suscitar debates. Esta é a nossa realidade, nua e crua, não evoluímos, não melhoramos, não progredimos.