quarta-feira, 19 de novembro de 2008

“Team of Rivals”

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“Team of Rivals” ou Equipa de Rivais é um livro extraordinário sobre a vida e a obra de Abraham Lincoln. Constitui mais um trabalho profundo e cativante de Doris Kearns Goodwin, vencedora de um Pulitzer Prize.

Goodwin escreveu já várias obras sobre presidentes americanos. Em todas elas revela-nos as qualidades políticas daqueles, a sua firmeza de carácter, a sua capacidade para influenciar, o seu espírito de missão e a sua carreira politica. Livros como: “Lyndon Johnson and the American Dream”, “The Fitzgeralds and the Kennedys: An American Saga”, “No Ordinary Time: Franklin and Eleanor Roosevelt: The Home Front in World War II”, constituem verdadeiros documentos históricos recheados de relatos ricos sobre a envolvente política da época, a sociedade e acima de tudo representam uma análise cativante sobre a personalidade destas figuras marcantes.

“Team of Rivals” é também um livro sobre politica, liderança, humildade, visão e inteligência. Abraham Lincoln foi um dos mais relevantes presidentes americanos e a sua capacidade de liderança influenciou de forma decisiva a evolução do curso da história deste país. Dotado de uma inteligência superior, portador de uma humildade imensa, lutou pela abolição da escravatura e foi o principal responsável pela união dos estados.

Doris Kearns Goodwin descreve-nos, na primeira parte do livro, todo o processo político-eleitoral que conduziu à nomeação de Lincoln na convenção do partido republicano, para candidato à presidência dos Estados Unidos. Ficamos a conhecer os candidatos rivais, as suas histórias pessoais, a sua carreira política, as suas prioridades e as suas ambições: William Henry Seward, líder do partido a partir de 1856, senador e governador de Nova York; Salmon P. Chase, experiente senador republicano; Edward Bates, juiz conceituado e finalmente Abraham Lincoln, de origem humilde, com uma carreira relativamente obscura e desconhecido até então. A imprensa ainda soletrava o seu nome erradamente “Abram”.

Lincoln era, contudo, menos radical do que Chase, mais firme no combate à escravatura do que Bates e tinha menos inimigos do que Seward. Também por estas razões foi o escolhido, com alguma surpresa dos rivais, para candidato presidencial e viria a ganhar de forma esmagadora contra o democrata Stephen Douglas, o “National Democrat” John Breckinridge e John Bell representando a União Constitucional, chegando assim a décimo sexto presidente dos Estados Unidos.

“Team of Rivals” descreve-nos o processo de escolha da sua equipa directa e a surpresa que constituiu a decisão de convidar os seus rivais para integrarem o seu governo. Lincoln escolheu Seward para “Secretary of State”, Chase para “Secretary of Treasure”, Bates para “Attourney General” e Simon Cameron, seu rival na Pensilvânia, para “Secretary of the War”. Este último viria a ser substituído pelo Democrata Edwin M. Stanton que o desprezava de forma veemente, mas que viria a tornar-se seu fiel amigo.

Com todos eles agiu com subtileza mas com segurança, com firmeza mas com sensibilidade, confiou na sua capacidade, soube reconhecer-lhes o valor e tirar o máximo partido das suas competências, da sua ambição pessoal e da sua influência, a bem do país.


Obama, sem pudor, costuma comparar-se a Lincoln. Ambos têm origens humildes e eram pouco conhecidos, ambos serviram o estado do Ilinois e ambos têm uma inteligência superior. Segundo Evan Thomas e Richard Wolffe da Newsweek, “Two thin men from rude beginnings, relatively new to Washington but wise to the world, bring the nation together to face a crisis. Both are superb rhetoricians, both geniuses at stagecraft and timing. Obama like Lincoln and unlike most modern politicians even writes his own speeches…”


Barack Obama evidencia pretender seguir o mesmo modelo nas escolhas para o seu governo. Escolheu Eric Holder para “Attourney General”, polémico jurista que sempre se opôs à politica de Bush dos campos de Guantánamo, criticou toda a sua politica de justiça e é o primeiro afro americano a ocupar este cargo.

Convidou a sua mais directa rival, Hillary Clinton, para “Secretary of State”, numa demonstração de coragem, de enorme inteligência política e de grande preocupação com o país. Hillary seria uma boa “Secretary of State”, é uma mulher inteligente e conhecedora, frequentadora dos areópagos de decisão internacionais e sensível à necessidade de apostar na diplomacia e na política de recuperação da imagem e de fomento das relações que esta administração vai iniciar.

Parece apostar na manutenção de Robert Gates, actual “Secretary of Defense”, em virtude do trabalho relevante que tem desenvolvido para reorganizar o Pentágono e mesmo na condução da guerra no Iraque.
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Fala-se na colaboração do republicano Collin Powell e do possível convite a Al Gore para a energia; seria a possibilidade de este implementar a politica verde que tanto apregoa. Reuniu-se já o com o seu adversário de eleição McCain e consta que definiu como pretende contar com a sua ajuda.

Até Liberman, que o criticou contundentemente e desertou para apoiar McCain, foi salvo in extremis por um telefonema de última hora, quando os seus colegas democratas se preparavam para o crucificar. Liberman vai continuar a chefiar o importante Comitê de “Homeland Security”.
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Obama tem revelado inteligência, visão e humildade. As suas intenções parecem positivas e a sua equipa caminha para se tornar única na história recente dos Estados Unidos.
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