Assisti recentemente ao documentário “Crisis: Behind a Presidential Commitment” de Robert Drew, um documento histórico sobre a forma como o Presidente John Kennedy e o "Attorney General", seu irmão Robert, lidaram com a oposição do Governador George Wallace à integração racial na Universidade do Alabama.
:::
Em 1963, dois jovens negros decidiram matricular-se na universidade estadual do Alabama, enfrentando o poder instituído e desafiando os preconceitos racistas, ainda tão presentes nos estados do sul. James Hood e Vivian Malone revelaram a sua coragem e a sua determinação ao enfrentarem os interesses instalados, num estado conservador e tradicional, alimentados pelo primarismo de um Governador irresponsável.:
:
Em 1963, dois jovens negros decidiram matricular-se na universidade estadual do Alabama, enfrentando o poder instituído e desafiando os preconceitos racistas, ainda tão presentes nos estados do sul. James Hood e Vivian Malone revelaram a sua coragem e a sua determinação ao enfrentarem os interesses instalados, num estado conservador e tradicional, alimentados pelo primarismo de um Governador irresponsável.:
:
A questão relevante colocou-se quando o Governador afirmou que ficaria na porta da universidade para impedir os dois jovens de entrarem e de se matricularem. O gesto por si só representava uma afronta directa à legislação federal de 1954, que abolia a segregação racial nos Estados Unidos e, consequentemente, o desrespeito pelo cumprimento de uma ordem judicial federal.
:É certo que o processo de implementação da legislação de 1954 demorou a sair do papel no sul, onde a resistência dos brancos era muito forte. Os primeiros anos da década de 1960 foram de fortíssima actividade do movimento dos direitos civis na região, com greves, boicotes, manifestações e marchas. Precisamente nos estados mais racistas, Alabama e Mississipi, os protestos quase sempre terminavam em pancadaria ou mesmo assassinatos, com a polícia fechando os olhos, enquanto o Ku Klux Klan e outros grupos extremistas cometiam os seus crimes.
:
Robert Drew, de forma exemplar, retrata-nos, in loco, a maneira como os Kennedys lidaram com a crise, procurando equilibrar o seu compromisso com os direitos civis, com a necessidade de não perder apoio político no sul e com a preocupação de manter a ordem e minimizar os desacatos. O Presidente permitiu um acesso sem precedentes a Robert Drew e à sua equipa de filmagens, que conseguiram assim acompanhar o processo de decisão dos dois lados; esta é, aliás, uma das mais valias deste documentário.
:Uma sucessão de telefonemas entre o Presidente Kennedy, o “Attorney General” Robert Kennedy e o “Deputy Attorney General” Nicholas Katzenback, apresenta-nos um plano cuidadosamente articulado e coordenado, uma lição de estratégia política tão necessária para os dias que se vivem na cena portuguesa. Este é, sem dúvida, o trabalho mais íntimo e espontâneo alguma vez feito sobre JFK e RFK. Drew consegue captar a cumplicidade, a inteligência e a força destes irmãos, ao longo de todo o processo que os conduziu a uma assinalável vitória, em termos de direitos civis e igualdade racial.
:O Presidente encarregou Robert Kennedy do caso. No final, Wallace recuou quando a Casa Branca assumiu o controlo da Guarda Nacional do Alabama e mobilizou as tropas para garantir a matrícula dos estudantes. Em sinal de derrota, Wallace é deixado a espumar na sua irrelevância, mais um dinossauro cuja arrogância e a sobranceria conduziram à sua ruína.
:É difícil não nos impressionarmos com a enorme capacidade de articulação e negociação política de Robert, ou com o tom decidido de John ao fazer o célebre discurso de 11 de Junho de 1963, em que se dirige ao país para comentar o incidente no Alabama. Reiterando o seu compromisso inequívoco com os direitos civis, o Presidente, naquele seu tom determinado e emotivo, apela à liberdade de tratamento, à liberdade de oportunidades e à igualdade de direitos. Um discurso marcante que ainda hoje emociona.
Cinco meses depois de “Crisis”, Kennedy era assassinado em Dallas.