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Achei apropriado utilizar este título revolucionário para caracterizar o meu estado de espírito actual. Estamos em período pré-eleitoral, os ânimos estão agitados, a expectativa é grande, a incerteza, apesar de menor, continua a existir. Por tudo isto e mais. Porque sou um democrata e um apologista da liberdade e da igualdade de oportunidades, porque defendo a ética e luto pelos valores da justiça, do mérito e do progresso, jamais me calarei face à situação actual do nosso país.


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Descobri este título enquanto vagueava pelo site do New Museum, em New York. Em Junho passado, tive oportunidade de visitar este estonteante museu, no coração de Manhattan. Passeei-me pelos vários andares, deliciei-me com as instalações contestatárias, com as esculturas de arte contemporânea, com os murais desconfortáveis, quase chocantes.
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Este museu da modernidade, em pleno Lower East Side foi desenhado por Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa. Depois de dois anos de trabalhos, o New Museum reabriu no dia 1 de Dezembro de 2007. Este acontecimento, para além da óbvia importância no meio artístico, revestiu-se de um significado muito particular. A famosa zona da Bowery na baixa de Manhattan passou a conhecer uma nova vida, uma vez que foi a primeira vez que um acontecimento cultural desta envergadura teve lugar abaixo da Rua 14.

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O edifício que de fora parece bastante amplo, talvez pelo equilíbrio em altura da sua construção, feita em cubos sobrepostos, deslocados e forrados homogeneamente por uma malha metálica é, no interior dos andares onde se situam as galerias sem divisões, muito menos impressionante, mas harmonioso no seu despojamento e nos materiais sólidos e sóbrios. O último andar – uma enorme sala de festas com uma varanda em volta – e uma vista fabulosa que vai da zona baixa da Bowery e do Soho até aos edifícios altos do City Hall.

“The Deeper They Bury Me, The Louder My Voice Becomes” é o título de uma exposição actual de um artista de origem portuguesa. Ricardo Gouveia, mais conhecido como Rigo 23 nasceu na ilha da Madeira em 1966 e ai viveu durante alguns anos até se instalar em San Francisco, na Califórnia. Estudou no “San Francisco Art Institute” e na “Stanford University” e é, actualmente, um dos mais conceituados artistas contestatários e planfletários do mundo.

Rigo 23 tem exposto os seus trabalhos, nos últimos vinte anos, um pouco por todo o mundo. Murais, pinturas, esculturas, azulejos e placards de grandes dimensões, sempre estrategicamente posicionados de forma a permitir a discussão e a reflexão, numa sociedade virada para dentro e mais habituada a aceitar do que a contestar. As suas obras vivem enquanto objectos artísticos, mas funcionam sobretudo como intervenções públicas e manifestações contestatárias. A exposição actual é, mais uma vez, um questionar do status quo, um repto para uma mudança de políticas, para uma alteração de posturas.

"The Deeper They Bury Me, The Louder My Voice Becomes” são as palavras de Herman Wallace, membro do grupo denominado Angola 3. Wallace, junto com Albert Woodfox, escreveram o primeiro capítulo do “Black Panther Party”, em 1971, na “Louisiana State Penitentiary” também conhecida como Angola. Robert H. King juntou-se-lhes depois de ser acusado, injustamente, de ter cometido um crime, no ano de 1972. Os três passaram a ser conhecidos como “The Angola 3”. Iniciaram então uma luta sem tréguas para uma reforma do sistema prisional. Organizaram greves de fome para garantir que as refeições eram servidas condignamente e não atiradas para o chão, lutaram pela protecção dos presos mais jovens, selvaticamente agredidos e abusados e mais do que tudo lutaram pela igualdade de direitos para todos os presos.

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Depois de 32 anos de prisão, 29 dos quais passados nas chamadas CCR (Closed Cell Restriction) durante 23 horas por dia. King foi absolvido e libertado em 2001. Rigo 23 estabeleceu uma relação de amizade com King, depois da sua libertação, e pintou em sua memória um mural no “San Francisco’s Civic Center” para comemorar a sua triunfante libertação. Wallace e Woodfox continuam encarcerados e em isolamento. King prossegue o incansável esforço pela sua libertação, através da partilha das suas experiências em universidades, escolas, museus e centros comunitários, um pouco por todo o mundo.
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