sexta-feira, 25 de setembro de 2009

“The Deeper They Bury Me, The Louder My Voice Becomes”

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Achei apropriado utilizar este título revolucionário para caracterizar o meu estado de espírito actual. Estamos em período pré-eleitoral, os ânimos estão agitados, a expectativa é grande, a incerteza, apesar de menor, continua a existir. Por tudo isto e mais. Porque sou um democrata e um apologista da liberdade e da igualdade de oportunidades, porque defendo a ética e luto pelos valores da justiça, do mérito e do progresso, jamais me calarei face à situação actual do nosso país.

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Descobri este título enquanto vagueava pelo site do New Museum, em New York. Em Junho passado, tive oportunidade de visitar este estonteante museu, no coração de Manhattan. Passeei-me pelos vários andares, deliciei-me com as instalações contestatárias, com as esculturas de arte contemporânea, com os murais desconfortáveis, quase chocantes.
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Este museu da modernidade, em pleno Lower East Side foi desenhado por Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa. Depois de dois anos de trabalhos, o New Museum reabriu no dia 1 de Dezembro de 2007. Este acontecimento, para além da óbvia importância no meio artístico, revestiu-se de um significado muito particular. A famosa zona da Bowery na baixa de Manhattan passou a conhecer uma nova vida, uma vez que foi a primeira vez que um acontecimento cultural desta envergadura teve lugar abaixo da Rua 14.
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O edifício que de fora parece bastante amplo, talvez pelo equilíbrio em altura da sua construção, feita em cubos sobrepostos, deslocados e forrados homogeneamente por uma malha metálica é, no interior dos andares onde se situam as galerias sem divisões, muito menos impressionante, mas harmonioso no seu despojamento e nos materiais sólidos e sóbrios. O último andar – uma enorme sala de festas com uma varanda em volta – e uma vista fabulosa que vai da zona baixa da Bowery e do Soho até aos edifícios altos do City Hall.

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“The Deeper They Bury Me, The Louder My Voice Becomes” é o título de uma exposição actual de um artista de origem portuguesa. Ricardo Gouveia, mais conhecido como Rigo 23 nasceu na ilha da Madeira em 1966 e ai viveu durante alguns anos até se instalar em San Francisco, na Califórnia. Estudou no “San Francisco Art Institute” e na “Stanford University” e é, actualmente, um dos mais conceituados artistas contestatários e planfletários do mundo.

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Rigo 23 tem exposto os seus trabalhos, nos últimos vinte anos, um pouco por todo o mundo. Murais, pinturas, esculturas, azulejos e placards de grandes dimensões, sempre estrategicamente posicionados de forma a permitir a discussão e a reflexão, numa sociedade virada para dentro e mais habituada a aceitar do que a contestar. As suas obras vivem enquanto objectos artísticos, mas funcionam sobretudo como intervenções públicas e manifestações contestatárias. A exposição actual é, mais uma vez, um questionar do status quo, um repto para uma mudança de políticas, para uma alteração de posturas.

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"The Deeper They Bury Me, The Louder My Voice Becomes” são as palavras de Herman Wallace, membro do grupo denominado Angola 3. Wallace, junto com Albert Woodfox, escreveram o primeiro capítulo do “Black Panther Party”, em 1971, na “Louisiana State Penitentiary” também conhecida como Angola. Robert H. King juntou-se-lhes depois de ser acusado, injustamente, de ter cometido um crime, no ano de 1972. Os três passaram a ser conhecidos como “The Angola 3”. Iniciaram então uma luta sem tréguas para uma reforma do sistema prisional. Organizaram greves de fome para garantir que as refeições eram servidas condignamente e não atiradas para o chão, lutaram pela protecção dos presos mais jovens, selvaticamente agredidos e abusados e mais do que tudo lutaram pela igualdade de direitos para todos os presos.

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Depois de 32 anos de prisão, 29 dos quais passados nas chamadas CCR (Closed Cell Restriction) durante 23 horas por dia. King foi absolvido e libertado em 2001. Rigo 23 estabeleceu uma relação de amizade com King, depois da sua libertação, e pintou em sua memória um mural no “San Francisco’s Civic Center” para comemorar a sua triunfante libertação. Wallace e Woodfox continuam encarcerados e em isolamento. King prossegue o incansável esforço pela sua libertação, através da partilha das suas experiências em universidades, escolas, museus e centros comunitários, um pouco por todo o mundo.
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