sábado, 29 de novembro de 2008

Amy Biehl

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Na passada semana tive oportunidade de assistir à entrega anual do “J. William Fulbright Prize for International Understanding” que decorreu no State Department, aqui em Washington DC. Este ano este prestigiado galardão foi atribuído ao Arcebispo Sul Africano Desmond M. Tutu. A cerimónia contou com a presença de diversas personalidades da diplomacia internacional; diplomatas, embaixadores, representantes de diversos países e foi aberta pela “Secretary of State for Educational and Cultural Affairs” - Goli Ameri.

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O Fulbright Prize foi criado para homenagear o maior e mais prestigiante programa
de intercâmbio educacional na história bem como a carreira e o espírito do seu fundador, o falecido senador J. William Fulbright. Em 1993 a Fulbright Association criou o “J. William Fulbright Prize for International Understanding” para homenagear pessoas cujo contributo fosse relevante para juntar povos, culturas ou nações. O prémio de 50.000$ é oferecido pela Coca-Cola Foundation e agraciou desde então personalidades como; Nelson Mandela (1993), Jimmy Carter (1994), Mary Robinson (1999), Fernando Henrique Cardoso ( 2003) ou Colin Powel (2004).


James William Fulbright foi um democrata do sul, representou o estado do Arkansas entre 1945 e 1975. Multilateralista convicto foi um dos impulsionadores da criação das Nações Unidas. Sempre batalhou pela criação de um programa internacional de intercâmbio educacional que viria a tomar forma em 1946 - Fulbright Fellowships and Fulbright Scholarships, patrocinado pelo “Bureau of Educational and Cultural Affairs - Department of State”, por governos de vários países e pelo sector privado. William Fulbright pretendeu incrementar as relações culturais entre o povo Americano e os outros povos do mundo, através do intercâmbio de pessoas, conhecimento e experiências. É actualmente considerado um dos mais prestigiados programas do mundo e abrange mais de 144 países.

Desta vez a luxuosa sala “Ben Franklin” no último andar do “Department of State” encheu-se de convidados para homenagear Desmond Mpilo Tutu, um gigante de 1,5 metros de altura, carismático, bem humorado, tranquilo no seu conhecimento de experiência feito, sofrido mas acima de tudo corajoso e determinado.

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Foi um gosto ouvi-lo, aprender com as suas palavras, comovermo-nos com a sua humildade, impressionarmo-nos com o seu sentido de justiça e curvarmo-nos perante a sua capacidade para perdoar.

Desmond Tutu trouxe-nos a riqueza da sua “Rainbow Nation”, metáfora que ele utiliza para caracterizar a diversidade étnica da África do Sul pós- apartheid. Falou-nos do bem e dos bons, falou-nos da virtude do perdão e partilhou connosco a história de Amy Biehl.

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Em 25 de Agosto de 1993, quando transportava a casa três colegas negros da “University of the Western Cape” em Cape Town, foi atacada por um grupo de activistas negros que protestavam contra o regime e que proferiam palavras de ordem "One settler [white person], one bullet!". Apesar dos pedidos de clemência dos seus acompanhantes o grupo de insurrectos não hesitou e apedrejou-a até à morte.

Amy Biehl era uma estudante branca americana, da Universidade de Stanford na Califórnia, era ironicamente uma activista anti- apartheid que se encontrava na África do Sul no âmbito de um Programa Fulbright.
Os seus agressores foram presos e condenados mas em 1998, vários anos após a queda do apartheid, foram libertados. Desmond Tutu contou-nos que pertencia à “Truth and Reconciliation Commission” que apreciou o pedido de amnistia dos condenados.

De acordo com a lei Sul Africana a atribuição da amnistia está sujeita à apreciação por parte da família da vitima. Desta forma o pai de Amy Biehl quando questionado pronunciou-se do seguinte modo: “The most important vehicle of reconciliation is open and honest dialogue...we are here to reconcile a human life which was taken without an opportunity for dialogue. When we are finished with this process we must move forward with linked arms.” Graças à sua capacidade imensa para perdoar, estes homens foram libertados e actualmente trabalham para a Fundação Amy Biehl em Cape Town, cuja principal tarefa é a reabilitação de presos, a condução de programas de literacia e a formação profissional em bairros degradados.

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quarta-feira, 19 de novembro de 2008

“Team of Rivals”

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“Team of Rivals” ou Equipa de Rivais é um livro extraordinário sobre a vida e a obra de Abraham Lincoln. Constitui mais um trabalho profundo e cativante de Doris Kearns Goodwin, vencedora de um Pulitzer Prize.

Goodwin escreveu já várias obras sobre presidentes americanos. Em todas elas revela-nos as qualidades políticas daqueles, a sua firmeza de carácter, a sua capacidade para influenciar, o seu espírito de missão e a sua carreira politica. Livros como: “Lyndon Johnson and the American Dream”, “The Fitzgeralds and the Kennedys: An American Saga”, “No Ordinary Time: Franklin and Eleanor Roosevelt: The Home Front in World War II”, constituem verdadeiros documentos históricos recheados de relatos ricos sobre a envolvente política da época, a sociedade e acima de tudo representam uma análise cativante sobre a personalidade destas figuras marcantes.

“Team of Rivals” é também um livro sobre politica, liderança, humildade, visão e inteligência. Abraham Lincoln foi um dos mais relevantes presidentes americanos e a sua capacidade de liderança influenciou de forma decisiva a evolução do curso da história deste país. Dotado de uma inteligência superior, portador de uma humildade imensa, lutou pela abolição da escravatura e foi o principal responsável pela união dos estados.

Doris Kearns Goodwin descreve-nos, na primeira parte do livro, todo o processo político-eleitoral que conduziu à nomeação de Lincoln na convenção do partido republicano, para candidato à presidência dos Estados Unidos. Ficamos a conhecer os candidatos rivais, as suas histórias pessoais, a sua carreira política, as suas prioridades e as suas ambições: William Henry Seward, líder do partido a partir de 1856, senador e governador de Nova York; Salmon P. Chase, experiente senador republicano; Edward Bates, juiz conceituado e finalmente Abraham Lincoln, de origem humilde, com uma carreira relativamente obscura e desconhecido até então. A imprensa ainda soletrava o seu nome erradamente “Abram”.

Lincoln era, contudo, menos radical do que Chase, mais firme no combate à escravatura do que Bates e tinha menos inimigos do que Seward. Também por estas razões foi o escolhido, com alguma surpresa dos rivais, para candidato presidencial e viria a ganhar de forma esmagadora contra o democrata Stephen Douglas, o “National Democrat” John Breckinridge e John Bell representando a União Constitucional, chegando assim a décimo sexto presidente dos Estados Unidos.

“Team of Rivals” descreve-nos o processo de escolha da sua equipa directa e a surpresa que constituiu a decisão de convidar os seus rivais para integrarem o seu governo. Lincoln escolheu Seward para “Secretary of State”, Chase para “Secretary of Treasure”, Bates para “Attourney General” e Simon Cameron, seu rival na Pensilvânia, para “Secretary of the War”. Este último viria a ser substituído pelo Democrata Edwin M. Stanton que o desprezava de forma veemente, mas que viria a tornar-se seu fiel amigo.

Com todos eles agiu com subtileza mas com segurança, com firmeza mas com sensibilidade, confiou na sua capacidade, soube reconhecer-lhes o valor e tirar o máximo partido das suas competências, da sua ambição pessoal e da sua influência, a bem do país.


Obama, sem pudor, costuma comparar-se a Lincoln. Ambos têm origens humildes e eram pouco conhecidos, ambos serviram o estado do Ilinois e ambos têm uma inteligência superior. Segundo Evan Thomas e Richard Wolffe da Newsweek, “Two thin men from rude beginnings, relatively new to Washington but wise to the world, bring the nation together to face a crisis. Both are superb rhetoricians, both geniuses at stagecraft and timing. Obama like Lincoln and unlike most modern politicians even writes his own speeches…”


Barack Obama evidencia pretender seguir o mesmo modelo nas escolhas para o seu governo. Escolheu Eric Holder para “Attourney General”, polémico jurista que sempre se opôs à politica de Bush dos campos de Guantánamo, criticou toda a sua politica de justiça e é o primeiro afro americano a ocupar este cargo.

Convidou a sua mais directa rival, Hillary Clinton, para “Secretary of State”, numa demonstração de coragem, de enorme inteligência política e de grande preocupação com o país. Hillary seria uma boa “Secretary of State”, é uma mulher inteligente e conhecedora, frequentadora dos areópagos de decisão internacionais e sensível à necessidade de apostar na diplomacia e na política de recuperação da imagem e de fomento das relações que esta administração vai iniciar.

Parece apostar na manutenção de Robert Gates, actual “Secretary of Defense”, em virtude do trabalho relevante que tem desenvolvido para reorganizar o Pentágono e mesmo na condução da guerra no Iraque.
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Fala-se na colaboração do republicano Collin Powell e do possível convite a Al Gore para a energia; seria a possibilidade de este implementar a politica verde que tanto apregoa. Reuniu-se já o com o seu adversário de eleição McCain e consta que definiu como pretende contar com a sua ajuda.

Até Liberman, que o criticou contundentemente e desertou para apoiar McCain, foi salvo in extremis por um telefonema de última hora, quando os seus colegas democratas se preparavam para o crucificar. Liberman vai continuar a chefiar o importante Comitê de “Homeland Security”.
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Obama tem revelado inteligência, visão e humildade. As suas intenções parecem positivas e a sua equipa caminha para se tornar única na história recente dos Estados Unidos.
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terça-feira, 18 de novembro de 2008

“The Big Three”

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Neste momento o Congresso discute a possibilidade de as três grandes produtoras de automóveis americanas receberem um “bailout”. Depois da AIG, da Fanny Mae e Freddy Mac e depois do bodo generalizado à banca em dificuldade, é a vez da General Motors, da Ford Motor e da Chrysler estenderem a mão para receberem dólares frescos, ao que parece essenciais à sua sobrevivência.

Ao ouvir Barney Frank, congressista democrata responsável pelo Comitê Financeiro do Congresso, de origem açoriana, homosexual assumido, não necessariamente por esta ordem, na CNN ontem à noite, ficou clara que a posição democrata vai no sentido de mais um "bailout". Obama, na sua entrevista ao programa "60 Minutes" revelava também a sua preocupação com a indústria automóvel e a necessidade de a ajudar.

As opiniões são, mais uma vez, bastante díspares e distantes, existindo um grupo alargado de congressistas e destacados economistas contra esta ajuda e um grupo de congressistas e destacados economistas a favor deste "bailout". Estamos, pois uma vez mais, perante um impasse e a necessidade de assumir uma posição não necessariamente fácil. Barack Obama tem aqui um dos primeiros testes à sua resistência, à sua fibra e à sua capacidade para enfrentar interesses instalados e tomar decisões difíceis. Acredito que a firmeza da decisão que daqui resultar, a clareza das suas condições, a eficiência da sua aplicabilidade podem ser decisivas para esta administração iniciar o seu mandato e constituirão, seguramente, uma referência para as decisões que se irão seguir.


A situação é profundamente preocupante e ameaçadora. A economia americana entrou em recessão assumida, os mercados continuam a sua trajectória descendente, a crise financeira contamina as restantes economias industrializadas com o Japão na primeira linha. Os governos parecem desnorteados e impotentes, os economistas procuram semelhanças com crises anteriores, mas têm dificuldade em encontrar soluções para as dificuldades actuais. As cimeiras sucedem-se e as empresas continuam a fechar, a taxa de desemprego sobe (só em Portugal parece que desceu 0,2% e logo o nosso primeiro desatou a atirar foguetes). O papel do estado, a vitalidade do mercado livre e as virtudes do liberalismo económico estão sobre a mesa. É tempo de repensar paradigmas, reavaliar conceitos e tomar decisões difíceis.


Não podemos deixar de analisar as várias razões que conduziram a indústria automóvel à encruzilhada actual. Ao discutir a tomada de medidas de ajuda, é preciso não esquecer a trajectória suicida que estas empresas vinham registando nos últimos anos. Há cerca de 10 anos estas empresas detinham 70% das vendas nos Estados Unidos, neste momento, estas não chegam aos 47%.


Autismo tecnológico, crença na intemporalidade dos combustíveis baratos, em particular do petróleo, falta de flexibilidade, acomodação, queda continuada de quota de mercado, dificuldade em mudar de hábitos, acordos laborais blindados, custos astronómicos com seguros de saúde (no Japão o sistema de saúde dos funcionários automóveis é pago pelo estado), milhares de reformados e respectivas famílias a agravar os custos, custos fixos elevadíssimos e profundamente inflexiveis e a óbvia crise económica que devasta economias e arruina poupanças em todo o mundo: estas são algumas das razões para a actual situação, por isso mesmo, estas empresas devem ser responsabilizadas e as decisões dos seus gestores julgadas criminalmente.

A possibilidade de falência recorrendo ao “Chapter 11” e não ao “Chapter 7” parece-me a solução mais acertada. No primeiro caso, as empresas declaram falência mas continuam a operar com restrições e com um projecto de recuperação em execução; no segundo caso, fecham pura e simplesmente e os seus activos são vendidos para ressarcir os credores em melhor posição.

O fantasma da falência, apesar dos riscos elevadíssimos que comporta, pode constituir uma solução radical para corrigir uma situação de clara ineficiência de mercado. Esta alternativa, em conjunto com uma intervenção restrita e criteriosa do estado, contribuiriam para a reestruturação e revitalização destas empresas e permitiria uma reorganização deste mercado, com a possível fusão das actuais companhias.

Estamos, claramente, perante uma ruptura com o passado e com os vícios antigos e uma aposta no futuro, na inovação, na eficiência e no mercado, tão apregoados por Obama na sua campanha democrata.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Portugal por um Magalhães!

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A distância e o afastamento ajudam-nos a avaliar os assuntos e a melhor compreender o nosso quotidiano. É salutar mudarmos as nossas rotinas, alterarmos os nossos hábitos, contactarmos com pessoas diferentes, conhecermos estilos de vida novos, formas de estar novas, uma comunicação social diferente, modos de trabalho diferentes, comidas diferentes, roupas diferentes, climas diferentes. A diferença ajuda-nos a valorizar e a apreciar, a definir e a aperfeiçoar os nossos gostos e a melhor perceber o que é realmente essencial para a nossa vida.

Estou há três meses afastado de Portugal, longe da realidade de sempre, da televisão de sempre, dos jornais de sempre, dos jornalistas de sempre, dos políticos de sempre, das pessoas de sempre. Por causa da distância o meu contacto é feito por via cibernaútica, navego pelos nossos jornais e folheio as nossas revistas, não consigo ver televisão portuguesa nem ouvir rádio o que restringe o leque de escolhas e condiciona a mensagem recebida e consequentemente, influencia a minha análise.

Confesso que ver Portugal à distância de um écran me ajuda a compreendê-lo melhor, não necessariamente a apreciá-lo mais, mas acima de tudo a interpretá-lo com maior rigor e a ter vontade de o melhorar, de o alterar e de o aperfeiçoar.
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O Português é um ser especial. Pessimista por natureza, critico inconsequente, alheado da realidade e desfocado do essencial, mediano, medíocre, pequeno, invejoso crónico, amigo da mesmice e da igualdade, não tolera a diferença, derrotista, acomodado. Infelizmente a nossa informação é o espelho desta realidade, ou antes o motor desta indiferença. Senão vejam-se as notícias de hoje que por um acaso resolvo comentar.
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“Portuguesa concorre a melhor rabo do Mundo” (Correio da Manhã); “Ministra da Saúde não sabe valor das dívidas do SNS” (Portugal Diário); “Cada vez mais portugueses consomem droga” (Público); “Portugueses serão menos 700 mil em 2050” (Público); “Relação obriga a rever data da entrega de Esmeralda ao pai” (Diário de Notícias); “Psicólogos atendem cada vez mais polícias” (Diário de Notícias); “Mais agressores e vítimas licenciados” (Diário de Notícias); “Avaliação: Sócrates não recua e defende ministra da Educação” (Portugal Diário); “Carla Matadinho posa em lingerie” (Portugal Diário); “Centenas de computadores Magalhães entregues em Baião” (Diário de Notícias);

A esta distância é com alguma tristeza que leio estas parangonas, é com algum desalento que as interpreto e é sobretudo com uma imensa falta de esperança no futuro que as analiso.

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Infelizmente o que mais me choca é o paladar da mesmice, o sabor acre do consenso, a acomodação, o receio, o controlo, o constrangimento, a ausência de opinião e uma tendência natural para um bafío doentio em redor do poder político instalado.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

“Madison Pita”

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Passei o último fim de semana em Nova York. É sempre um fascínio e uma expectativa imensa voltar a esta cidade. Sorver aquele ambiente, sentir aquela vida, mergulhar naquele movimento, deixarmo-nos contagiar por aquele espírito, aquela vibração, aquela luz e aqueles sons.

Nova York fica a 370 Km de Washington DC, ou seja, uma viagem normal tem uma duração de 4horas e 30 minutos. Aventurei-me a fazer este percurso numa das várias empresas de camionagem que ligam as duas cidades a preços módicos e acessíveis, 25$ dólares para cada lado.

As empresas são geridas por judeus e funcionam numa base de maximização do lucro, minimização do espaço e ausência quase total de custos. O sistema é desorganizado, os autocarros são velhos, os locais de partida não têm condições e funcionam na base do primeiro que chega é o primeiro a ser servido. Uma completa antítese da realidade americana organizada e profissional que encontramos noutros serviços. Fruto deste coktail de condições e do zelo latente do motorista/cobrador nem tive necessidade de pagar a primeira parte da viagem!


Fiz o percurso durante a noite por uma linha de asfalto interminável que várias vezes atravessa cursos de água, pequenos charcos, pântanos e mar imenso. Em muitos locais surge-nos uma paisagem típica da tundra entrelaçada por densos arvoredos coloridos e extensas planícies ainda verdes que nos transportam para os cenários da guerra da Secessão. Passamos nos arredores de cidades grandes como Baltimore e Filadélfia e aproximamo-nos a passos largos da grande metrópole do ocidente.

Nova York é imponente mesmo à distância de um clarão luminoso, é magnifica na sua dimensão, possui uma personalidade própria, um estilo próprio, uma maneira de ser e de estar únicos. Não conheço nenhuma outra cidade assim. Cidade de contrastes, de cores, de gente, de raças. Cidade de fortunas, de consumo, de desperdício. Cidade de lixo, de pobreza e abandono.

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Cidade das "grifes", dos "néons" e dos "outdoors". Nova York está para o Ocidente como o Cairo, Nova Deli ou Tóquio estão para o Oriente, está mergulhada em ruídos constantes e ensurdecedores; buzinas, martelos pneumáticos, sirenes, está envolvida por luzes de cores variadas, está suja e imunda e transborda de multidões.

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Mas Nova York vai mais longe porque transpira liberdade, vai mais longe porque cria oportunidades, vai mais longe porque acolhe todos os que a procuram, vai mais longe porque é optimista e positiva e contagia todos os que aqui chegam, vai mais longe porque promove a realização e incentiva ao empreendorismo, vai mais longe porque nos faz acreditar que é possível.

Um New Yorker com quem falei dizia-me que esta era a melhor altura para visitar a cidade porque o parque estava maravilhoso. De facto, Central Park é uma pepita de luz de uma beleza imensa e com um valor incalculável rodeado de calhaus estruturados e disciplinados. Nova York seria muito diferente sem ele, transmite-lhe paz e serenidade, dá-lhe cor, traz-lhe odores e enche-a de vida. As árvores estão deslumbrantes e funcionam como um oásis no meio do cinzento escuro e dos reflexos envidraçados.

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Para terminar o fim de semana nada melhor do que passear por uma Madison fechada ao público entre as ruas 40th e 56th inundada de emigrantes, vendedores, comerciantes, barracas de comida de todo o mundo. O contraste mais latente, entre prédios esculturais, marcas de prestigio e escritórios da elite financeira, a “chicken pita”, os “kebab”, os “beef gyros”, os “smoked pork”, as gravatas da índia, as roupas da china, as peúgas da Tailândia, as esculturas africanas.

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Por tudo isso Nova York vai mais longe, porque acolhe, porque é genuína, porque é diferente e porque se alimenta do sucesso dos que aqui chegam.

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