domingo, 2 de novembro de 2008

Yes we can!

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Passei os últimos quatro dias a revisitar Washington, desta vez como cicerone e guia turístico para a minha mulher e um amigo de sempre que me vieram visitar. Foram quatro dias de descanso, passeio e diversão que me trouxeram forças e alento para a última etapa da minha estadia.

É fácil deslumbrarmo-nos com a cidade e ainda mais nesta altura do ano em que as árvores estão pintadas de cores garridas, a temperatura começa a arrefecer mas ainda permite passeios tranquilos, os esquilos ultimam os preparativos para os fartos repastos de inverno e as lojas embelezam-se para o Natal que se aproxima.

Procurei proporcionar aos meus visitantes uma fotografia fiel das potencialidades desta cidade. Mostrei-lhes o mais emblemático, levei-os aos locais que mais me marcaram, procurei que sentissem o vibrar deste povo, esforcei-me para que conhecessem os Washingtonians, mostrei-lhes os pobres que dormem nas ruas mas também as casas de Maclean.

Visitámos a Library of Congress e a sua imponência de conhecimento. Passeámos pelo Mall e maravilhámo-nos com os jardins da Constitution Avenue. Fotografámos o Lincoln Memorial e o Vietnam Veterans Memorial e percebemos como os americanos respeitam os seus heróis. Visitámos o Arlington Cemitery e impressionámo-nos com o mar de lápides brancas que cobrem as colinas. Deslumbrámo-nos com a beleza da National Gallery e a acessibilidade ao conhecimento que se vive no Museum of Natural History. Passeámos pelas casas de tijolo em Georgetown, vibrámos com as multidões de Lafayette Square e jantámos no Old Ebbit. Washington marca pelo contraste, pela diferença e pelo facto de ser especial.

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Conhecemos hoje, no último dia da estadia, um Etíope que chamarei Abebe e que nos transportou de táxi até ao aeroporto de Dulles. Existem por vezes pessoas que nos conseguem sensibilizar, que nos tocam na alma e nos impressionam pela força, pela simpatia, pela humildade, pela franqueza e pelo valor, foi o que nos aconteceu com Abebe.

Há doze anos a viver na cidade, Abebe é taxista e conduz a sua própria viatura, resolveu abandonar a Etiópia com a mulher e um filho, então com 2 anos, em 1996 e rumar ao sonho americano. De forma singela contou-nos que a sua vinda se devia à necessidade de proporcionar ao filho condições para crescer numa sociedade de oportunidades, estava preocupado em educá-lo numa sociedade que valoriza a competência e o trabalho, uma sociedade que lhe permitiria chegar até onde quisesse.

Abebe adquiriu a nacionalidade americana há poucos anos e esta será a primeira vez que ele e a sua mulher poderão votar. Partilhou connosco este facto sem conseguir esconder o orgulho e a satisfação. Abebe irá votar em Obama porque acredita na mudança, porque acredita na diferença e porque está convicto de que - Yes we can!

Estas são aliás as palavras que mais se ouvem nesta cidade, estas são as palavras da vitória da próxima terça feira. Obama será, certamente, o 44º Presidente dos Estados Unidos e o primeiro Afro-americano a conquistar o lugar mais poderoso do mundo. Estou convencido de que será uma vitória expressiva e folgada, com uma maioria clara de 53% a 55% para Obama.

Esta é a minha percepção e resulta das projecções que se publicam, das análises politicas que se ouvem, dos artigos de opinião que se lêem, das tomadas de apoio que se descortinam e, sobretudo, daquilo que é a opinião das pessoas com quem se fala nas ruas. Obama é cada vez mais o candidato do povo, o candidato dos emigrantes, o candidato dos descontentes mas também, o candidato de uma certa elite moderna e intelectual. Obama representa a mudança, representa a conquista, é sinónimo de sucesso alcançado, progressão social, simboliza a esperança na diferença e a concretização do sonho americano. Obama representa a encarnação do sonho de Abebe e a esperança no futuro para o seu filho.

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