terça-feira, 15 de junho de 2010

Maré Negra para Obama

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No momento em que escrevo, o Presidente Obama prepara-se para fazer uma declaração ao país relativa ao tema da maré negra que assola o Golfo do México há 54 dias ininterruptos.
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Esta que é certamente a maior catástrofe ambiental de todos os tempos, e não apenas a maior catástrofe dos Estados Unidos, constitui o tema do momento na opinião publicada americana, quer se tratem de jornais quer de televisões. Ainda ontem, Anderson Cooper da CNN, que se encontra no local há vários dias, fazia um relato assustador da situação. A BP, até agora, tem revelado uma dificuldade notória e uma inabilidade flagrante a lidar com a situação. Reconheço que não tenho conhecimentos técnicos que me permitam analisar o grau de competência das medidas que têm sido tomadas. Tenho sim uma percepção clara do enorme sentimento de impotência que parece abalar a equipa que comanda esta operação.
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Até há cerca de dois dias, a postura da Administração Americana parece ter sido de alguma passividade. Apesar das ameaças claras, a BP tem conduzido as operações de forma autónoma, tendo inclusive rejeitado ajudas de outras empresas habilitadas. A pressão tem vindo a aumentar proporcionalmente à incapacidade de resolver o problema. Os americanos vivem angustiados com a situação e começam a exigir medidas mais exigentes e uma postura mais determinada do Presidente. Neste sentido, há dois dias atrás, a Administração fez um ultimato à BP; tinham 48 horas para resolver o problema. O prazo termina hoje e daí certamente a comunicação de Obama ao país. Não faço ideia das surpresas que pode trazer esta comunicação, mas, à semelhança de muitos americanos, começo a ter uma opinião cada vez mais crítica em relação a Obama e, neste particular, à forma como tem vindo a gerir a situação. Este ultimato parece-me até relativamente caricato, uma vez é mais ou menos óbvio que a situação não se resolverá em 48 horas.
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Este Presidente tem vindo a decrescer significativamente nas sondagens e aquela aura que o envolvia começa a desvanecer. Neste momento, Obama é mais apreciado fora da América do que cá dentro e o seu modelo de liderança tem contribuído bastante para que tal aconteça. Obama começa a ser comparado ao Presidente Carter; um homem inteligente e com ideias válidas, mas com alguma incapacidade para liderar e operacionalizar.


A América, desde a última vez que cá estive, há cerca de um ano atrás, parece em franca recuperação. Os sinais de crise ainda persistem mas nada comparáveis com os de há um ano atrás. A título de exemplo, que tem um valor relativo, estive este ano a jantar no mesmo restaurante que há um ano atrás e sensivelmente no mesmo dia. No ano passado eu era o único cliente; neste ano o restaurante estava a abarrotar. Os sinais de dinamismo são claros e evidentes, mas a dívida dos Estados, aqui também, aumentou de forma significativa e as políticas desta Administração parecem conduzir para um aumento ainda maior, o que tem levantado vozes autorizadas em protesto para com o aumento do peso da dívida. A situação no estado de Nova Iorque constitui um bom exemplo. O peso do deficit do estado e os encargos com a dívida são tão elevados, que estes dias está em discussão o possível encerramento do governo estadual.
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Obama tem neste momento um reduzido campo de manobra. A sua actuação no caso BP; na resolução do caos ambiental e no processo indemnizatório que se seguirá, podem ser decisivas para marcar o seu mandato e clarificar a sua postura.

1 comentário:

Unknown disse...

Apenas uma leitora assídua e fascinada com o que lê neste blog.
Percorro caminhos nunca por mim calcados. Vale a pena continuar...