quarta-feira, 2 de junho de 2010

O Douro no New York Times

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Recordo-me das palavras do Professor José Hermano Saraiva, quando, num dos seus insubstituíveis programas, viajando pelo país, referiu, com aquela sua convicção de conhecimento e experiência feitos, que qualquer português que se prezasse deveria conhecer quatro locais únicos: Guimarães – o berço da nação e uma referência para a nossa história; Sagres – por ter sido o local inspirador desta empresa imensa que nos orgulha como nenhuma outra, os descobrimentos; a Universidade de Coimbra – símbolo da ciência e do saber e uma referência por ser a Universidade que ao longo de mais de 700 anos formou a elite de Portugal e de todos os países de língua portuguesa e, finalmente, o miradouro da Galafura – um dos miradouros mais bonitos de toda a região duriense, o miradouro de S. Leonardo, onde Miguel Torga “mergulhava” no rio e se embrenhava na paisagem magnânima deste “Doiro sublimado”, a quem num dos seus “Diários” chamou de “excesso de natureza”.
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Tive oportunidade de o confirmar presencialmente. Uma paisagem arrebatadora, uma cor única, uma profundidade imensa e uma beleza particular. De facto, a par dos Açores, uma das regiões mais bonitas de Portugal que é agora documentada no New York Times, deste fim-de-semana, por Frank Bruni- “Portugal Old, New and Undiscovered”.


Uma viagem pela região do Douro que começa na cidade do Porto. Restaurantes, monumentos, vinhos e pratos típicos. Uma apreciação muito positiva da envolvente, que encontra no Douro o seu ponto alto.


“I had been drawn to Portugal by word of how splendid the area around the Douro is. It is from the banks of the Douro that the sublime city of Oporto rises”.

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“The slopes in the foreground were a precipitous, mesmerizing patchwork of greens, reds, browns and grays, the earth alternately craggy and lush, terraced and cleanly diagonal, as if some grand hand had fashioned it into a tutorial on all that nature and agriculture can do. And at the base of those slopes: a ribbon of water, playing peek-a-boo as it twisted into and out of view. This was the Douro River, the cause and compass of my trip”.

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Aproveito para recordar Torga e os seus poemas maravilhosos. Íntimo da região, deslumbrava-se com a paisagem e tão extraordinariamente a eternizou nos seus escritos.
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“O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso de natureza. Socalcos que são passados de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor pintou ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis de visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta”. (Miguel Torga - Diário XII)

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“Um poema palavra, espelho desta singular região adjectivada pelo assombro e pela beleza absoluta da paisagem natural engrandecida pela história trágico-telúrica do peculiar herói duriense, escrita nas fragas com a tinta do suor. Um hino à terra. Uma epopeia lavrada paulatinamente no coração do autor. Não tem data. Não nasceu. Foi sendo gerada. O seu antigo companheiro das batidas às perdizes, o Padre Avelino, devoto leitor e amigo do poeta, afirma que lhe tinha custado uma perdiz, que Torga falhou. Justificava-se que naquele momento se lhe estava a desenrolar um poema”.

Um artigo interessante que vale a pena ser lido e que nos deve orgulhar, clique aqui.

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