terça-feira, 13 de abril de 2010

“Contemplating the Void”

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O Museu Guggenheim de Nova Iorque constitui um ícone da arquitectura mundial. A beleza das suas linhas, a originalidade das suas formas, a elegância da sua postura faz deste edifício um dos mais desconcertantes e únicos no panorama arquitectónico moderno. Roberta Smith, crítica de arte do "New York Times" definiu recentemente a espiral do Guggenheim como "o mais extraordinário umbigo na arquitectura moderna".
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Foi inaugurado em 1959 e comemorou recentemente cinquenta anos de existência. Peggy Guggenheim que pretendia criar um local para a promoção da arte e a educação artística encomendou ao arquitecto Frank Lloyd Wright a concepção de tão arrojado projecto. “O Museu foi concebido como uma hélix, estendendo-se através de uma rampa em espiral contínua, que, no exterior, tem um efeito de casca de caracol”.
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Com o intuito de celebrar o cinquentenário, os curadores Nancy Spector e David van der Leer organizaram uma exposição intitulada “Contemplating the Void", patente até 28 de Abril próximo. Tendo como tema de partida o vórtice do Museu, uma rampa ascendente como um parafuso que deixa o centro do edifício completamente vazio, os curadores convidaram mais de 200 artistas e arquitectos de todo o mundo, desafiando-os a realizarem uma intervenção sobre a espiral de Frank Lloyd Wright. Foram encorajados a ir tão longe quanto quisessem e a deixar a realidade de lado.
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Neste conjunto de criadores encontram-se dois arquitectos portugueses; Álvaro Siza e Paulo David. O primeiro é talvez o nosso expoente máximo na arquitectura, o segundo é porventura menos conhecido e mediático mas não menos surpreendente.
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Álvaro Siza apresenta-nos uma proposta sóbria e conservadora mas decididamente criativa. Propõe a colocação de um espelho gigante de curvas reentrantes, invertidas em relação às da espiral de Wright, no átrio do museu. O espelho reflecte a parte de cima do edifício - a cúpula de cristal -, como se o virasse do avesso. Segundo o próprio este espaço é de uma tal beleza que seria uma maldade manipulá-lo ao ponto de o tornar irreconhecível.
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Os projectos estão expostos tal como chegaram, sem molduras, como posters colados na parede. Segundo David van der Leer "há muitas ideias diferentes na exposição, temos por vezes propostas muito extravagantes; a escala vai das interpretações lúdicas e ligeiras a ideias mais subtis e discretas. E nem todas são positivas, algumas são críticas do espaço ou de nós enquanto instituição." Em qualquer dos casos os resultados são impressionantes e inovadores e reconhecem o prestígio e a qualidade de dois portugueses.
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1 comentário:

auxília disse...

Ao ler o texto , recuei até 2000, ano em que tive a oportunidade de assistir, no Guggenheim Museum, à polémica exposição que assinalava os 25 anos de criação do estilista italiano Giorgio Armani, no mundo da moda. Polémica, porque a moda "usurpava" o lugar até então reservado à arte. E, por ser polémica, muitos eram os curiosos; por isso, a fila de visitantes desenhava uma espiral que parecia rivalizar com a do interior. Recordo o efeito cénico conseguido pelas dezenas de peças de vestuário (de diferentes épocas e influências) que "desfilavam" pela rampa em espiral do museu, num jogo de painéis translúcidos que surtiam efeito de sombras chinesas... E então, sim, a moda tornou-se arte!