Na passada semana regressei à universidade onde passei uma boa parte da minha vida de estudante. Passaram 15 anos desde que terminamos o curso de economia e a universidade organizou uma cerimónia para comemoração de tão significativa efeméride.
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Foi um prazer enorme rever colegas e amigos com quem já não contactava há muito tempo. O tempo passou, a máquina da vida triturou-nos a todos um pouco. Os temas de conversa são outros, as motivações alteraram-se, os objectivos, as ambições, tudo muda nesta roda inalienável do envelhecimento.
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Foi um prazer enorme rever colegas e amigos com quem já não contactava há muito tempo. O tempo passou, a máquina da vida triturou-nos a todos um pouco. Os temas de conversa são outros, as motivações alteraram-se, os objectivos, as ambições, tudo muda nesta roda inalienável do envelhecimento.
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Fomos brindados com uma aula dada pelo Professor João César das Neves, sobre o estado da economia internacional. O nosso curso foi o primeiro a ter o privilégio de ser brindado com as suas aulas emotivas e controversas. A sua ironia refinada, aliada à sua enorme capacidade para ensinar transformavam matérias áridas e inacessíveis numa simples história de detectives. Aprender economia com estes métodos inovadores foi, até para nós jovens e curiosos, uma surpresa a que rapidamente nos habituamos.
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Na sua aula da passada semana o Professor César das Neves referia num misto de ironia e preocupação que Portugal tem vivido os últimos 20 anos em crise permanente. Efectivamente se nos lembrarmos, referia ele, já estávamos em crise antes desta recessão avassaladora e portanto, de uma crise incessante entramos directamente para dentro de outra, ainda mais preocupante. Fortuitamente ou nem por isso, esta recessão que ainda não terminou, não parece ter sido tão destruidora como se antecipava inicialmente e desta forma quando passar vamos poder voltar para dentro da nossa crise de estimação.
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Segundo as últimas projecções da Comissão Europeia, o défice orçamental português pode chegar este ano aos 8%, devendo manter-se neste patamar em 2010, antes de bater um novo recorde de 8,7% em 2011, num cenário de manutenção da actual política. Em Maio, a Comissão previa um défice de 6,5% para este ano e de 6,7% para o próximo.
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“O défice orçamental português poderá ter assim o seu pior registo dos últimos 24 anos, no caso de atingir os 8% projectados pela Comissão Europeia para 2009 e 2010, podendo mesmo atingir o pior valor de sempre em 2011, ano em que Bruxelas prevê 8,7%. É preciso recuar até 1985 para encontrar um valor pior do que o previsto hoje pela Comissão Europeia, quando o saldo orçamental fechado no final do ano atingiu um défice de 8,6%.” (Diário de Notícias)
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A situação é verdadeiramente assustadora, as perspectivas são preocupantes e o cenário dantesco. A política continua inalterada, as apostas continuam no mesmo caminho, a postura a mesma, a vontade é menor, a motivação é residual e portanto não podemos esperar muito de quem nos governa e os próximos tempos serão, certamente demolidores.
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Segundo escreveu Carlos Abreu Amorim na sua coluna regular no CM: “O anterior Governo planeou compulsivamente. Os resultados estão à vista. Tombamos na lista da Transparência Internacional que avalia a corrupção. Baqueamos no Índice de Desenvolvimento Humano. Afocinhamos na lista da Liberdade de Imprensa. E, um a um, quase todos os países que estavam do lado de lá do Muro de Berlim estão em vias de nos ultrapassar nos vários índices económicos.”
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Passaram já 20 anos desde que iniciámos o curso de Economia. As expectativas eram muitas, a esperança de contribuir para um país melhor, de lutar por uma sociedade mais desenvolvida, por um país mais moderno e com um maior nível de vida das populações. Muito pouco aconteceu nestes anos, diria mesmo que em alguns aspectos piorámos, casos da justiça e da corrupção, e pior do que isso, as perspectivas neste momento são aterradoras. Temo que da próxima vez que nos juntarmos para celebrar 20 ou 25 anos de conclusão do curso já nem dinheiro para jantar exista.
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