Enquanto Portugal se encontrava mergulhado na audiência parlamentar a Oliveira e Costa, Barack Obama tomava uma das mais carismáticas decisões da sua, ainda jovem, administração. A nomeação de Sonia Sotomayor para juiza do Supremo Tribunal dos Estados Unidos.
Sonia Sotomayor simboliza o espírito de renovação que se instalou na Casa Branca e que contagia até o mais empedernido anti-americano, mais do que isso, representa um tributo inestimável ao povo que hoje forma os Estados Unidos da America. Uma comunidade multiracional onde predominam os hispânicos, constituida por uma classe de trabalhadores incansáveis que acreditam no sonho americano e que corporizam os pilares da constituição e os desígnios dos “Founding Fathers”, deste país de oportunidades.
Esta decisão constitui um marco para a história da justiça americana e uma mudança profunda no papel conservador, elitista e fechado do Supremo Tribunal. A escolha de uma mulher de origem portoriquenha, humilde e liberal é o melhor exemplo da frescura Obama, de que os Estados Unidos e o mundo precisavam.
O Supremo Tribunal é a mais alta instância judicial dos Estados Unidos e um pilar fundamental do sistema de pesos e contra-pesos. É constituido por um “Chief Justice of the United States” e por oito juizes, todos eles nomeados pelo Presidente com o acordo do Senado. Qualquer um dos juizes, após nomeação, passa a exercer um mandato vitalício e só pode ser destituido por sua inciativa ou através de um processo de “impeachment”.
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Barack Obama, escolheu a juíza Sonia Sotomayor para ocupar a vaga deixada pelo juiz liberal David Souter. Sotomayor, de 54 anos, será a primeira latina entre os nove membros da alta corte norte-americana. É actualmente juíza de 2º instância, em Nova York.
A sua história pessoal é marcada pela dificuldade, pela pobreza e pela doença e constitui um exemplo único de preserverança, de valor e de mérito pessoal. Um percurso de sucesso pelas melhores universidades do mundo, Princeton onde se formou e Yale onde se doutorou, deram-lhe o estofo e o conhecimento que influenciariam as decisões que teve que tomar ao longo da sua carreira. Da pobreza característica do bairro social de Nova York a uma posição respeitada e de grande influência em termos sociais e políticos. Sonia Sotomayor cresceu em Bronxdale Houses, habitações sociais fornecidas pela Câmara, filha de país que se mudaram de Porto Rico para Nova York durante a 2ª Guerra Mundial. O seu pai, que trabalhava como soldador, morreu quando ela tinha 9 anos, deixando a sua mãe sozinha para a criar e ao irmão.
Numa entrevista passada, ela descreveu a sua ida para a Universidade de Princeton, onde se formou com máximo louvor em 1976, como uma experiência transformadora. Quando chegou ao campus vinda do Bronx, disse que se sentiu como "uma visitante aterrando num país estrangeiro". Nunca levantou a mão durante o primeiro ano que ali passou. "Eu sentia-me muito envergonhada e intimidada para fazer perguntas". Passei os meus anos em Princeton e nos meus vários empregos profissionais sem me sentir por completo uma parte do mundo que habito", disse ela, acrescentando que, em relação às suas realizações, "eu estava sempre olhando por cima do ombro e perguntando se estaria à altura.
Diabética de nascença e por isso obrigada a tomar insulina diariamente, este é aliás um dos factores que suscitam algumas apreensões quanto à sua longevidade e aptidão para o cargo.
Segundo o New York Times, alguns advogados descreveram os seus modos em tribunal como bruscos, mas muitos outros disseram em entrevistas que isso se deve apenas ao seu estilo directo de nova-iorquina. O juiz Martin Glenn, um veterano advogado de apelações que compareceu muitas vezes perante ela, refere que ela é amplamente considerada como uma excelente juíza. Acrescentou ainda que os advogados geralmente a vêem como uma representante do que chamam de "magistratura quente", significando com isso que as perguntas chegam rápidas e veementes, e os advogados devem estar perfeitamente preparados para elas
Este constitui mais um exemplo de um país extraordinário que reconhece os seus melhores, proporciona-lhes condições para produzir e para criar e premeia o mérito e o esforço.