segunda-feira, 4 de maio de 2009

“Assalto ao Orçamento”

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Vivemos, como é sabido, uma das mais graves crises dos últimos cem anos. De forma generalizada, uma crise nascida nas economias mais desenvolvidas está a provocar uma verdadeira avalanche sobre as economias mais dependentes, menos auto suficientes e mais rígidas.

Portugal está a afundar-se graciosamente no pântano do endividamento externo, da queda da produtividade, do aumento do desemprego, envolvido por um modelo de desenvolvimento económico esgotado, desadequado e inflexível.

Na passada semana Medina Carreira deu mais uma das suas desconcertantes e incómodas entrevistas, desta vez ao Correio da Manhã/Rádio Clube. Medina Carreira é um ser pensante, uma mente livre e aberta, descomprometido, inconveniente e pessimista permanente. Obriga-nos, mais uma vez, a pensar, abana o nosso conforto iludido. Se nos abstrairmos da sua tónica derrotista e pessimista militante, as suas preocupações, podendo parecer exageradas ou transmitidas com alguma crueza, não deixam de ser verdadeiras. Medina Carreira tem a capacidade da transparência e da clareza, fala-nos com simplicidade, vai ao encontro da nossa mediania de entendimento, é desassombrado, fala sem medos, sem pruridos e, por mais pessimista ou hiperbólico que seja é verdadeiro e a sua análise assenta em pressupostos realistas.

Portugal e os portugueses devem estar preocupados. A situação actual é preocupante e a ausência de alternativas e de soluções para enfrentar as dificuldades e, consequentemente, as perspectivas que se colocam, são deveras assustadoras. A minha formação de economista ajuda-me a centrar a análise no essencial e, apesar de me encontrar a léguas de distância do Dr. Medina Carreira, em conhecimento e experiência, partilho as suas preocupações e mais do que isso, a ausência de soluções fáceis ou paleativos acessíveis para Portugal e para os portugueses. Antecipo com muito receio os próximos anos e temo pela qualidade de vida, pelo emprego e pelas finanças de Portugal. Temo pelo aumento exponencial da emigração e pela fuga do conhecimento e do saber, temo pela total ausência de esperança de uma geração inteira.

A persistência no modelo de desenvolvimento actual, a persistência na alavancagem de gastos públicos sumptuosos e inconsequentes terá consequências tremendas para nossa situação económica e para o nosso equilíbrio financeiro e social.

Conforme refere Medina Carreira “...nós estamos a gastar 110, 111 e estamos a produzir 100. Para simplificar. O português está a produzir 100 euros por ano e está a gastar 110, 111 euros. Quer dizer que estamos a viver de empréstimos. (...) Estamos a viver acima das nossas possibilidades e por conseguinte, ou recuamos 10 por cento ou produzimos mais 10 por cento. É simples”.

Estamos num caminho em que eram 107 há uns anos, 108, agora andamos pelos 110 e vai sendo cada vez pior, em princípio, porque os juros que nós devemos no exterior são cada vez maiores. No limite a consequência é a mesma que é para mim ou para vocês se o banco não nos empresta dinheiro este mês. Ou se empresta só com um spread de 18 por cento”.

O que é que o País vai fazer? Que é aquilo para que estamos a caminhar. É para bater na parede. Uma das coisas que pode provocar um efeito traumático muito grande do ponto de vista política e social na nossa sociedade dentro de cinco, dez anos é a possibilidade de o crédito escassear. Nós estamos a ver hoje que as grandes dificuldades da nossa sociedade resultam do facto de os bancos não emprestarem”.
Deixo a entrevista de Medina Carreira ao Correio da Manhã/Rádio Clube que deve ser vista na íntegra:

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