domingo, 24 de maio de 2009

Até o Magalhães!!!

:

Começamos a habituar-nos às aldrabices, às falcatruas, às vigarices e à prática do “chico espertismo”, doença recente mas com raízes seculares. Não há dia em que não dêmos de caras com mais uma chico-espertice. Desta vez, é o tão apregoado e publicitado computador Magalhães. A nossa jóia tecnológica, o expoente da nossa revolução simplex. Finalmente, uma entidade idónea vem dizer-nos que esta máquina miraculosa é o resultado de um processo ilícito e ilegal. Uma fraude económica de mercado, um atentado à livre concorrência, uma promoção propositada do tratamento desigual e um incentivo despudorado à falta de transparência.

Segundo o Semanário Sol, a Comissão Europeia considera que o computador Magalhães é ilegal e resulta da violação das leis da concorrência, uma vez que o Governo avançou para esta empreitada com contratos por ajuste directo. O tratamento desigual entre empresas leva Bruxelas a considerar que faltou transparência na forma de agir de Portugal.

“A Comissão Europeia (CE) considera que Portugal infringiu as leis comunitárias da concorrência ao adjudicar por ajuste directo, e não por concurso público, todos os programas governamentais ligados ao Plano Tecnológico da Educação. Está em causa a distribuição gratuita ou a preços reduzidos de mais de um milhão de computadores a alunos e professores – incluindo os 500 mil ‘Magalhães’ que o Executivo de José Sócrates prometeu distribuir pelos alunos do 1.º Ciclo.

As conclusões da Comissão liderada por Durão Barroso são preliminares e fazem parte da chamada fase pré-contenciosa da acção. Esta foi instaurada por incumprimento de Portugal da directiva 2004/18/CE (norma que regula a contratação pública na UE, de forma a assegurar a livre circulação de bens e serviços no Mercado Único Europeu). O processo nasceu de uma queixa apresentada pela empresa Accer na Direcção-Geral do Mercado Interno.” (Semanário Sol)

:

Continuam os exemplos indecorosos, a que nos temos vindo a habituar, continuam as medidas dúbias e enviesadas. Como poderemos nós incutir ética, princípios e moral a este nosso povo inculto e permeável, quando todos os dias os nossos mais altos representantes democráticos nos premeiam com exemplos deste teor?!

Na realidade, e contrariamente ao que muitos possam pensar, esta ideia brilhante do Magalhães não nasceu em Matosinhos, na J.P Sá Couto.


Em 2004/2005 Nicholas Negroponte, fundador do Media Lab. do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e criador da organização sem fins lucrativos, One Laptop Per Child (OLPC), desenvolveu um computador, um laptop barato e leve, cujo objectivo era chegar a crianças entre os 6 e os 12 anos, em países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento.




“O XO é feito com software livre e open-source. O nosso compromisso com a liberdade de software dá às crianças a oportunidade de usar os seus laptops segundo as suas próprias regras. Ainda que não esperemos que cada criança se converta num programador, não queremos impor um limite àquelas que queiram modificar suas máquinas. Usamos formatos open-document pela mesma razão: a transparência dá poder. A criança — e seus respectivos professores — terão a liberdade de reformar, reinventar e reutilizar o seu software, o seu hardware e o seu conteúdo.” (One Laptop per Child (OLPC))

Negroponte veio revolucionar este mercado, fazer um ataque frontal à indústria de tecnologia, que tem no motor da inovação, de softwares com mais e mais recursos e de hardware mais velozes, o seu modelo lucrativo de negócios. Viaja pelo mundo, fala com chefes de estado, ministros, empresários e banqueiros, dá conferências, participa em encontros e palestras, sempre com o propósito de divulgar este seu produto, alcançando mais uma vez, uma divulgação e uma penetração extraordinárias do modelo americano e um tributo, sem precedentes, ao conhecimento e à educação. Deixo este video de uma palestra de Negroponte sobre a sua história e sobre o produto que criou:


Sem comentários: