A Irlanda, que se encontra numa situação bastante delicada em termos económicos e financeiros, tomou uma medida que deve constituir uma boa prática de gestão e ser seguida por outros países, em particular, pelo nosso governo.
É conhecido o prazo médio de pagamentos elevadíssimo que o estado pratica para gerir as suas dívidas a fornecedores. Na realidade, esta tem sido uma das principais razões para a asfixia de muitas empresas que com ele lidam. Apesar das indicações em contrário e das boas intenções deste governo em diminuir este prazo, isto não tem acontecido, persistindo ao invés, prazos elevadíssimos e demoras intermináveis no pagamento a fornecedores.
Segundo notícia do Jornal de Negócios, o Governo irlandês prepara-se para, a partir de 15 de Junho, reduzir para metade, ou seja, para 15 dias, o prazo máximo de pagamento aos seus fornecedores, num esforço para aumentar a liquidez nas tesourarias das empresas e atenuar os efeitos da recessão. Em Portugal, segundo informações do Ministério das Finanças, o prazo médio de pagamento das entidades públicas em 2008 foi de 84 dias.
“Segundo a associação irlandesa de PME, o Estado demora, em média, 69 dias para pôr em dia as suas contas. A legislação actualmente em vigor, que data de 1997, fixa em um mês o prazo máximo de pagamento, ultrapassado o qual as empresas podem exigir o pagamento de juros de mora, à taxa de 11% ao ano.” (Jornal de Negócios)
A Irlanda, que durante vários anos foi uma referência em termos de política económica e de modelo de desenvolvimento, vive actualmente uma situação muito complicada. A economia irlandesa, muito aberta ao exterior e com um mercado interno de apenas 3,5 milhões de consumidores, encontra-se extremamente dependente das trocas comerciais e as exportações de bens e serviços representam quase 80% do Produto. Nos últimos anos, a Irlanda tem assistido a um acelerado ritmo de crescimento, quer em termos de produto, quer em termos de produtividade, devendo-se estes elevados níveis de desenvolvimento às políticas para atrair investimento externo, nomeadamente a sua agressividade fiscal.
A Irlanda, que já foi uma das economias europeias, com as mais elevadas taxas de crescimento, entrou em recessão em Setembro de 2008, antes de muitos outros membros da União Europeia. Desde então, o desemprego disparou. Em Janeiro, 326 mil pessoas estavam recebendo seguro de desemprego, o número mais alto desde 1967, quando a estatística começou a ser compilada.
Segundo o Presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, "A situação da Irlanda é ultra difícil", porque este país "vê-se confrontado com uma severa contracção da sua actividade económica". Mas "aplaudimos os esforços recentes que foram empreendidos pelo governo" irlandês "para se envolver na via de consolidação das finanças públicas", acrescentou, considerando que "as decisões tomadas são corajosas".
O governo irlandês anunciou em Abril uma série de aumentos de impostos e de cortes nas despesas para diminuir o défice público, que atingiu 7,1% do PIB em 2008, o nível mais elevado na União Europeia. Nas suas previsões económicas mais recentes, a Comissão Europeia aponta para uma contracção de 9% da economia irlandesa, este ano, e prevê que o défice atinja 12% em 2009 e 15,6% em 2010.
Independentemente da delicadeza da situação e da necessidade de medidas radicais, nomeadamente a subida dos impostos, os Irlandeses possuem uma margem importante para o fazer, contrariamente a nós portugueses, que possuímos uma das mais elevadas cargas fiscais do mundo.
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