A propósito de um artigo extremamente interessante, do passado fim de semana, no Washington Post. Partilho uma história que se passou no dia 4 de Novembro de 2008, dia das eleições americanas. A convite da Comissão Fulbright fui passar a noite de eleições num “gathering” para bolseiros e estudantes estrangeiros, em Washington DC.
Esta iniciativa tinha o patrocínio de uma conhecida “law firm” de DC e contou com a presença de pessoas das mais variadas proveniências e com as mais diversas formações. Chovia copiosamente e o frio cortante convidava a ficar em casa a assistir em directo ao espectáculo de informação que constitui a televisão americana em noite de eleições. Mas Anderson Cooper não me seduziu e sucumbi ao apelo da emoção. Nada como viver “in loco” um acontecimento com esta dimensão histórica.
Apanhei o metro e saí em Dupont Circle, caminhei ainda durante dez minutos debaixo de uma chuva intensa mas convicto de que tinha tomado a opção certa.
Uma vez chegado ao local deparei-me com uma pequena multidão de estudantes efusivos e em ameno convívio; cerveja, pizzas e outros "apetizers" à disposição dos participantes. O grupo encontrava-se numa sala grande rectangular tendo como fundo um projector gigante com a emissão da CNN.
Enquanto Campell Brown ouvia os seus convidados, a assistência dialogava e ia confraternizando entre cervejas e amendoins, antecipando-se uma noite de grande festa, uma vez que o predomínio de apoiantes de Obama era notório.
Enquanto me encontrava neste processo de adaptação ao ambiente, meti conversa com um casal de orientais que me pareceram os mais comedidos nos festejos da vitória que já se antecipava. Os orientais são sempre simpáticos e risonhos e este casal não fugia à tendência.
Fiquei a saber que ambos eram “visiting scholars” na Maryland University. Ela a terminar um doutoramento em economia e professora de Economia Internacional na Universidade de Pequim e ele arquitecto e consultor de planeamento urbano na cidade de Chuzhou, sendo ainda professor de Urbanismo na Universidade de Tsinghua. Encontravam-se em Washington DC há menos de um mês e estavam fascinados com a cidade, com as pessoas, com o sistema e com as universidades.
Conversei, longamente, com Xiangmin Guo que de forma aberta me falou sobre o modelo Chinês, sobre as mudanças que se têm vindo a operar na China, sobre as universidades Chinesas e sobre o fascínio que, cada vez mais, representam os Estados Unidos e o modelo americano para as gerações mais novas da China pós Mao.
Falamos de urbanismo, de política, de modelos políticos e de como o fascinava o modelo político americano de pesos e contrapesos; a possibilidade de coexistirem duas Câmaras e um Presidente era algo que o atraia grandemente. Apesar de partilhar o processo de funcionamento chinês, conseguiu relatar situações sem a emotividade que eu esperaria, o peso do sistema é avassalador. Colocou-me variadas questões sobre o sistema presidencialista e partilhei com ele as impressões sobre o nosso modelo parlamentarista.
Da nossa conversa registei a influência que os Estados Unidos e o seu modelo capitalista de desenvolvimento exercem sobre os chineses. E a corroborar este facto o aumento exponencial de estudantes chineses a ingressarem nas universidades americanas. A mulher, cujo nome não me recordo, também ela uma bolseira da Fulbright contou-me que para uma bolsa Fulbright existem mais de dez mil candidatos.
Na realidade e segundo o Washington Post, têm sido milhares as candidaturas às universidades americanas e, apesar de terem aumentado significativamente o número de inscritos, o processo de selecção torna-se cada vez mais rigoroso e apertado, o que permite a selecção dos melhores entre os melhores. Mais uma vez, os americanos conseguem atrair os melhores cérebros do mundo e formá-los à luz do seu modelo de desenvolvimento.
A Universidade da Virgínia constitui um bom exemplo desta realidade, o artigo do Washington Post Post é elucidativo:
“A decade ago, 17 Chinese students applied to U-Va. Three years ago, 117 did. This year, the number was more than 800 out of almost 22,000 candidates -- so many that admissions officers had to devise new ways to select from the pool of strong applicants.
Chinese students' growing interest in U-Va. is partly a result of the school's outreach and strong reputation. But even some schools that don't recruit in China have seen a rapid increase in applicants.
Until fall 2007, the number of Chinese undergraduates in the United States had held steady for years, at about 9,000, according to the Institute of International Education, which promotes study abroad. But that year, it jumped to more than 16,000”.
A este propósito gostava ainda de partilhar um artigo, muito interessante, no Courrrier International, deste mês, sobre o desemprego na China. Este fenómeno de origem recente constitui um motivo de preocupação para o país e para o mundo ou não estivessemos a falar de vários milhões de desempregados, com baixas qualificações, reduzida formação e sem recursos suficientes para retomar a labuta agrícola que entretanto abandonaram. Recomendo o artigo uma vez que nos dá uma perspectiva bastante realista da situação actual na China.
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